Capítulo XXIII - A Última Dança

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Cenas do meu filme em branco e preto
Que o vento levou e o tempo traz
Entre todos os amores e amigos
De você me lembro mais

In My Life [Johnny Cash] - Minha Vida [Rita Lee]

***

Naquela tarde pós-prova e que marcava o último dia do meu último ano letivo, eu peguei algumas ruas estreitas, todas de pedras e com construções rústicas, e no final de uma delas vi a enorme Igreja de St. Mary. Minha mãe sempre foi uma mulher religiosa, diferentemente de mim e meu pai, que mesmo assim nunca deixamos de acreditar em Deus. Eu cresci frequentando aquela igreja, mas depois que minha mãe morreu minhas visitas se tornaram escassas.

A igreja St. Mary era muito semelhante a todas as construções de Rye, era revestida de pedras e com portas de madeiras. Naquele horário ela estava vazia e silenciosa, parada na porta da igreja eu ouvia apenas o canto dos pássaros nos arredores. Quando eu entrei senti uma paz agradável. Caminhei até a primeira fileira de bancos e aproveitei que estava sozinha para me ajoelhar, unir minhas mãos e agradecer.

Agradeci pelo meu pai. Agradeci pelo meu ano, que mesmo tão atribulado, me deu várias coisas boas. Agradeci por Éron. Agradeci pelos meus amigos. Agradeci pelas minhas cartas de recomendação. Agradeci por eu nunca ter desistido mesmo quando quis muito. Agradeci pelas oportunidades. Agradeci pela força. Eu não queria pedir nada naquele dia, mas eu precisava. Eu iria pedir para que Cambridge me aceitasse, mas havia algo maior no meu coração. Pedi por Éron. Minha respiração descompassou e eu chorei baixinho, quando cansei me sentei no chão, com o rosto nas mãos. Mas ainda era um choro sem alarde. Ouvi um ruído perto da entrada da igreja e num súbito estalo eu me levantei e limpei o rosto. Quando eu me virei, o Padre estava saindo do sacrário e atrás dele vinha Éron. Ambos iluminados pelo sol que atravessava a porta da casa de Deus. Limpei de novo as lágrimas do meu rosto e de longe notei que meu namorado fazia o mesmo. Ajeitei minha mochila no meu ombro e caminhei até eles.

— Lílian! — o Padre sorriu quando me viu.

Sua batina era esverdeada. Desde pequena eu o conhecia, seu nome era Edward.

— Olá, Padre. — eu sorri sem graça e olhei Éron.

Ele estava surpreso por me ver, suas sobrancelhas franziram-se, mas ainda sim ele esboçou um sorriso.

— O que faz aqui? — ele perguntou confuso.

O Padre nos olhou.

— Eu já vou. Mande lembranças ao seu pai. — o Padre tocou no meu ombro e se afastou.

Eu e Éron saímos da igreja lado a lado.

— Eu vim agradecer. — respondi. — E você?

Éron pegou minha mão enquanto nós saímos das dependências da igreja, eu a apertei com força e começamos a caminhar devagar.

— Eu vim pedir perdão. — ele disse com um sorriso de lábios.

Éron me olhou de soslaio e segurou uma risada perante minha expressão incrédula. Torci o nariz um pouquinho.

— Você estava se confessando? — perguntei.

Ele assentiu. Eu não gostava da ideia de confessar meus pecados mundanos a outro mundano – o Padre. Embora eu tenha crescido o vendo ser um excelente líder religioso, eu ainda achava invasivo e desnecessário esse ritual de perdão e punição.

— E as cartas de recomendação? — Éron mudou de assunto.

Eu sorri e comecei a espremer meus olhos, o sol estava subindo.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora