Nada nessa vida é uma coisa só.***
Eu fechei os olhos devagar. Eu não me lembrava a última vez que eu tinha beijado alguém, provavelmente tinha sido no último verão. Rafael passou a mão pela minha cintura e me aproximou mais, e eu o beijei de volta. E para variar, eu estava morrendo de medo. Quando nos soltamos, ele beijou minha bochecha novamente, passando a mão pelo meu cabelo.
— Eu preciso entrar. — sussurrei como se não estivéssemos sozinhos.
Rafael sorriu com os lábios, me dando mais um beijo rápido.
— Até amanhã, Lily. — ele acariciou minha mão e a beijou devagar.
Depois Rafael deu as costas e começou a andar devagar, descendo a rua. Eu fiquei alguns minutos apoiada no portãozinho da entrada do jardim da minha casa, olhando para o chão. Eu estava com meu corpo eletrizado, eu podia sentir literalmente pontinhos de choque me percorrendo por inteiro. Eu havia sido beijada. Passei a mão pelo meu rosto, ajeitei a mochila nas costas, respirei fundo e entrei. Atravessei o jardim, aspirando o bom cheiro das flores e quando cheguei à varanda, lá estava Éron, sentado numa cadeira de balanço vinho, lendo, o que pra mim foi no mínimo estranho, a Bíblia. Quando eu pisei na varanda, ele levantou os olhos por cima do livro sagrado e me olhou através das lentes grossas de seus óculos pretos.
— Agora você usa óculos? — cruzei os braços e o olhei incrédula. — E é um homem de Deus?
Apontei para a Bíblia. Ele fechou o livro e o colocou em seu colo, e tirou os óculos.
— Sempre precisei de óculos pra ler. Eu só uso lentes na escola e se quer saber estou quase farto delas. — disse Éron com impaciência e depois olhou o livro sagrado de relance. — Não sou digno de ser um homem de Deus.
Eu o observei brevemente, sua expressão rígida trazia um ar diferente.
— Ah, boa tarde, Éron. — dei de ombros e segui pela porta da frente.
— Um poeta? — ele levantou-se da cadeira deixando a Bíblia nela. — Sério, Lílian?
Parei na soleira da porta e me virei para Éron, com as sobrancelhas arqueadas.
— Do que você está falando? — indaguei.
Éron soltou sua típica risada debochada, mas desta vez com um quê de estresse e exaustão.
— Eu tive uma visão privilegiada de você e do seu namorado na porta de casa. — Éron engrossou a voz.
Caminhei em passos pesados até ele olhando-o nos olhos.
— Da minha casa, você quer dizer! — quis gritar, mas me controlei.
Ele praguejou me dando as costas e passando as mãos pelos cabelos.
— Você é muito egoísta, garota! — ele enfatizou.
Quando Éron virou-se para mim novamente suas bochechas queimavam em vermelho. Ele estava me encarando, respirando pesado e devagar.
— Mas é a minha casa! Você está reclamando por que me viu com alguém na droga da porta da minha casa. — desta vez gritei, apontando-lhe dedo. — Você é um imbecil que não faz sentido nenhum! Nunca!
Éron mordeu os lábios parecendo se segurar para não gritar. Eu poderia apostar que alguns vizinhos estavam ouvindo.
— Então talvez eu devesse ir embora. — ele pegou a Bíblia.
Respirei fundo.
— Talvez devesse ir mesmo. — cruzei os braços. — Não sei por que está aqui afinal.
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As Treze Rosas Brancas
RomanceEste livro conta a história de um jovem a princípio problemático que, obrigado pela mãe que o negligencia, se muda para o interior da Inglaterra para morar com um bom homem que é pai da afilhada de sua mãe. E conta sobre uma garota amada e talentosa...