Capítulo XXI - Os Dezoito Anos de Lílian Katarina

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"... But, dear, cling close to me; since you were gone,
My barren thoughts have chilled me to the bone."

William Butler Yeats

***

Dia dezoito de setembro havia chegado mais rápido do que eu esperava. Eu gostava de fazer aniversário, mas naquele ano totalmente atípico eu sequer tinha me lembrado da data quando o nono mês do ano chegou.

Éron estava um pouco melhor. Seu rosto estava mais sadio e as dores mais amenas, pelo menos era isso que ele me deixava saber. Mas ele ainda estava fora do time de lacrosse. Suas tosses corriqueiras ainda estavam presentes e eu desconfiava que ele ainda estava sofrendo com os calafrios noturnos. Tudo o que eu vinha tentando fazer era o que Éron me pedia, o que parecia ser simples, mas pra mim não era: eu tentava não pensar que seu coração estava ferido. Eu queria muito estar falando isso no sentido conotativo da palavra, mas não, era real. As válvulas cardíacas de Éron, que revestiam seu coração, estavam afetadas por bactérias que ele adquiriu com seus maus hábitos.

Eu estava no meu quarto terminando de me vestir. Eu e Éron íamos nos encontrar com Maya, Alex e Bárbara — nossos amigos — numa casa de chá que havia na cidade: The Cobbles Tea Room. Era um lugar novo e eu estava ansiosa para experimentar. Chamamos meu pai, mas ele disse que esse era o momento dos jovens se divertirem e que faria um bolo bonito para comermos depois do jantar. Olhei o relógio e era quase sete horas da noite. Terminei de calçar minha sandália de tiras e saí do quarto, ou tentei pelo menos. Quando peguei na maçaneta e a girei, a porta não abriu. Eu estava trancada. Ouvi ruídos vindos da sala.

— Pai! — gritei com a voz trêmula. — Éron!

Minhas mãos começaram a suar e continuei remexendo a maçaneta. Não ouve nenhuma resposta. Comecei a bater na porta em baques surdos contínuos.

— Ei! — gritei mais.

Ouvi algumas risadas e me afastei da porta. De repente ouvi um tilintar estranho, a maçaneta da porta do meu quarto foi girada e a porta aberta. A primeira coisa que eu vi foi o rosto de Alex. Ele riu e se afastou. A sala estava com a mobília fora do lugar, a mesa de centro havia sido tirada e o tapete também. No lugar dele estava a toalha de piquenique que eu usei com Éron e sobre ela tinha pratos, copos, uma jarra de suco, pães doce, salgadinhos e alguns doces.

— Surpresa!

Maya e Bárbara gritaram. Éron estava parado um pouco atrás delas usando uma blusa branca e seus óculos de armação negra. Eu comecei a rir.

— A ideia foi minha! — Bárbara exclamou saltitando até a mim e me dando um abraço apertado.

Eu sorri e a abracei com força, logo sentindo Maya nos envolver com seus braços também. Quando as soltei, olhei bem fundo em seus olhos a fim de guardar seus rostos pra sempre comigo.

— Todos nós ajudamos, certo? — Alex falou impaciente enquanto sentava-se na toalha e experimentava uns doces.

Maya deu uma risada e foi sentar-se ao seu lado, Bárbara a seguiu.

— A ideia da surpresa foi da líder de torcida sim, mas a de te trancar no quarto foi minha. — Éron disse com orgulho.

Eu sorri com os lábios. Soltei uma exclamação quando ele me pegou pela cintura e me girou no ar devagar.

— Você está proibido de ser clichê desse jeito. — eu reclamei entre risadas quando ele me pôs no chão.

Achei que Éron fosse me beijar quando ficamos tão próximos naquele segundo, mas na verdade ele me abraçou, um abraço de encaixe absurdamente perfeito, segurando cada pedaço de mim e cheirou meu cabelo devagar.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora