Capítulo XV - As Coisas Que Nos Acometem

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Two corpses we were. Two corpses I saw.

Hozier

***

Parte II: A Tragédia

O sol bateu no meu rosto e eu despertei. Eu e Éron estávamos na mesma posição de quando dormimos. Afastei-me devagar e me sentei bocejando e passando a mão pelo meu cabelo emaranhado. Levantei devagar e em silêncio para não acordar ninguém. Subi em passos leves até o quarto da Bárbara, peguei minha bolsa e não sem antes dar uma olhada na foto que a tinha dado, eu desci. Quando voltei à sala, Éron estava de pé, com a chave da sua moto em mãos.

Nós nos olhamos e eu não sabia o que fazer. Não sabia se a noite anterior nunca mais se repetiria, se as coisas ditas ainda eram verdade e se nós iríamos juntos pra casa. Eu estava feliz, mas com um imenso ponto de interrogação dentro de mim.

— Devemos ir logo, seu pai está nos esperando. — ele disse simplório e eu apenas assenti. — E não sei se ele está de bom humor.

Antes de sairmos da casa de Bárbara, mandei uma mensagem para o celular dela avisando que saímos mais cedo. Quando estávamos do lado de fora, olhei a moto do Éron e depois o olhei sentando nela.

— Você não vai subir? — ele perguntou.

Eu subi, segurando-o nos ombros.

— Quantas garotas você já carregou aqui? — questionei.

Ele riu com fraqueza.

— Você é a primeira. — ele disse sucinto. — Mas todas as outras me abraçaram, acho que elas sentiram medo.

Eu ri e Éron ligou a moto. Desci minhas mãos e o envolvi, abraçando-o. Quando demos partida, eu senti um tremor. Nunca tinha andado de moto antes e quando eu notei que não usávamos capacete fiquei apreensiva. Mas Éron não estava correndo e eu não tinha medo quando estava perto dele. Era diferente dos sentimentos de amor que eu lia em livros ou via em filmes. Dizem que quando se está perto da pessoa amada é como se nada no mundo pudesse jamais te machucar. No meu caso, tudo no mundo que poderia me machucar — ele — está bem ali, tão perto. Mal vi quando paramos e já estávamos na porta de casa. Desci e rapidamente ajeitei meu cabelo num coque.

— Precisa de um capacete. — falei.

Éron deu os ombros. Abrimos o pequeno portão em silêncio e atravessamos o jardim, quando paramos na varanda em frente à porta nos olhamos. Acho que ambos estávamos com o mesmo desejo de não deixar meu pai sequer desconfiar do que estava acontecendo. Mas a boa pergunta era: o que estava realmente acontecendo?

Éron tocou minha mão e apertou meus dedos, depois me deu um leve beijo nos lábios. Respirei fundo.

— Acha que ele está acordado? — perguntei.

— Definitivamente.

Entramos em casa e fechamos a porta devagar. Atravessamos o pequeno corredor até a sala. A casa estava com cheiro de café e havia barulho na cozinha, quando estávamos prestes a entrar nela, soltamos nossas mãos. Papai estava sentado em seu lugar habitual, com o jornal na perna e bebericando seu café. Meu pai não era muito velho, mas o pouco cabelo que tinha já estava ficando cinza e era inegável as marcas de idade que carregava. Ele passou seus olhos verdes por nós, demorando um pouco em Éron e depois em mim. Papai levantou-se, deixou sua xícara vazia na pia e nos encarou novamente.

— Você não ligou. — ele me olhou e depois olhou Éron. — Você não me atendeu.

Éron tirou o celular do bolso e acendeu a tela, ela brilhou com seis ligações perdidas.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora