Capítulo XXVI - A Liberdade de Éron Philip

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"Silêncio.

Se um dia Deus vier à terra haverá silêncio grande.

O silêncio é tal que nem o pensamento pensa.

O final foi bastante grandiloquente para a vossa necessidade? Morrendo ela virou ar. Ar energético? Não sei. Morreu em um instante. Um instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc. etc. etc. No fundo ela não passará de uma caixinha de música meio desafinada.

Eu vos pergunto:

— Qual é o peso da luz?

E agora — agora só me resta acender um cigarro e ir pra casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas — mas eu também?!

Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.

Sim."

A Hora da Estrela, Clarice Lispector.

***

Eu li a mensagem três vezes seguidas e bloqueei o celular. Eu não terminei de cruzar o grande salão e sem pensar duas vezes, eu dei as costas à tudo que aquela reunião me garantia e corri. Acredito que quem me viu correndo pelo campus da universidade deve ter pensado que eu estava ficando louca. Eu deixei a reunião sem nem mesmo ter tido meu nome chamado ou me despedido da minha amiga, Antonella. Não apenas deixaria de me despedir, mas também sumiria sem deixar nenhuma explicação a ela. Abri a porta do nosso alojamento provisório com brutalidade, não de quem está com raiva, mas de quem está por um fio. Eu me sentia por um fio, com um desespero devastador dentro do peito. O algoz que habitava minha mente e minha alma me fazia sangrar e não ver sequer onde estava ferido. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo em casa, mas eu senti a energia do meu pai nas suas palavras. Parei no meio do quarto por um segundo, precisando puxar o ar com força por que eu estava quase sem oxigênio.

Colei um post-it amarelo na mala da Antonella com meu número e um bilhete:

Muito obrigada. Boa sorte com tudo. Por favor, me ligue.

Peguei minha mala de rodinhas e fechei a porta, deixando a minha chave em cima da cama. Eu corri para fora da Universidade de Cambridge enquanto arrastava minha mala e fazia um barulho irritante sobre as pedras. Várias coisas passavam pela minha mente e ao mesmo tempo eu não conseguia pensar em nada, nem mesmo no que eu estava fazendo, no sonho que eu estava jogando fora ao tomar a decisão de não comparecer quando chamassem por Lílian Katarina Sinclair Morris naquele grande salão. Pensei em como Antonella ficaria quando notasse que eu não voltei quando disse que retornaria em um instante. Apertei os olhos e continuei a correr.

Volte para casa imediatamente.

A mensagem do meu pai não parava de se repassar em minha mente. Eu atravessei os grandes portões da Universidade, olhei pra trás em um curto segundo, vi a bela construção gigantesca e o jardim que a cercava. Pedi perdão a mim e saltei no primeiro táxi que estacionou na calçada próxima. Quando eu me acomodei notei que estava muito suada e eu não conseguia respirar de forma uniforme.

— Para a estação de trem, por favor. — falei com o motorista em meio à arfadas.

Ele assentiu e começou a dirigir. Eu não conseguia ficar parada. Minhas mãos batucavam em minhas pernas que estavam trêmulas e moles. Liguei para o meu pai seis vezes, seu celular estava desligado. Massageei meu peito e roí todas as minhas dez unhas da mão. O motorista me olhou através do retrovisor dianteiro.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora