Capítulo XII - Ambivalência

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"Como é tão fácil pra você ser gentil com as pessoas?" ele perguntou.

Leite e mel pingaram dos meus lábios quando eu respondi.

"Por que as pessoas não têm sido gentis comigo."

Milk and Honey.

***

Assim que ouvimos meu pai se remexer no sofá da sala, nós nos soltamos abruptamente. Mas havia uma energia estranha pairando no ar. Um magnetismo. Eu poderia perceber o ar se movimentando de modo diferente ao nosso redor. A lua pareceu ficar mais branca do lado de fora, mesmo que eu não pudesse vê-la.

Demos um passo pra trás e ao passo que tínhamos medo de levantar nossos rostos, ficamos tentados a nos encarar. Aquele momento era a ambivalência perfeita. Respirávamos pesadamente e descompassados.

— Eu...

Éron começou a balançar a cabeça negativamente, o que me interrompeu. Ele pôs as duas mãos na cabeça e fechou os olhos com força, balbuciando baixinho para si mesmo. Ele abriu os olhos e me olhou assustado.

— Lílian, eu sinto muito. — ele sussurrou, andando para trás. — Muito mesmo.

Éron deixou a cozinha. Eu me sentei à mesa, apoiei meus cotovelos nela e segurei meu rosto com as mãos. Respirei fundo e chorei. Meu corpo indubitavelmente eletrizado me implorava para abrir a porta do quarto do Éron e beijá-lo para sempre. Mas meu cérebro não entendia por que ele me pedia perdão por me fazer feliz como eu não ficava há muito tempo.

Arrastei-me até meu quarto e quando me deitei na minha cama, toda aquela noite, desde o momento em que Genevra pisou em nossa casa até o momento efêmero na cozinha, ficava se repetindo na minha mente sem parar. Fiquei olhando minha janela com riscos da chuva por horas, eu não dormi.

***

Já era de manhã e minhas olheiras estavam enormes. Tomei um banho gelado, escovei meus dentes e coloquei uma roupa qualquer. Olhei meu celular e vi algumas mensagens de Maya, mas sequer uma notícia de Bárbara. O aniversário dela já era no próximo final de semana e sempre que eu pensava nisso meu coração se apertava mais e mais. Toda a situação da Bárbara, somada à noite anterior e ao Rafael, me fazia querer ficar deitada para sempre. Ainda havia um bônus: minha malquista madrinha estava, naquele momento, sentada à mesa de café da manhã. No lugar da minha mãe. Eu teria a pior manhã possível.

— Bom dia, querida. — papai sorriu quando me viu entrar na cozinha.

Papai, Genevra e Éron, os três estavam sentados à mesa, em seus respectivos lugares do dia anterior. Coloquei minha mochila jeans na minha cadeira.

— Bom dia. — dei um pequeno sorriso geral. Um falso sorriso.

Tudo o que eu menos queria naquela manhã era sorrir. Éron sequer me olhou, mas eu o olhei, por longos segundos enquanto ele permanecia de cabeça baixa. Peguei minha chaleira e a enchi de água, pondo-a no fogo.

— Katarina, eu lhe trouxe um perfume incrível! — madrinha Genevra sorriu, bebericando seu café. — E Philip, eu trouxe algumas camisas novas e um tênis.

Éron assentiu.

— Obrigado. — ele limitou-se a dizer levantando-se. — A senhora vai embora hoje?

Genevra limpou os cantos da boca com um guardanapo.

— Sim, à tarde. Sei que sentirá minha falta e que eu não passei muito tempo...

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora