Capítulo II - A Festa no Lago

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"... Onde queres prazer, sou o que dói. E onde queres tortura, mansidão. Onde queres um lar, revolução. E onde queres bandido, sou herói... "

Caetano Veloso

***

A semana passou rápido. Na sexta, eu já tinha a maioria das listas de exercícios prontas e as páginas do livro marcas, lidas e relidas. Éron faltava na maioria das aulas, eu sempre o encontrava pelos jardins ou nas escadas lendo alguma coisa, escutando música ou até mesmo cochilando. Eu nunca o via estudando em casa ou pelo menos abrindo sua mochila fora da escola, não que na escola ele abrisse.

— Você é inútil. — falei assim que entrei em casa e vi Éron esparramado no sofá, usando meias, enrolado em um cobertor grosso e assistindo reprise de How I Met Your Mother na televisão. — Você matou os dois últimos tempos de aula. De novo.

Ele resmungou alguma coisa e aumentou o volume da TV. Eu odiava como ele se sentia tão à vontade na minha casa, na minha sala. E o quanto era desleixado, despreocupado, abusado e idiota. Definitivamente o garoto me dava nos nervos. Deixei minha bolsa em cima da poltrona, soltei meus cabelos e fui seguindo pra cozinha, voltei de lá com um copo de suco e me sentei no sofá vazio, olhando a TV.

— Eu odeio esse seriado. — fiz careta e virei o copo de suco.

— E o que a senhorita não odeia? — ele riu debochadamente, seu tom de voz cheio de desprezo quando pronunciava "senhorita" me fazia questionar o porquê dele ainda me chamar daquele jeito.

Ignorei e terminei o suco, deixando o copo na mesa de centro.

— Aliás, você vai nessa festa do lago? — Éron perguntou com tom de desinteresse enquanto se remexia no sofá.

Assenti. A festa era naquela noite, uma tradição. E sendo uma das melhores amigas de Bárbara era quase um crime faltar a essa festa.

— Você não faz sentido. — ele pausou o episódio e se sentou no sofá, arrepiando os cabelos negros com a mão. — Você é tão cheia de si, de princípios, valores éticos, a perfeita moralista, a menina politicamente correta. O que uma personalidade dessas faz numa festa de gente bêbada e promíscua?

Revirei os olhos, me levantando do sofá.

— Eu não sou tão influenciável. Não vou mudar o que eu sou por que vou passar quatro horas numa festa. Inclusive, pessoas bêbadas e promíscuas não se resumem apenas à esses adjetivos pejorativos. Você é tão limitado. — estava começando a perder a paciência então apenas fechei os olhos por um instante e olhei Éron quando os abri. — Então sendo o menino anti-social e enojado, posso esperar não vê-lo lá então?

Minha voz já soava mais mansa.

— Com certeza não aparecerei. — Éron voltou a se deitar e recolocar o episódio.

***

A noite estava caindo, o sol se punha e algumas estrelas já eram visíveis. Eu estava torcendo pra ficar menos frio à noite considerando que eu ia a uma festa num lago e eu não poderia aparecer lá de calça jeans. Abri a janela e senti uma brisa fria entrar no quarto, ainda eram oito horas, a tendência era esfriar mais. Neguei de leve e fechei a janela, ainda assim eu iria àquela festa.

Nada de quebrar tradições, Lílian. A voz de Bárbara soou em minha mente dizendo estas palavras. Meio contragosto, eu vesti meu short curto com alguns botões prateados e detalhes bordados em vermelho. Combinei com um top vermelho por que provavelmente acabaríamos todos jogados no lago ao fim da festa e provavelmente morrendo de uma hipotermia severa. Joguei minha blusa tomara que caia preta por cima, passei meu batom vermelho, afaguei os cabelos e me olhei no espelho. Eu gostava de mim, considerando um todo. Eu gostava da minha aparência. Dei um sorriso.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora