Capítulo XXII- As Treze Rosas Brancas

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Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão

[...]

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

Geraldo Vandré

***

Eu tinha passado as últimas semanas desde o meu aniversário tirando foto de tudo o que era possível: flores, ruas, as grandes casas de Rye, meu pai, meus amigos, meu namorado. Eu também havia comprado um livro de fotografia e decidido que no próximo ano eu tentaria assistir a algumas aulas. Eu estava completamente apaixonada pela câmera que tinha ganhado de Éron no meu aniversário. Já era final de outubro e o ano estava no fim.

Éron estava instável. Alguns dias ele ficava esmorecido e em outros ele estava bem. Logo quando ganhou uns quilos, voltou a perdê-los, mas a palidez de sua pele agora era apenas a natural. Num dia corriqueiro nós estávamos deitados no sofá assistindo um filme quando Éron dormiu, e no meio da noite senti-o esquentar e o acordei devagar, quando ele abriu os olhos a primeira coisa que me disse foi que não estava conseguindo respirar. Eu lhe preparei um suco fresco e ele tomou um banho frio, melhorou um pouco logo depois e caiu num sono pesado. Mas naquela noite eu não consegui dormir.

Era um domingo à noite e eu estava sentada na poltrona da sala, dando os últimos reparos na recém terminada história de Dean e me preparando para entregá-la a Sra. Borgan. Eu estava escrevendo-a na bela agenda que Bárbara havia me dado no meu aniversário. Aquela semana que estava por vir era a última do meu terceiro ano do ensino médio, nós faríamos as provas finais e finalizaríamos a série. Eu estava satisfeita com isso e com as minhas médias, agora só precisava de uma boa carta de recomendação e então, com meu projeto finalizado, eu estaria pronta para concorrer pela vaga na Universidade de Cambridge. Sorri com aquele pensamento e quando terminei de escrever a história com uma letra cursiva bonita, eu a reli.

I — A Primeira Estação

Como um bebê deixado numa cesta à porta de alguém, Dean Stanford foi deixado, aos dezoito anos, à porta de um homem bondoso. Dean passou de garoto expulso de casa pela mãe para morador de favor, isso tudo em uma semana e dois dias.

À mãe de Dean lhe cabia os adjetivos: intragável; inescrupulosa; amargurada e intransigente. Ao homem bondoso, não de forma redundante, teríamos: bondoso, amoroso, complacente, singelo e nobre. Talvez seja muito cedo para entendermos os adjetivos de Dean, quando nem mesmo ele conseguia se entender.

Stanford é muito calado. Solta seus comentários ferinos e debochados quando ninguém está olhando. A menina sem nome não tinha medo das suas palavras, mas tampouco queria aproximar-se delas. Então, eles viviam em pontos extremos da mesma casa. A menina sem nome era da família do homem bondoso.

Os dias se passaram lentos e escuros. Dean perambulava pela nova cidade onde vivia e se lembrava da sua morada anterior, e se impressionava ao perceber que não tinha saudades de nada. Dean estava grato por que pela primeira vez achou apego e consolo debaixo do teto do homem bondoso. A menina sem nome ainda lhe era uma incógnita que ele mesmo que negasse, sabia que seria mais marcante que X ou Y.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora