Capítulo VI - Melhores Amigas Para Sempre

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"Torna-te quem tu és."

Nietzsche

***

— Onde esteve o dia inteiro? — minha voz estava mais clara.

Éron bufou com raiva.

— Não fui à escola. — ele não olhava em meus olhos e após me colocar na cama, ele foi ao banheiro.

Éron estava recolhendo as embalagens vazias de remédio do chão e as jogando fora. Por fim, deu descarga no meu vômito.

— Depois fui à loja e ajudei seu pai. — o rapaz completou com a voz raivosa e sentou-se na beirada da cama, ao meu lado. — Por que você está fazendo esta merda com você, Lílian?! Acha que é uma boa ideia de tentar chamar atenção?!

Éron dizia aquilo extremamente enfurecido, eu conseguia notar suas bochechas ferverem em vermelho. Ele estava irado comigo por eu me machucar, mas ao mesmo tempo me machucava falando aquelas coisas, daquele jeito. Senti vontade de chorar novamente, mas engoli as lágrimas. Sentei devagar e encarei Éron, me esforçando para não cair no choro. Então, lhe dei um tapa certeiro, e agradecendo que minha força estava voltando, o empurrei da cama e levantei. Eu me senti zonza e quase cambaleei, mas me equilibrei apoiando-me no parapeito da minha janela. Percebi que chovia.

Éron me olhou e eu pude perceber que ele estava caminhando numa linha tênue entre a inexpressão e o desespero, eu conseguia ler os traços do seu rosto variando rapidamente.

— Eu não estou tentando chamar atenção, Éron. — falei pausadamente, olhando-o nos olhos. — Eu odiaria que meu pai me visse assim novamente.

Felizmente minha voz estava mais clara e audível, eu já sentia meus sentidos se aguçarem e uma fome muito forte chegar. Ao me ouvir dizer "novamente", Éron arqueou as sobrancelhas devagar e tentou dizer alguma coisa.

— Sim, novamente. — reforcei minhas palavras. — Eu não sei por que minha madrinha expulsou você de casa, muito menos por que você estava gritando tão nervoso com ela pelo celular. Mas, presumo, que você não tenha muita paz, Éron.

Ele se levantou e ficou me olhando, desta vez sem brutalidade, mas como se me analisasse.

— Tem razão, não tenho. — ele foi monótono e seu rosto voltava à tonalidade normal, ainda tenso.

— Bom, nem eu. — esfreguei meu rosto e repousei as mãos nos meus olhos.

Respirei fundo, fechando meus olhos por alguns segundos. Aproveitei o silêncio. Eu queria jogar na cara de Éron as coisas que tinham me acontecido e perguntar como ele tinha coragem de me tratar daquela forma tão cruel. Mas eu estava cansada demais até para gritar com ele. Quando tirei as mãos do rosto e abri meus olhos, Éron estava mais perto de mim, mais do que antes, mais do que qualquer outra vez na qual eu não estivesse desacordada ou limpando sangue do rosto dele.

— Cheguei à escola e tinham fotos minhas espalhadas por todo lugar. — comecei a contar em sussurros como se nós não estivéssemos sozinhos. — Fotos do dia do lago. Aaron definitivamente não ficou nada satisfeito com o que eu falei pra ele, então, fez isso comigo.

Eu vi a expressão de Éron mudar gradativamente tão de perto. Seu rosto ficou avermelhado novamente e suas mãos cerraram simultaneamente ao tremor dos seus lábios. Ele se aproximou ainda mais de mim num impulso, mas não me tocou. Seu punho ia se levantar, mas ele o recolheu. Por mais que ele tivesse tirado sangue de Aaron uma vez, ele não me parecia um rapaz agressivo. Nós não tínhamos muita diferença de altura, ficávamos quase cara a cara naquela situação. Éron respirou fundo e desfez o punho, eu peguei sua mão devagar e a segurei com receio. Ele apertou sua mão na minha e me olhou.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora