As Treze Rosas Brancas

Capítulo XVII - Dean Stanford

A inumanidade que se causa a um outro, destrói a humanidade em mim.

Immanuel Kant

***

Após meus devaneios nada sadios sobre Éron trajando um uniforme esportivo, eu larguei minha mochila no sofá da sala e tirei meu tênis. Fui à cozinha e tirei uma lasanha congelada do freezer e a coloquei para cozinhar no aparelho de microondas. Sentei à mesa para esperar meu almoço extremamente industrializado ficar pronto. Meu celular apitou. Era, de forma incomum, uma mensagem do Éron.

Éron Philip, 13hrs12min

Vá ao treino de lacrosse.

Dei um sorriso de lábios singelo. Logo depois recebi uma mensagem do meu pai.

Papai, 13hrs13min

Filme se ele cair.

Gargalhei. Nós tínhamos a família mais incomum da pequena Rye. Agora eu finalmente conseguia enxergar Éron como família e compreender o sentido de que nós não precisávamos de um rótulo. Não era como se meu pai precisasse ser o pai, eu a filha e Éron um novo irmão. Nós éramos apenas pessoas que viviam juntas, com cumplicidade e amor. E definitivamente precisávamos de um gato. Ouvi um apito vindo do aparelho de microondas e peguei meu almoço que estava pronto. Devorei a lasanha com rapidez e tomei um copo de suco em duas grandes goladas. Estava quase na hora do treino, então escovei meus dentes com rapidez, calcei meu tênis e saí de casa.

Quando cheguei à escola, o treino tinha começado há cinco minutos. Quando entrei no campo que ficava na parte detrás da escola, eu quis rir. Éron estava no meio dele, terminando de colocar o uniforme com a ajuda do Alex. O time começou a se aproximar e eu adorava a ideia do time ser misto. Eram cinco meninas e cinco meninos. Maya era a capitã e jogava do meio de campo pra frente, geralmente fazendo as jogadas chaves que passavam a bola pro atacante, no caso agora quase Éron, que marcava o ponto. Quando ele me viu sentada na arquibancada, sorriu.

— E aí, galera. Esse é o Éron e ele vai treinar com a gente hoje. — Maya começou a falar olhando à todos e depois olhou o novato. — Como você pode ver, nós não somos tradicionais. Nosso time é misto, então não é permitido bodychecking.

Éron a ouvia com atenção e eu estava com cara de idiota por que não fazia ideia do que era um bodychecking.

— E para a leiga hoje presente que nunca veio ver sequer um treino da sua grande amiga. — Maya me olhou na arquibancada. — Bodychecking é o contato físico violento entre os jogadores, que é permitido no lacrosse masculino, mas não no feminino. Enfim, desde que adotamos a política do time misto e só competimos com escolas do mesmo ideal, nós não trabalhamos com essa técnica.

Assenti e Maya voltou ao seu time. Bárbara treinava com as meninas da torcida no campo vazio ao lado. Por um segundo eu me perguntei se eu devia me juntar à banda do colégio. O time já estava se organizando em campo.

— Peguem seus crosses e vamos! — gritou Maya e tomos se mobilizaram.

Imaginei que crosse fosse o bastão esquisito que eles usavam pra segurar a bola estranha deles, e realmente era. O time se organizou em campo e eles começaram simulando uma jogada. Maya roubou a bola — que pra mim parecia uma miniatura de uma bola de verdade — e veio com ela por todo o campo e a tocou para Éron que a pegou com facilidade, mas quando ia tocar para dentro da baliza guardada por Alex, Clarisse Perkins surgiu e eles ficaram num impasse pela bola, no qual a garota levou a melhor.

Eu observava aquilo como se fosse um jogo de verdade. Bom, era uma partida, mas os treinos só valiam as risadas que Bárbara dava quando Maya gritava com os colegas de time. A capitã recuperou a bola perto da baliza do adversário e foi a tocando pela lateral, quase a perdeu para Perkins, mas num toque rápido a posse de bola foi salva por Thomas Clapton, alto e forte, colocava medo em qualquer um, ele jogou a bola rasteira que deveria ter parado em Éron, mas novamente ficou aos pés da Clarisse. Éron a acompanhou com o olhar e correndo a alcançou por trás e travou a saída dela com seu crosse, recuperando a bola. Ele estava no meio de campo e com certeza havia ouvido Clapton gritar para ele devolver a bola, mas Éron ignorou. Passou pelo campo, levando algumas tombadas leves, mas levou a bola até à baliza do Alex, que se preparava para a defesa. Éron atirou certeiro e a bola acertou o fundo da baliza do goleiro titular. Maya ergueu os braços em comemoração, eu fiz o mesmo. A jogada parou e Alex pareceu decepcionado, mas logo sorriu para Éron.