Depois de mais uma tarde de entrega de curriculum pela cidade, Mark, Laís e eu paramos no final da tarde, no clube da Unifer, para fazer um lanche. Encontramos o restante dos adotados nos esperando na entrada do clube. Havíamos ligado para que eles fossem ao nosso encontro.
William e Fábio seguiram na frente, brincando de bater um no outro. Eles pareciam dois meninos amarelos arengando. Mark e Laís logo atrás deles, conversavam de braços dados. Brenno, Rebeca e eu os observávamos. Paramos na lanchonete. Depois de juntar duas mesas, nos acomodamos nas cadeiras de plástico.
- Os casos das enchentes no sul estão sérios. – Comentei olhando no jornal abandonado em cima da nossa mesa. - "Santa Catarina: seis cidades decretam situação de emergência após chuvas; 4.000 saem de casa. O número de pessoas afetadas nas 21 cidades atingidas passa de 45,7 mil. Outros 3.152 estão desalojados e 429 desabrigados. De acordo com o órgão, a chuva continua em SC nesta segunda-feira, com a formação e deslocamento de uma nova frente fria pelo Sul do Brasil. A chuva é persistente embora com menos volumes no Planalto Sul e Litoral Sul. Há risco de alagamentos e deslizamentos em todo o Estado, especialmente no meio-oeste, Planalto Norte, Vale do Itajaí e da Grande Florianópolis ao litoral norte onde a chuva está ocorre em maiores volumes".
- É somente o que rola na internet. – disse Mark.
- Um mo-monte de ge-gente desabrigada. – completou Laís – Ca-ca-casas, prédios e várias fá-fábricas debaixo da água.
- Por favor, gente, depois de uma tarde inteira ouvindo História do Direito, não aguento desgraças não. – falou Fábio.
- O Binho tem razão – Rebeca concordou – São tantas desgraças. Eu não aguento mais entrar a internet, pois é somente o que têm.
- Então vamos mudar de assunto e falar do encontro do Beto. – sugeriu William divertido.
- Ah! Não gente. – não gostei da sugestão.
- Melhor do que ver um monte de gente morrendo, sem poder fazer nada. – aceitou Fábio.
-E então Beto, preparado? – perguntou Mark, sorridente.
- Acho que esse não é um bom assunto.
- Qual é cara. A sua história está sendo a mais interessante de todas nós.
- Eu acho que não vou.
Confessei, notando que eles não se surpreenderam com a resposta. Até mesmo quando contei na semana passada que a menina havia aceitado a ideia do encontro e até escolhido lugar (O parque das plantas – O parque mais escuro e abandonado da cidade), eles ficaram surpresos e agora eles não mostraram nenhum tipo de reação.
- Vocês não vão dizer nada?
- A única coisa que vamos dizer é que você vai sim! – respondeu Rebeca convicta.
- Não vou não. – reafirmei.
- Pelo amor de Deus, Beto, por que você adora complicar tudo? – Fábio não escondeu a sua indignação.
- Parece até que vocês não me conhecem.
Na minha vida, o medo sempre predominou. Eu não conseguia entender qual era exatamente o motivo. Tanto que a promessa que Erin me fez prometer, foi que tentaria acabar com aquela síndrome. Uma coisa que só fez aumentar com a sua morte. Creio que se dava, ao fato de ter crescido, debaixo das várias brigas constantes, dos meus pais. Meu pai morria de ciúmes da minha mãe. Essa era até proibida de trabalhar, por ele. Não era a toa que o meu pai morrido de ciúmes dela, Ana Carla Ferreira, possuía uma beleza rara. Eu a considerava, a mulher mais bonita e elegante, de todas as nossas mães. Devido ela ser descendente de alemão. Então Tudo aconteceu de repente: Erin morreu, eu tive, meio que obrigado, a tomar o lugar dela de líder do nosso grupo, tomar decisões importantes como aquela de manter a promessa e viajar para Monte da Saudade às pressas. Mal tive tempo de parar e pensar em tudo o que havia acontecido em minha vida naqueles últimos meses. Na noite anterior, debaixo dos roncos de Jashon, fiquei pensando em toda aquela loucura. Um dia éramos ameaçados e no outro incentivados. Em qual tipo de loucura estávamos nos metendo? William e Fábio arrombando um prédio e sendo perseguidos pela polícia. E o pior de tudo era que havíamos comprovado para os nossos pais que eles estavam certos quanto a nossa irresponsabilidade. Fiquei a pensar nas minhas crises de medo. Sempre quando elas começavam, os primeiros sintomas era uma grande dor no estômago como um fogo se acendendo dentro dele acompanhado de uma falta de ar. E estava me sentindo exatamente daquele jeito naquela noite. Por isso o sono não aparecia. Analisando tudo, decidi que não poderia me meter em mais confusão. As presentes já eram o bastante para tirarem o meu sono e não podia continuar alimentando aquele estranho romance o qual se deu inicio no chão frio de um banheiro escuro. Com certeza, aquele encontro não poderia acontecer.
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O Símbolo - Uma Nova Vida- livro 1
Mistério / SuspenseMark, William, Brenno, Fábio, Rebeca, Laís, Erin e eu somos oito jovens em busca de nossa verdadeira origem. Isso, porque, quando bebês, fomos abandonados na porta de oito famílias diferentes, e, consequentemente, adotados por eles. Eis o porquê de...