Capítulo 14

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Antes que ele pudesse fazer ou falar alguma coisa, eu o beijei. No começo foi apenas dois lábios encostados um no outro, logo iniciou um movimento lento, mas que me deixou em chamas; enfiei os dedos em seu cabelo e o puxei para mais perto. Suas mãos ainda estavam inertes aos flancos, ou seja, ele nem estava me tocando e eu estava enlouquecida, nunca havia sentido nada parecido antes; passei minha língua no seu lábio inferior, subindo para o superior e tentando ganhar passagem para dentro, mas quando ele finalmente colocou as mãos em mim foi para segurar meus ombros e me afastar.

Quando o olhei, ele estava mais sério do que eu já havia visto algum dia, entretanto, havia algo em seus olhos que eu não consegui identificar o que era.

- É melhor ir tomar banho e dormir - ele repetiu e eu fiquei o olhando, embasbacada e de repente envergonhada pela rejeição em grande estilo.

- Certo - respondi, os efeitos da bebida sumindo de repente e um rubor crescente subindo pelo meu rosto. Me levantei da cama, praticamente corri para o banheiro e queria me afogar na privada para nunca mais olhar para o Rugge.

Quando despertei em meio à escuridão na manhã seguinte, a consequência de uma noite de bebedeira chegou com tudo. Eu queria esmagar os seres do tamanho dos smurfs que estavam sapateando dentro da minha cabeça ou talvez dançando uma salsa tremendamente longa.

- Merda - resmunguei e joguei as cobertas para o lado.

- Está tudo bem? - perguntaram e eu dei um pulo, caindo para fora da cama.

- Ui - gritei quando estava indo de encontro com o chão, por estar na beirada da cama - ai que droga, você me assustou.

- Me desculpe, não foi minha intenção - Rugge já estava ao meu lado, ajudando-me a levantar. Como alguém conseguia ser tão bonito pela manhã? Eu provavelmente estava com a cara amassada, o cabelo um ninho de periquitos e olheiras profundas. Apesar de estar escuro, consegui apreciar seu raro cabelo bagunçado, seus olhos grandes e expressivos, seus ombros largos e barriga plana, sua boca cheia... sua boca! Ai, caramba!

Me afastei dele como se seu corpo estivesse em chamas e levei minhas mãos para cima, cobrindo minha boca.

- Oh, não - tentei passar por ele, mas Rugge segurou meu braço.

- O que foi? - perguntou, franzindo o cenho em confusão.

- Oh Senhor, não, não, não - me soltei e comecei a andar e tagarelar como uma louca - eu sinto muito Rugge, eu não sei o que me deu à noite, aliás, eu sei muito bem o que me deu, foram aquelas bebidas de lúcifer que me enfiaram guela abaixo. Bom, pelo menos no começo foi assim e ai eu venho até aqui e tento te agarrar. Sim, porque aquilo foi agarrar.

- Ei, acalme-se Kah, não foi nada - ele segurou meu rosto em suas mãos - está tudo bem - mas eu estava totalmente envergonhada e histérica que eu não conseguia pensar direito e, como todos sabem, é impossível fazer uma mulher assim calar a boca.

- Claro que não está tudo bem - me soltei dele e eu só sabia que precisava fazer algo com as mãos - eu sabia que não devia ter bebido tanto, mas nãaaaao, eu fui ouvir aquelas... argh, falaram que eu precisava. Quem precisa de algo que faz as pessoas fazerem coisas que não querem? - coloquei a pasta de dente na escova e comecei a escovar, me mantendo calado por um tempo. Rugge estava calmo como se ser atacado durante o sono fosse algo que acontecia diariamente, o que provavelmente acontecia, e começou a escovar os dentes também, com a naturalidade e leveza de um lorde.

Assim que terminei e lavei o rosto, a minha voz ecoou no ambiente novamente.

- Me desculpe - comecei, mas ele me interrompeu.

- Você já pediu e eu disse que está tudo bem - um leve sorriso surgiu em seus lábios, que pareciam ainda mais tentadores depois de sentir o gosto dele um pouco mais aprofundado - não se martirize mais.

- Não estou me martirizando, apenas me sinto culpada por acorda-lo, ainda mais daquela maneira. Eu simplesmente quero cair dura e morrer. Para falar a verdade, eu nem gosto de beijar assim...

- Não gosta de beijar? - ele perguntou com os olhos amplos.

- Bem, simplesmente não gosto de ser sugada como uma pia entupida, muito obrigada - dei de ombros.

- Então você nunca beijou um cara que soubesse o que estava fazendo - respondeu encostando no batente da porta.

- Então muitos homens precisam de uma aulinha de como beijar sem ensopar a boca do outro e sem transformar a língua em um aspirador - o puxei para fora e entrei no banheiro para me trocar. Eu já tinha deixado separado minha roupa no dia anterior, um vestido rosa bebê que amarrava na cintura e uma rasteirinha de strass, penteei meus cabelos e saí dali.

- Aliás... ah, não - falei e torci o nariz. Rugge se virou para mim, me olhou de cima à baixo, focou seus olhos nos meus por um instante e logo jogou a cabeça para trás, soltando uma longa risada.

- É... - ele começou, mas não conseguia conter o riso para pronunciar as palavras.

- Sabe, é bom que a gente combine, mas não que estamos forçando a barra - falei e um sorriso travesso surgiu de algum lugar e foi parar no meu rosto. Rugge estava com sapatos sociais, uma calça preta social e... uma camisa da mesma cor que o meu vestido, com uma gravata preta com detalhes em rosa um pouco mais escuro. A cor exata mesmo. Caminhei até ele e parei do seu lado - o caramba se isso não é uma coincidência.

- E bota coincidência nisso - ele comentou ainda sorrindo belamente. Me virei para ele e arrumei o nó de sua gravata, passando a mão em sua camisa em seguida.

- Você está linda - comentou casualmente.

- Posso dizer o mesmo - falei - quero dizer, não linda e não eu, quero dizer, você está lindo e... ah, você entendeu.

- Sim, eu entendi - agora era um sorriso enviesado e super sexy que estava no seu rosto.

- Bem, vamos? - perguntei e me virei para ir, entretanto, Rugge agarrou minha mão e me encostou na parede, seu corpo enorme cobrindo o meu nanico.

- Feche seus olhos - sussurrou no meu ouvido e senti meu corpo estremecer apenas por ouvido a rouquidão de sua voz e sua respiração na minha nuca.

- O quê? - escapou dos meus lábios antes que eu percebesse.

- Feche os olhos - ele repetiu calmamente e seu rosto estava impassível, como se ele não perdesse a calma ou a pose por nada. Fiz o que ele me pediu e a ansiedade começou a preencher todos os poros de mim.

- voltando ao assunto que estávamos conversando, talvez você também seja um pouco leiga sobre o assunto e isso impedi um pouco a apreciação - abri meus olhos para encontrar os seus, que estavam brilhando como safiras e eu lambi os lábios em nervosismo. Rugge passou dois dedos em minhas pálpebras para fecha-las - não é apenas lábios e línguas em contato, tem que ter a pegada, a química e o jeito.

Ele colocou uma mão na minha bochecha e eu fiquei ainda mais nervosa quando senti sua respiração tão perto.

Um Namorado Por EncomendaOnde histórias criam vida. Descubra agora