Capítulo 35

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Alcançamos nosso pequeno refúgio, Ruggero empurrou a porta e eu agradeci mentalmente quando as gotas da chuva não conseguiam mais picar minha pele como centenas de agulhas.

- Q-quem mo-mora aqui? - gaguejei, tilintando meus dentes de frio.

- Não sei, está abandonada faz muito tempo - Ruggero respondeu. Como ele poderia responder tão corretamente, sem nem mesmo titubear pelo frio? Na cabana havia apenas uma mesa de madeira com quatro cadeiras em volta, uma poltrona velha, uma lareira e...bem, apenas isso, pelo menos naquele cômodo. Ruggero pegou um isqueiro que havia sobre a mesa e agachou-se para acender a lareira.

- Você já-já veio aqui-qui? - questionei, me abraçando mais forte para controlar o frio.

- Sim, quando quero me afastar da cidade, pensar um pouco, gosto de ficar aqui - Ruggero se levantou e caminhou para mais fundo - há um banheiro aqui - apontou para uma porta - e aqui está o quarto - apontou para a porta da frente. Ele entrou no cômodo e voltou logo com uma manta de aparência quentinha.

- Tire a roupa e coloque isso - me mostrou o tecido e apesar de que parecia quente, eu não estava indo para coloca-la, não sabia qual sua origem e nem se estava empoeirada como parecia estar os outros móveis dali - ou pegará um terrível resfriado - completou e me jogou a manta.

 Estava pronta para protestar até que o cheiro da peça encheu minhas narinas e pude sentir o perfume do Ruggero nela. Caminhei até o quarto sem dizer nada e fechei a porta atrás de mim; ali havia uma cama enorme no centro, com lençóis impecavelmente brancos e um pequeno guarda-roupa em um canto.Tirei minhas roupas molhadas e joguei a manta sobre meus ombros, ficando completamente nua sob ela, algo que me deixava desconfortável sabendo que Ruggero estava logo ali. Lambi os lábios e abri a porta, voltando para a sala. Encontrei o Ruggero jogado na poltrona ainda vestindo suas roupas ensopadas.

Ficamos em silêncio por um longo tempo, apenas observando o crepitar das chamas na lareira e ouvindo a chuva forte batendo na porta e nas janelas. Apesar de o lugar ter uma aparência velha, aguentava bem uma chuva intensa.Quando o silêncio ali dentro tornou-se incômodo para mim, olhei para Ruggero que estava abraçando-se firmemente, provavelmente por conta do frio.

- Deveria trocar de roupa também - falei - ou ficará muito doente.

- Não teria nada para vestir - comentou, sem tirar os olhos do fogo.

- Nenhuma outra manta? - questionei e ele meneou a cabeça.

- Não se preocupe, eu estou bem - finalmente, ele me mirou - você está bem? está bem aquecida?

Sua preocupação fez algo estranho para meu corpo e eu queria aquece-lo também, queria abraça-lo e mante-lo entre meus braços.

- Sim, já estou bem quente, mas você deve estar congelando

- Não se preocupe comigo - falou e voltou seu olhar para as chamas laranjadas. Tomada minha decisão, me coloquei de pé; Ruggero me olhou e franziu o cenho.

- O que foi? - questionou.

- Não acho que isso seja justo - e dito isso, tirei a manta de mim e estendi para ele, deixando-me nua na sua frente.

Ergui minha vista para olhar na direção da porta, não querendo encontrar os olhos do Ruggero; estremeci quando uma brisa fria conseguiu passar pela abertura debaixo da porta e quando não consegui notar nenhum movimento do homem na minha frente, desci meus olhos para encara-lo e engoli em seco. O frio que estava sentindo anteriormente desapareceu com a intensidade dos olhos de Ruggero sobre mim, aquiescendo meu corpo e queimando em lugares que me deixaria carmesim se Ruggero o notasse.

Um Namorado Por EncomendaOnde histórias criam vida. Descubra agora