Capítulo 22

297 26 1
                                    

- Sinto muito por isso - Lino disse enquanto caminhávamos por uma praça magnífica que ele havia me levado, cheia de verde, flores e lindamente arborizada.

- Pelo quê? - perguntei, franzindo o cenho em confusão.

- Ora Kah, eu não sou nenhum idiota sabe - deu de ombros - sei que gosta do meu irmão, tentei tira-la da casa antes que Rugge voltasse, mas não deu muito certo.

Lambi meus lábios repentinamente secos e uma dor de cabeça chata começava a me atormentar.

- Não sei do que está falando, somos apenas amigos - falei veemente.

- Você não vai conseguir me enganar - disse sorrindo - agora me diga, o que aconteceu depois que foram trancados no quarto? Estou me corroendo para saber.

- Então foi você, seu... - me acalmei antes que palavras de baixo calão flutuassem da minha boca.

- Não, eu não posso levar o crédito - disse rindo - foi Leonardo.

- E por que diabos ele faria isso?

- Somos uma família perspicaz, querida - ele passou um braço sobre meus ombros -sabemos de tudo o que acontece ao nosso redor, ainda mais se envolver alguém da nossa família.

Revirei os olhos e bufei.

- Estão todos viajando - reclamei.

- Viajando? - ele franziu a testa - que expressão esquisita.

Soltei uma risada e passei meu braço ao redor da sua cintura.

- Lino Pasquarelli - escutamos uma voz atrás de nós e o homem ao meu lado travou a mandíbula, fechando os olhos - Lino - gritaram novamente. Nos viramos e uma mulher de cabelos tingidos de ruivo vinha em nossa direção; me afastei de Lino quando ela lhe deu um abraço de urso, praticamente me jogando para o lado. Ela disse algo em alemão em uma empolgação invejável, seus olhos brilhavam intensamente em adoração, como se o homem parado na sua frente fosse o próprio Deus.

- Oh, olá Celly - disse ele, passando uma mão em seus cabelos e logo me puxando pela cintura - essa é Karol.
Karol, essa é Celly, uma conhecida da família.

A garota me olhou de cima à baixo, torcendo o nariz.

- Oi - falou sem ânimo - ela é sua namorada? - a palavra poderia ter saído engasgada. Olhei para Lino e seus olhos verdes imploravam por ajuda, então, com um sorriso brilhante eu respondi:

- Sim - beijei seu rosto demoradamente - eu não tenho sorte?

- É, nós temos que ir, querida, ou vamos nos atrasar. Foi bom vê-la - Lino disse antes que a mulher dissesse algo e então saiu quase me carregando dali.

- O que foi isso? - perguntei rindo histericamente.

- Essa mulher é completamente insana, é sério - ele disse, fingindo um arrepio - nos conhecemos já faz alguns anos e ela me persegue desde a terceira série, tem até fotos minhas pregada em seu guarda-roupa.

- Que partidão hein - pisquei para ele e nós dois rimos, continuando nosso passeio.

Quando voltamos para casa, Victor estava sentado no sofá com um bico enorme e um olho roxo.

Estava deitada na minha cama sem conseguir pregar os olhos, virava de um lado para o outro, sentindo falta dos braços e corpo quentes de Ruggero. Agora que havia experimentado, esquecer era algo que eu não sabia se era possível. Porém, o que mais pesava na minha mente é pensar que havia outra mulher nos braços do homem que havia me fascinado de tal maneira que estava me tirando o sono. Era apenas isso, fascinação, quando tudo acabasse e eu nunca mais o visse, minha vida voltaria a ser o que sempre foi. Eu tenho tudo o que sempre quis, não preciso de homem nenhum para ficar ditando o que devo fazer ou não.

Afastei as cobertas para o lado e me levantei, precisava de um copo de água e um calmante talvez. Ou uma pinguinha, dormiria rapidinho. Fui tateando as paredes, tentando me direcionar até a cozinha no escuro e enquanto pegava um copo, pensei que já haviam se passado três dias que estava aqui, ou seriam quatro? Estava na hora de voltar, minha irmã provavelmente estaria precisando de mim.

Quando estava voltando para meu quarto com um copo de água nas mãos, escutei alguns resmungos e gemidos. Fiz uma careta e quase corri, até que percebi que vinha do quarto da mãe dos homens da casa, Antonella. Bati levemente na porta e sua voz veio frca pedindo para que entrasse.

- Está tudo bem? - perguntei da porta.

- Oh, é você, querida - ela fez com a mão para que eu entrasse.

- Fui tomar água e ouvi a senhora. Necessita algo?

- Poderia pegar algum daqueles comprimidos para mim? - apontou e eu caminhei até a escrivaninha, pegando um dos comprimidos e entregando para ela, junto com a água que eu segurava.

- Obrigada - falou - pode sentar-se se não estiver com sono.

Me sentei ao seu lado e ficamos conversando. Devo admitir que passei um bom tempo ali.

- O que acha da Belinda? - questionou. Sua pergunta me pegou tão desprevenida que titubeei um pouco antes de responder:

- Ela é legal e...e carismática.

- Sim, ela é e parece ser apaixonada pelo meu filho - falou, me olhando com uma expressão que não consegui decifrar.

- Sim - respondi, tentando ignorar o nó repentino na minha garganta - formam um belo casal e realmente parecem apaixonados.

- Se importa se eu me deitar? - ela perguntou e eu neguei com a cabeça. Quando colocou a cabeça no travesseiro e puxou a coberta para se cobrir, continuou -ela eu tenho quase certeza, mas Ruggero... - ela se calou, percebendo que havia dito demais.

- O quê? Acha que ele não a ama? Então por que irá se casar com ela? - fiz um milhão de perguntas, não entendendo absolutamente nada.

- Rugge a respeita e sente muito carinho por Bel, afinal, se conhecem desde muito tempo. A família dela era muito próxima da nossa e quando o pai de Bel morreu, pediu para que Rugge cuidasse da filha, já que a mãe havia morrido antes. Rugge prometeu que faria o que ele estava pedindo, então, eles começaram a namorar. Ruggero sempre foi muito responsável e aqui na Itália é importante ter palavra, todos pensam que para cumprir o que prometeu, protegê-la, tem que estar sempre ao lado dela, inclusive meu filho. Foi ai que o noivado aconteceu.

- Então, estão noivos apenas por causa de sua promessa? - questionei e ela assentiu.

- Deve estar pensando que isso é totalmente irracional e eu até concordo com isso, mas aqui na Itália e na nossa família, as coisas são diferentes - falou e suspirou como se estivesse cansada - mas o importante é que se dão bem e ela parece fazê-lo feliz. Ruggero pode não ama-la como um homem deve amar uma mulher, mas sei que sente algo especial por ela.

- Acho que a senhora deve dormir um pouco - disse, me levantando.

- Boa noite, Kah, e obrigada pela conversa.

- Boa noite - respondi e abri a porta para sair, até que ouvi sua voz baixa e melodiosa.

- As coisas sempre podem mudar - tentei não pensar no assunto e voltei para meu quarto.



Um Namorado Por EncomendaOnde histórias criam vida. Descubra agora