Capítulo 30

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-Nós seremos presos por isso - Jorge murmurou enquanto rodeávamos a casa de Jonathan.

- Não vão nos pegar - resmunguei - trouxe a escada?

- Sim, aqui está o maluco que carrega uma escada pela rua - ele colocou o objeto perto do muro.

- Você vai primeiro e me ajuda a descer depois.

- Claro, que se dane se o gay espatifar no chão - reclamou, mas começou a subir - e já vou avisando, se tiver um cachorro me esperando do outro lado e ele me morder, eu passo raiva para você, sua vaca louca.

Jorge subiu, grudou no muro e pulou do outro lado. Fui logo em seguida e me sentei no muro.

- Está tudo bem? - perguntei baixinho.

- Talvez eu não ande mais, mas obrigada por perguntar - ele gemeu e eu ri sob minha respiração.

Puxei a escada e a coloquei do lado de dentro da casa e desci. Caminhamos na escuridão do jardim, com nossos trajes negros como se estivéssemos realmente em uma missão (e talvez estivéssemos mesmo), e quando estávamos chegando na entrada e para a claridade, três cachorros gigantescos rosnaram em nossa direção.

- Oh, merda - Jorge disse e demos um passo para trás - se o Cérbero está aqui de fora, não quero saber quem está lá dentro.

Quando os cães começaram a latir, nós nos abraçamos e gritamos à plenos pulmões.

- Se eu morrer, eu mato você - meu amigo falou e nós gritamos novamente quando os bichos peludos avançaram com passos lentos em nossa direção.

- Caso não percebeu, eu estou na mesma situação que você - falei.

Eles estavam se aproximando mais e mais, nos entreolhamos, olhamos os cães e fizemos a única coisa que veio na nossa cabeça: corremos. Podíamos ouvir os passos dos animais cada vez mais perto e seus latidos mais fortes, e estavam quase no mesmo tom que nossos gritos desesperados; alcançamos a escada e subimos, agradecendo pela escada ser alta.

- E agora, o que vamos fazer? - perguntei.

- Vamos subir nesse muro e dar o fora daqui - Jorge respondeu, apavorado.

- De jeito nenhum, eu vou falar com esse garoto. Só saio daqui morta.

- Sabe, isso está bem fácil de acontecer.

- Tô falando sério.

- Nesse caso, só nos resta torcer para que os cães do inferno não coma metal e acabe com nosso refúgio - se a situação fosse outra, eu teria rido. Que meleca.

Uma voz masculina gritou alguns nomes e os cachorros pararam, dando passos para trás. Eu e Jorge soltamos um suspiro audível e uníssono.

- Eu poderia dar um beijo seja lá quem ele for - Jorge murmurou - a não ser que seja desagradável a vista.

Uma estatura alta se aproximou, ordenou algo para os cachorros e eles se afastaram.

- Quem está ai? - perguntou e continuamos em silêncio.

- Fale algo - resmunguei.

- Eu não, não vou ser levado daqui por algemas.

- Quem está ai? - perguntou o homem novamente, sua voz mais perto e mais alta. Então, o tipo apareceu na claridade e não parecia feliz, tinha uma carranca tremenda, sua testa vincada como se fosse um idoso; era alto, moreno, mas não diria que era bonito e estava muito bem armado.

- Acho que não terá beijos hoje - Jorge sussurrou e eu tive que segurar a risada. Com medo de que ele acabasse atirando em nós, falei em um tom alto e claro:

Um Namorado Por EncomendaOnde histórias criam vida. Descubra agora