twenty eight.

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“Porque eu não quero ficar sozinha esta noite
Olhe o que você me fez fazer
Eu estou com alguém novo.” – Sam Smith.


   Após eu conseguir controlar minha crise de choro, passei uns 15 minutos encarando a mesa vazia. Eu não consigo nem explicar o que se passava em minha mente. Eu estava me sentindo tão estúpida e descartável. Acho que no fim das contas a Zoe estava mesmo querendo me avisar.

   — Com licença... Posso sentar aqui? – Ouço uma voz grave.

   Levanto a vista e vejo um rapaz alto, usando uma jaqueta colegial, parecida com a que eu estava, apontando para a cadeira na minha frente. Ele tinha traços orientais e o cabelo ridiculamente penteado pro lado.

   — Claro... Eu já estava de saída mesmo. – Digo me levantando e passando a mão no nariz que ainda escorria.

   — Ei, por que a pressa? – Ele senta e me encara com um sorriso torto. – Estive te olhando de longe e parecia meio tristonha... Levou um bolo? – Ele dá um gole na cerveja que segurava.

   Decido sentar novamente.

   — Antes fosse isso. – Suspiro.

   — Por qual outro motivo uma moça tão bonita estaria num bar sozinha e com cara de choro? E nem bebendo você tá... – Ele faz uma cara engraçada. Solto um sorriso de canto, que logo se desfaz.

   — Acredite, você não vai querer saber... – Paro por um momento e olho para a cerveja em sua mão. – Vem cá, quantos anos você tem? – Junto as sobrancelhas.

   O rapaz começa a rir. Inclusive, que sorriso! Um dos mais bonitos que meus olhos já avistaram.

   — Nossa que jeito estranho de iniciar um papo... Geralmente me perguntam meu nome, mas tudo bem. Tenho 22, e a senhorita? – Ele fecha o sorriso e me lança um olhar que por algum motivo me deixa envergonhada.

   Sorrio de canto.

   — 16.

   — É um boa idade pra começar a chorar em bares...

   Não controlo a risada.

   — Isso explica o motivo de eu não estar bebendo... O moço ali não me vendeu... Mas sorte que conheci alguém que já pode comprar. – O encaro. Ele sorri.

   — Boa.

   Ele levanta e vai até o balcão, fico observando de longe e tentando entender o que ele tanto conversa com o balconista.

   Leva exatamente cinco minutos até o rapaz do sorriso bonito voltar para a mesa com uma sacola cheia de garrafas de cerveja.

   — Não brinca? – Meus olhos brilham ao ver a sacola.

   — E aí? Topa beber tudo isso comigo por aí? Quem sabe a gente não acaba chorando juntos?

   — Ótima ideia. – Levanto.

   — Ah e a propósito... Me chamo Bailey, só se quiser saber mesmo... – Diz enquanto caminha até a saída.

   — É um nome legal... Me chamo Sina.

   — Prazer, Sina.

   Bailey estende o braço para que eu possa cruzar no meu, só então percebo o quão musculoso ele era.

   Nós andamos até uma rua deserta que ficava por trás do bar. Ela era escura, iluminada somente por um poste velho.

   — Então, não quer mesmo me contar o que te fez ficar tão bad? – Ele me entrega uma garrafa.

   Sento no chão, a seu lado.

   — Não vale a pena, na real não quero nem lembrar do motivo. – Dou um gole na cerveja. – Mas e você? De onde surgiu? – Inclino o rosto para vê-lo melhor. De perto era ainda mais bonito...

   — Pelo que tô vendo eu vim pra salvar sua noite. – Brinca.

   — Você é engraçado. – Comento.

   — O ser humano tem que nascer com alguma qualidade, né? – Ele sorri novamente e dá outro gole na cerveja. – Você é daqui mesmo?

   — Não... Sou da Alemanha.

   — Ah, isso explica essa beleza toda... Não se vê uma obra dessa todos os dias nas ruas de Miami. – Ele diz e eu não consigo responder, nunca lidei muito bem com elogios.

   Apenas sorrio e encaro o chão, mas ainda é possível perceber que Bailey me encarava.

   — Para com isso, tá me deixando sem graça. – Digo e empurro seu ombro, de leve.

   — Desculpa. É que é inevitável.

   O encaro novamente e sou tomada por uma enorme vontade de beijá-lo. Sério. Foi literalmente do nada. Eu não sabia se era o fato de eu estar chateada com o Noah, ou se era o álcool já querendo fazer efeito, eu só sei que eu queria muito provar daqueles lábios carnudos e avermelhados na minha frente.

   Então foi isso que fiz. Enquanto Bailey me olhava com cara de bobo eu cheguei mais perto e taquei um beijo. Beijão! Daqueles de novela. E foi um beijo lento e demorado, do jeitinho que eu gosto.

   — É muito cedo pra dizer que estou apaixonado? – Ele falou quando nos afastamos.

   — Besteira... – Digo, bebendo o resto da cerveja.

   Passamos o resto da noite assim, rindo, trocando beijos e conversando sobre a vida. O Bailey era um cara excepcional. Era divertido, bom de papo, engraçado, bonito e ainda beijava bem! Tudo que uma garota sonha. Se eu mandasse nos meus sentimentos certamente escolheria me apaixonar por ele, pena que as coisas não acontecem dessa maneira. Quem dera eu tivesse essa moral de dizer ao meu coração as pessoas de quem devo gostar... Facilitaria muita coisa.

   Quando as dez garrafas de cerveja que Bailey comprou acabaram, ele levantou falando que iria rapidinho no bar comprar mais algumas. Eu prometi que o esperaria ali, sentadinha. Mas quando ele me deixou a sós comigo mesma, o peso enorme da minha consciência pesou. Eu senti meu coração apertar ao notar o que eu estava fazendo. Eu estava traindo meu namorado.

   “Ah, mas tudo bem quando quem traiu primeiro foi ele, né?” NÃO! Não tá tudo bem! Eu estava me tornando a nova Zoe!

   — Meu Deus... O que que eu to fazendo?! – Repito para mim mesma.

   Ponho a mão na testa e penso no que fazer. Devo esperar o Bailey voltar e me despedir? Mas despedidas demoram demais, provavelmente ele vai pedir meu número e isso vai ficar mais complicado do que já é.

   Decido então ir embora como se nada tivesse acontecido. Levanto devagar e cambaleio até o outro lado da rua.

    Tudo a meu redor está girando e minha visão começa a ficar embaçada. O som das músicas ao vivo que estão rolando na praia entram no meu ouvido e fazem um eco enorme. Até o churrasco que comi mais cedo começa a embrulhar no meu estômago.

    Ando o mais depressa que consigo, mas o caminho da casa do papai nunca fora tão longe quanto aquele dia. Eu só queria que aquela noite tivesse logo um fim.

» thɑt summer - noɑrt. Onde histórias criam vida. Descubra agora