forty one.

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“Deus, diga-me o motivo da juventude ser desperdiçada nos jovens.” – Maroon 5.


» Miami, Flórida. 2013.

   Sentada no chão frio do banheiro da casa do meu pai e aprisionada com meus próprios pensamentos, eu tentava entender como cheguei até aquele estado e o que poderia ter feito para evitá-lo. Eu sentia meus ombros pesados e as costas completamente travadas, talvez fosse o peso de não saber o que fazer. Aquele sentimento ruim que me obrigava a pensar que eu acabara de jogar minha juventude no lixo fazia minhas mãos suarem.

   Um bebê? Como raios iria explicar para minha mãe que eu fui passar as férias na casa do meu pai e voltei com um bebê? Ela iria me matar sem pensar duas vezes. Além do que, eu não me sentia nem um pouco preparada para assumir uma responsabilidade daquele nível. Onde já se viu? Eu mal conseguia cuidar de mim mesma, quem dirá tomar conta de uma criaturinha pro resto da minha vida. Eu-não-seria-capaz.

   Tombo a cabeça para trás, a apoiando na parede do banheiro e deixo que as lágrimas escorram, pois desde que obtive o resultado do teste foi a única reação que consegui ter. Chorar. Minha mente estava sendo metralhada por um milhão de pensamentos que vinham de todos os lados e que me sufocavam aos poucos.

    Deixo que meu corpo pesado e destruído de tanta tensão muscular escorregue até o chão, e permaneço deitada até que eu me sinta um pouco melhor.

   Não demora muito até que ouço vozes no corredor. Levanto rapidamente e tento me recompor. Eu não sabia exatamente o que faria em relação aquela gravidez, mas uma coisa era certa: meu pai só receberia a notícia quando eu estivesse a km's de distância.

   Guardo a embalagem juntamente com o teste na mesma sacola que a moça da farmácia me entregou e enrolo tudo numa toalha. Com as mãos nervosas, lavo com cuidado o recipiente onde depositei a urina e em seguida dou uma encarada no meu reflexo no espelho. O meu rosto estava inchado e as olheiras denunciavam a falta de uma boa noite de sono. Os cabelos desgrenhados e os lábios pálidos me causaram estranheza. Eu já não me conhecia mais, estava totalmente perdida e sem saber a quem recorrer, tudo parecia de ponta cabeça. Logo, a vontade desenfreada de chorar retorna. Mas que porra! Onde eu estava com a cabeça? Seria melhor que tivesse terminado com o Noah sem dar explicações. Teria evitado muitas dores de cabeça.

   Ouço passos se aproximando do banheiro e três batidinhas em seguida. Digo que está ocupado e torço para que a pessoa se retire. Era a Chelsea. Sua voz enjoada soou dentro do banheiro e ela pedia para que eu saísse e pudéssemos conversar sobre o modo como a tratei antes de sair de casa.

   Respiro fundo e até cogitei pedir para que conversássemos outra hora. Mas acontece que eu estava tão atordoada que não saberia como lidar com a situação sozinha, então, decidi abrir a porta e contar a verdade.

   Papai ainda não havia voltado desde o momento em que Chelsea pediu que ele fosse dar uma volta. Então, podíamos falar abertamente sobre o assunto sem que ninguém tomasse parte. Eu chorei feito criança naquela tarde. Ali, deitada no colo da Chelsea e recebendo carinho em meus cabelos, foi onde percebi que ela nunca fora uma inimiga. Eu é que fui cega pelo orgulho. Nunca havia me conformado com o fato do meu pai ter construído outra família, mas aquilo teve fim naquele instante, pois mais do que nunca, eu me senti a filha mulher que a Chelsea sempre desejou ter.

   Bom, ela tentou de toda forma me consolar e repetia constantemente que aquilo não era o fim do mundo. E ela tinha razão, não era o fim do mundo. Eu ainda não sabia, mas algo faria com que a descoberta de minha gravidez se tornasse algo miseravelmente pequeno.

    Falei para Chelsea sobre meus planos de não contar a ninguém sobre aquilo até que eu decidisse o que fazer. E quando eu falava ninguém, era ninguém mesmo. A ideia de não contar ao Noah já estava instalada no meu subconsciente desde o momento em que vi aqueles dois tracinhos no teste. Eu não queria que ele tomasse parte. Na verdade eu gostaria de voltar para a Alemanha sem ter que trocar mais nenhuma palavra com ele. Mas como já imaginava, a Chelsea protestou.

   Depois de muita discussão, ela acabou me convencendo de que ele tinha todo o direito de saber, mesmo eu não tendo certeza se levaria a gravidez pra frente. Chelsea me fez tomar um banho quente e preparou uma canja que comi com muita dificuldade. Os acontecimentos das últimas horas haviam me tirado o apetite.

   Após me alimentar e finalmente estar mais tranquila, decido que é hora de ir encontrar o Noah. Passei o resto do dia repetindo a mim mesma que não seria tão ruim assim, afinal.

   Pois bem, vesti um moletom surrado por cima da regata cinza que eu usava e pus uma calça legging preta. Peguei o primeiro tênis que vi na frente e me despedi da Chelsea, que com a palma das mãos juntas, como em forma de oração, me desejou toda sorte do mundo e me prometeu que daria tudo certo.

» thɑt summer - noɑrt. Onde histórias criam vida. Descubra agora