thirty four.

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“Eu sentia como se a vida sempre arrumasse um jeito de brincar comigo.” – sina

  » Miami, Flórida. 2013.


   Noah e eu chegamos na casa do papai por volta das 14h. O final de semana realmente tinha sido incrível. Noah havia pensado em cada detalhe e até arriscou fazer um jantar especial. Bom... Não deu muito certo, contando que o gás acabou no meio do preparo e a carne que estava na churrasqueira queimou. Mas o que vale é a intenção. Acabamos pedindo comida online mesmo.

   Noah havia até me convencido de catar conchinha na areia da praia. Sim, isso aconteceu. Passamos cerca de quarenta minutos juntando todas as conchas que conseguíamos. Confesso que foi divertido. Encontrei algumas bastante peculiares com cores e formatos diferentes, se alguém me contasse eu não acreditaria que existiam.

   Em dois dias eu conheci uma versão do Noah que esperei bastante tempo pra ver de perto. Ele sempre dizia que, apesar de não demonstrar, ele poderia sim agir como um príncipe encantado. Eu, obviamente, dava risada ao ouvir aquilo, mas no fundo estava ansiosa pra ver ele agindo apaixonadinho.

   Enfim, a recepção na casa do papai não foi nada calorosa. Digo, não tinha ninguém em casa e a única coisa que nos desejou boas-vindas foi um bilhete do papai na porta da geladeira.

“Saímos pra almoçar fora, hoje é o aniversário da Chelsea. Tem frango na geladeira e arroz no forno. Comam! Beijos do papai.”

 
    — Espero que tragam ao menos um pedaço de bolo... – Resmunguei.

    — Se quiser, eu faço um bolo pra você. – Noah fala com um tom de brincadeira. Sorrio fraco.

   — Prefiro não arriscar. – Vou até ele e selo nossos lábios.

  Me apresso para ir até o banheiro e me desmanchar naquela água quentinha. Abaixo a calça moletom que eu usava e na hora de tirar minha regata branca meus olhos acabam esbarrando no brilho intenso que vinha do meu dedo. A aliança estava chamando a atenção. E não falo das outras pessoas, falo de mim mesma. Ela chamava a minha atenção e me levava a lembrar de coisas que estava me esforçando pra esquecer.

   — Tá perto? – Noah fala do outro lado da porta.

   — Saio já... – Digo tirando o anel do dedo e o pondo em cima da pia.

   — Vou comer o sorvete que tem na sua geladeira, tá?

   — Fique a vontade.

   O Noah era o único ser humano que eu conhecia que gostava de sorvete de flocos. Nada contra, mas se você gosta de sorvete de flocos... Que mal gosto você tem.

    [...]

   No fim da tarde Noah me infernizou para irmos tomar um banho de mar. Fala sério. Depois de dois dias acordando com os pés na praia eu já estava exausta. Nunca fui fã daquilo e agora meu namorado estava me enfiando a maresia goela abaixo.

   — Por favooor! – Ele implorava, deitado no meu colo fazendo bico com aqueles lábios enormes.

   — Estou cansada, amor. – Faço cara de dor.

   Noah pareceu magoado.

   — Não precisa nem mergulhar, só molhar os pés! – Fico em silêncio. Noah bufa. – Sério, olha esse céu!

   Ele dá um salto do sofá e vai até a janela da sala, puxando a cortina de uma vez pra esquerda. O céu estava magnífico mesmo. Parecia uma pintura aquarela que o artista demorou cinco horas pra finalizar.

   — Podemos ficar admirando o céu daqui... Do aconchego do nosso sofá. – Me cubro com a coberta e torço pra aquilo parecer convincente.

   Noah range os dentes.

   — Sina Deinert. Levanta essa bunda agora. Você vai sentir falta disso quando não tiver mais. – Ele estende a mão pra mim.

   — Sério? De novo isso? – Arqueio a sobrancelha.

   Ele sempre fazia isso. Essa coisa de me chantagear emocionalmente, no começo funcionava bastante, mas começara a perder um pouco do efeito.

   — O que posso fazer pra você descer pra praia comigo?

   Eu penso um pouco. Pra falar a verdade já fazia um bom tempo que nós não comíamos comida de verdade. O final de semana foi resumido em pizza e sushi, e na casa do meu pai só tinha um frango de três dias e um arroz que cheirava mal.

   — Certo. – Começo a falar. – Eu desço pra praia com você, mas depois me levará pra jantar no melhor restaurante de Miami. – Cruzo os braços e lanço um olhar desafiador pra ele.

   Noah engasga com o suco de limão que tomava.

   — Tá doida? O dinheiro que eu tenho só dá pra frequentar o Seu Chico. – Noah se joga a meu lado.

   — Ah, nãooo... – Finjo estar chorando e bato minhas costas no sofá. – Lá tem alguma coisa além de fast food?

   — Tem janta também. – Noah dá de ombros.

   — Ótimo! Vai ser lá mesmo! Vou pôr meu biquíni.

   Dou um beijo rápido no Noah e corro pro meu quarto pra vestir o biquíni. A minha sorte é que aquele fim de tarde estava mesmo um pouco quente, porque ninguém merece tomar banho de mar quando está um frio de outro mundo.

   Ficamos sentados na areia da praia apenas observando o sol se pôr por completo e os assuntos que surgiam eram os mais aleatórios possíveis. Eu finalmente estava sentindo como se conhecesse o Noah há anos, e essa era a melhor sensação que existia.

   Finalmente havia chegado a hora de tirarmos a barriga da miséria. Noah e eu trocamos de roupa e fomos caminhando de mãos dadas até a lanchonete do Chico. Estava bastante cheia para uma segunda-feira a noite.

   Escolhemos uma mesa mais reservada, quase nos fundos do estabelecimento. Podíamos até ver os garçons passando com as bandejas diretamente para a cozinha. O cheiro de comida fazia meu estômago se dobrar e desdobrar repetidas vezes.

    — Já decidiu o que vai querer? – Noah me apressa após perceber que eu já tinha olhado todas as opções que haviam no papel.

   — Acho que sim... – Mantenho meus olhos presos na opção que dizia “Risoto de camarão cremoso” e me pego salivando ao imaginar o prato.

   — Certo, continua escolhendo aí que eu vou rapidinho no banheiro. – Ele levanta antes que eu possa responder e deposita um beijo em minha testa.

   Noah sai apressado até o corredor que dava acesso aos banheiro enquanto eu contínuo passando a vista nas opções.

   Não demora muito até que o garçom se aproxima da mesa.

   — Boa noite, posso anotar seu... – Ele para no meio da frase e eu fico sem entender. Me sinto obrigada a olhar para ele e ver se ocorreu algum problema. – Sina?

   Engulo a seco ao ver quem está na minha frente. Não é possível que aquela cidade pudesse ser tão pequena assim.

   — Bailey? – Digo nervosa, piscando os olhos repetidamente algumas vezes.

   — Ei, que coincidência... – Ele abre um sorriso largo. – Você sumiu aquele dia, ein?

   — É... Bom... – Tento organizar as palavras, mas por um instante parece que desaprendi a falar.

   — Opa, já podemos fazer o pedido? – Noah chega na mesa, fazendo o meu corpo endurecer.

   Encaro Bailey na esperança que ele entenda meu olhar de desespero e sua expressão é de alguém que está tentando juntar os pontinhos. Até que ele sorri de canto com aquela cara de safado e passa a língua entre os lábios, sem tirar os olhos dos meus.

    Meu sorriso empalideceu um pouco, mas sigo tentando agir normalmente, apesar de sentir meus dedos tremerem.

   — Sim... Pode falar. – Bailey se prepara para anotar os pedidos.

» thɑt summer - noɑrt. Onde histórias criam vida. Descubra agora