forty six.

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[...]


  Noah estava visivelmente mais acabado que da última vez em que nos vimos. Sua barba rala precisava urgentemente ser feita e os cabelos também estavam maiores, apesar de que o estilo long hair combinava perfeitamente com seu rosto.

   — Então, eu e o Gabriel vamos adiantando umas coisas, certo? Sabe onde nos encontrar! – Josh quebrou o silêncio que se instalara assim que pousei meus olhos sobre aqueles dois.

   Papai e Josh pegam minhas malas e caminham para dentro do aeroporto.

   Cruzo os braços e espero que um dos dois diga alguma coisa, pois eu mesma não sabia como reagir. Enquanto estamos naquele momento completamente constrangedor, aproveito para dar uma analisada na Zoe que evita a todo custo me olhar nos olhos. Fazia tempo que eu não a via e é estranho como ela também parecia ter mudado. O quanto as pessoas podem mudar em tão pouco tempo de distância?

   Zoe vestia uma blusa regata com o nome de uma banda de rock estampada na frente, eu nunca tinha visto aquele nome na minha vida, mas combinava com o estilo da loira.

   — E então? – Decido dizer algo, já que nenhum dos dois se pronunciou.

   — Bom, eu só vim desejar uma boa viagem mesmo... – Zoe sorri fraco e eu retribuo, afinal de contas eu não era tão mal educada assim.

   — Obrigada.

   Percebo ela abrir os braços e dar uns passos pra frente, vindo em minha direção. Pisco repetidas vezes e fico sem saber o que fazer, então decido só abrir os braços também, iniciando assim um abraço bem desengonçado e nada caloroso que durou menos de dois minutos. Apesar de tudo que aconteceu, eu tenho completa noção de que a Zoe não teve nada a ver com o meu término com o Noah, até por que, que culpa tinha ela se o garoto ainda possuía sentimentos pela mesma?! Isso era um problema dele, que ele tinha que resolver consigo próprio. Eu não a culpo por tentar me alertar sobre a possível traição nem nada, eu caí na pilha errada por que eu quis. No final nas contas tudo tinha dado errado por que eu botei tudo a perder. Só me restava aceitar.

   Zoe sorri de canto ao finalizarmos o abraço e inventa uma desculpa esfarrapada para deixar Noah e eu sozinhos. A garota caminha rápido para tentar alcançar papai e Josh.

   — Também vim desejar uma boa viagem... – O Senhor Par de Olhos Verdes decide abrir a boca.

   — Obrigada. – Sorrio sem mostrar os dentes.

   — Não sei se está feliz em me ver aqui, mas... Eu senti que devia te ver pela última vez. – Sua voz falha e ele limpa a garganta.

   — Será que é a última mesmo? – Ele me olha com dúvida. – Qual é! Você ainda pode ir me visitar na Alemanha! – Empurro seu ombro e tento deixar o clima mais leve, eu detestava o jeito como estávamos nos tratando. No fundo eu só queria meu amigo Noah Brincalhão de volta.

   Ele solta uma risada que há muito eu não escutava. Soou feito música para meus ouvidos.

   — Olha, o lance de eu conseguir um emprego no Seu Chico pra juntar grana ainda está de pé! – Responde, fazendo um sorriso torto se formar em meus lábios. – Tudo bem se eu te abraçar agora? – Noah abre os braços e faz bico.

   — E precisa perguntar? – Pergunto de volta e vou em direção a seus braços.

   Ali era meu lugar de paz. Estar com a cabeça afundada no ombro do Noah e meus braços em volta de seu magro corpo era o que me tranquilizava. Diversas vezes aquele abraço foi o que me manteve sã naquelas férias. Quando eu estava tendo crises de ansiedade e não sabia mais o que fazer para me acalmar, o Noah vinha e sem precisar dizer uma palavra, mandava embora todos os pensamentos negativos. Realmente eu não sei o que seria de mim sem o seu bom humor matinal e suas piadas que, de tão sem graça, acabavam sendo hilárias.

   Enquanto ele me apertava naquele abraço, eu torcia para que o tempo passasse mais devagar e pedia mentalmente para que tudo desse certo, independente do que acontecesse. Respiro fundo e me permito sentir seu cheiro pela última vez. Minha garganta arranha e meu coração começa a palpitar mais rápido.

   — Obrigado por tudo, Senhora Deinert-Urrea. – Noah sussurra, fazendo lágrimas se formarem no canto de meus olhos. Ele havia me chamado pelo nome que havíamos inventado no fim de semana na casa de praia. Foram duas horas de discussão sobre como seria quando nos casássemos, pois eu não queria de jeito algum abandonar meu nome de solteira.

   É, o casamento não saiu, mas ao menos eu ainda posso imaginar como teria sido.

   — Obrigada por tudo, Senhor Deinert-Urrea. – Digo com a voz abafada.

   — Eu te amo. – As palavras saíram calmamente e, não sei se isso é possível, mas tenho certeza que senti meus ouvidos sorrirem naquele instante.

   Decido erguer a cabeça, sem desfazer o abraço e encará-lo. Noah também estava com os olhos lacrimejados, ele conseguia ser mais sensível que eu. Sorrio de lado e dou um longo suspiro antes de dizer em alto e bom som.

   — Eu também te amo. Muito. – Fico admirando os olhinhos verdes brilharem. Pareciam estrelas num céu quase vazio, aquelas que sempre estão isoladas das outras, mas que são as que mais brilham.

   Nossos corpos estavam colados há um bom tempo e eu podia sentir o bater de seu coração. Noah se manteve em silêncio desde que eu tinha dito a bendita frase. Ele apenas me encarava com um sorriso bobo e acariciava meu rosto com a ponta dos dedos. Por um instante eu soube o que eu tinha que fazer, sentia que aquele momento não podia passar em branco e que me culparia para o resto de minha vida se não fizesse o que o meu coração estava gritando. Ele ordenava com todas as forças para que eu tomasse uma atitude.

   Então obedeci.

   Nossos rostos já estavam próximos o suficiente para que eu pudesse iniciar aquele beijo sem muita dificuldade. Encostei meus lábios nos dele e deixei que sua língua dançasse dentro de minha boca. Minha barriga esfriou de uma maneira que nunca tinha acontecido, eu sentia como se a Melissa estivesse fazendo uma festa dentro de mim, com direito a fogos e tudo.

   Finalizamos o beijo após ouvirmos a voz do Josh gritar de longe, me apressando para fazer o check in. Noah sorri para mim e me enche de selinhos antes de entrelaçar nossas mãos e me puxar para dentro do aeroporto.

   — Pelo visto os pombinhos fizeram as pazes, hum? – Josh comentou quando chegamos perto.

  — Eu não podia ir embora sem fazer isso. – Sorri de canto.

  — Deixa que te ajudo com isso, Gabriel. – Noah solta minha mão e vai em direção a meu pai que parece ter problemas com uma de minhas malas.

   — Decidiu contar? – Josh cochicha para mim após ficarmos a sós.

   Engulo seco.

   — Já disse que vou contar quando estiver preparada... Definitivamente esse não é o momento. Não quero que ele me convença de ficar aqui até o nascimento do bebê, ou sei lá... – Abaixo a cabeça e massageio meus olhos.

   — É... Conhecendo o Noah é bem provável que ele queira isso mesmo.

   — Conhecendo o Noah, eu sei que ele sempre me convence de fazer qualquer coisa. Então não, não vou contar agora. – Encaro Josh que assente com a cabeça e me abraça de lado.

  

» thɑt summer - noɑrt. Onde histórias criam vida. Descubra agora