thirty nine.

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"O problema da negação é que, quando a verdade chega, você não está pronta." — Estamos bem.

  

» Miami, Flórida. 2013.


   Já era o terceiro dia consecutivo que eu passava mal. Minha pressão insistia em cair nos momentos mais inoportunos. A última vez que aconteceu eu estava ajudando a Chelsea com o almoço. O cheiro forte da cebola impregnou em meu nariz, me fazendo sentir uma dor de cabeça horrenda. Papai obviamente estava extremamente preocupado e insistia em me levar ao hospital.

   — Não precisa, pai. Já falei. – Eu disse enquanto me abanava com um pedaço de guardanapo. A verdade é que eu estava fazendo de tudo para não ir ao encontro de nenhum médico... Tinha medo do que os exames iriam me dizer.

   — Mas isso não é normal! Todo dia isso agora... – Ele andava de um lado pro outro na sala. – Se sua mãe sonha que você está assim... Nem sei o que vai ser de mim!

   — Relaxa, eu vou melhorar daqui pro fim das férias. Deve ser virose. – Dei de ombros e torci para ser convincente.

   — Fim das férias? – Papai rangeu os dentes. – Filha você já volta pra Alemanha semana que vem! Se formos ao hospital hoje ainda dá tempo de se curar. – Ele gesticulava com as mãos.

   Respiro fundo e tombo a cabeça pra trás. A enxaqueca não me dava trégua.

   — Amor, por que não vai dar uma volta? Você anda muito pilhado... – Chelsea interviu. Ela segurava um pano com gelo em minha testa. – Tenho uma receita caseira da minha avó que resolve qualquer virose! Pode deixar que eu cuido dela. – Ela lança um sorriso para ele que por algum motivo parece acalmá-lo. Eu não gostava da Chelsea, mas confesso que nunca vi meu pai tão feliz como ele estava com ela.

   — Tá bem... – Ele passa a mão no rosto. – Vou ajudar o Josh com a prancha dele... Qualquer coisa me liguem. – Nós assentimos com a cabeça e ele se despede. Saindo de casa em seguida.

   Sinto minhas costas travarem de tensão ao ver Chelsea puxando uma cadeira para sentar na minha frente. No fundo eu já sabia o que ela tinha notado.

   — Que foi? – Me faço de desentendida após ela me olhar e não dizer uma palavra.

   — Nós duas sabemos o que está acontecendo aqui, não é? – Ela segurou minha mão. Suspirei nervosa.

   — Não sei do que você tá falando. – Respondi, tentando me convencer de que estava tudo sobre controle.

   — Sina... Antes de você e o Noah terminarem, vocês chegaram a ter relações sexuais? – Ela perguntou séria. Pensei por um instante no que responder. Dependendo da resposta, Chelsea não me deixaria em paz.

   — Sim. – Decidi ser sincera. – Mas usamos camisinha. – Rebato de imediato.

   Chelsea sorri fraco.

   — Meu amor, não existe método 100% seguro... – Ela para um pouco e apenas me olha. – Seja sincera... Você acha que tem chances de estar grávida?

   Torço a boca. Eu não queria estar falando sobre aquilo com a Chelsea. A voz dela me irritava, tudo nela me irritava, por que ela não me deixava sozinha de uma vez por todas? Por que ela se importava comigo?

    Naquela hora eu não entendi, talvez por birra ou orgulho, eu insistia em “odiar” a Chelsea. Mas depois de uns anos eu entendi que eu não a odiava... Eu odiava ter que admitir para mim mesma que havia possibilidades de ter um bebê dentro de mim.

   — Não sei. – Respondo por fim e volto a pôr o pano na testa. – E não quero saber.

   — Como não? Temos que saber! – Ela se anima.

   — Temos? Nós não temos nada, Chelsea. Não quero falar com você sobre coisas tão íntimas como essa. Ainda não entendeu que não sou sua filha? – Me exalto. Ela me olha assustada e até abre a boca para falar algo, mas desiste.

   Como Chelsea não falou mais nada desde que perdi a cabeça, decido sair de casa e tomar um ar livre. Talvez aquilo me ajudasse a melhorar da tontura.

   Antes que pergunte, sim, eu me arrependi de tê-la tratado daquele jeito e sim, eu pedi desculpas naquele mesmo dia mais tarde. Afinal de contas eu precisava de um ombro para chorar e o Josh não era a melhor opção.

   Voltando um pouco para mais cedo, eu decidi ir até a farmácia e quebrar o orgulho que tinha comigo mesma. Apesar de ainda negar internamente, resolvi comprar um teste de gravidez.

   “Vai dar negativo mesmo, o que custa tentar?” Eu repetia em minha mente. Quem sabe me ajudava a acreditar?

   — 2,80. – A moça do caixa disse, fazendo-me voltar a realidade.

   — Obrigada. – Digo após pegar a sacolinha com o bendito dentro.

    Caminho de volta para casa com a cabeça martelando, se tivesse mesmo um bebê dentro de mim eu nunca iria perdoa-lo por me fazer sentir tantas coisas ao mesmo tempo.

[...]

   “Um bebê. Que doidera! O máximo que deve ser é verme.” Pensei antes de abrir a embalagem.

   Chelsea não estava em casa, provavelmente teria ido encontrar meu pai. Menos mal, assim não teria plateia para assistir aquela palhaçada.

   Sentei no sanitário e urinei num potinho que o Josh usava para guardar seus brincos e piercings. Juro que higienizei certinho depois.

   Coloquei o palitinho do teste mergulhado no xixi e segui as instruções contidas no verso da caixa. Dizia para eu esperar de 1 a 5 minutos. Pois bem. Cronometrei no relógio e aguardei ansiosa para ver o resultado negativo em minha frente.

   Apesar de tentar me convencer de que não havia nada com o que me preocupar, meus dedos estavam inquietos e a hora parecia não passar. Eu andava de um lado pro outro no banheiro com uma sensação inexplicável por dentro. Era como se meu sangue estivesse fervendo.

   5 minutos. O relógio apita avisando que o tempo havia esgotado.

   — Ai meu Deus, vamos nessa... – Digo baixinho e respiro fundo enquanto vou em direção ao teste.

   Seguro o teste com as mãos trêmulas e dou uma boa encarada no resultado. Meu queixo cai em surpresa. Leio e releio diversas vezes as instruções, me certificando de que eu não estava entendendo errado. Mas as instruções só apontavam para um resultado.

   Dois tracinhos.
   Eu estava grávida.

» thɑt summer - noɑrt. Onde histórias criam vida. Descubra agora