thirty three.

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[...]

» Alemanha, dias atuais.

   Melissa e eu chegamos atrasadíssimas no consultório da Dra. Katherine. A culpa foi toda da Mel que gastou vinte e cinco minutos só pra escolher uma roupa e ainda me forçou a fazer uma trança raiz em seu cabelo. De onde diabos ela tirou que eu sabia fazer trança raiz? Mal conseguia fazer um rabo de cavalo arrumadinho. Enfim, só sei que tentei. E não ficou lá essas coisas.
 
   — Olha quem veio!! A Deinert mais estilosa da família! – Mônica se alegrou ao ver a Melissa depois de tanto tempo.

   Mel sempre me acompanhava na terapia quando era mais nova. Minhas sessões eram durante as férias e a mamãe me deixava de babá. Ela nunca gostou daquele consultório pelo fato de ter que me esperar do lado de fora, ou seja, uma criança hiperativa, no auge dos seus 4 ou 5 anos, sendo obrigada a ficar com a bunda presa num sofá, esperando quase 2 fucking horas... Não era moleza não!

   — Obrigada pela parte que me toca, Mônica. – Brinco.

  — Você também é arrumadinha... – Mônica faz cara de nojo, mas não consegue segurar a risada. – Nossa Mel, você tá enorme! Te deram fermento no café da manhã?

   — Eww... Nunca comi fermento, mas deve ser horrível! – Mel faz careta. Mônica e eu caímos na risada.

   — Já tá com uns 15 anos?! – Mônica provoca.

   — Quê? Tá me chamando de velha mesmo, Mônica... – Mel fica ofendida. – Tenho 7 anos, ok?

   — Hum... Ok, desculpa! – Mônica leva as mãos ao alto.

   A Dra. Katherine abre a porta ao ouvir o burburinho que está ocorrendo no corredor.

   — Oh, minha paciente favorita chegou! – Ela diz ao me ver. Nos abraçamos.

   — Nossa, que honra. – Comento.

   — Ué, mas e a Dra. Sandra?! – Melissa pergunta encarando a Kath de uma maneira no mínimo constrangedora.

   Todos os olhares voltam para ela.

   — E quem é essa coisinha linda? – Kath se abaixa pra falar com a Mel que mantém a cara de brava.

   — É minha irmã... Liga não, ela tem essa cara de durona, mas é um amorzinho. – Encaro a baixinha. Kath ri.

   — Nossa ela é sua cara... Que genética abençoada, ein? – A Doutora brinca. – Sua mãe fez um ótimo serviço. – Ela se põe de pé novamente. – Bom, vamos nessa?!

   — Vamos... – Ponho a mão no bolso e tiro meu celular, entregando para a Melissa. – Toma, se distrai... Eu volto logo.

   Ela nem responde nada, apenas se joga no sofá ao lado da mesa da Mônica e os dedinhos correm pelas dezenas de aplicativos que ela mesma baixara no meu aparelho. Ele estava a ponto de explodir de tanta coisa que havia ali.

   Entro na sala da Dra. um pouco mais a vontade dessa vez. Sinto como se estivesse indo tomar um chá da tarde e jogar conversa fora com uma amiga que acabara de conhecer.

   Kath se aconchega em sua poltrona e faz algumas anotações na sua prancheta antes de falar qualquer coisa.

   Ela dá um gole na sua garrafa d'água do Batman e limpa a garganta, acertando a postura em seguida.

   — Eai? Dormiu bem ontem? – Pergunta com um sorriso apagado no rosto.

   — Sim... Me senti bem depois da sessão. – Admito.

   — Hum... Então fez bem colocar aquele peso pra fora?

   — Fez sim, sem dúvidas... Andei pensando e realmente eu não devo ficar me maltratando com essa culpa. Até porque eu falei com o Noah na época... E ele mesmo me perdoou, então não entendia por que eu continuava me sentindo mal. Entende? – Faço cara de dúvida.

   — Sim, completamente! Como eu disse ontem, você que precisa se perdoar, antes de qualquer coisa. Até porque não temos controle do passado, né? – Balanço a cabeça. – A única forma de consertar as coisas é tentando outra vez e buscando sempre melhorar. Buscando sempre fazer diferente da outra vez, sabe? É assim que aprendemos a nos perdoar... Tendo noção de que não somos um monstro e que está tudo bem errar de vez em quando.

   A Doutora falava enquanto meus olhos estavam congelados em seus lábios. Tudo que saía de lá era tão sábio que eu me sentia como uma criança que está aprendendo algo novo. Eu poderia passar o dia inteiro ouvindo Katherine me aconselhar sobre meus conflitos internos.

   — Concorda comigo? – Ela me tira do transe.

   — Ahn... Sim! Com certeza. – Gaguejo.

   — Ótimo... Então vamos lá? – Ela aperta a caneta e se prepara para me ouvir. – Quero que me conte tudo que aconteceu depois que o... Noah, certo? – Ela quer ter certeza.

   — Isso. Noah. – Confirmo.

   — Ok. Tudo que aconteceu depois que o Noah te deu a aliança. Sou todo ouvidos.

   Certo. Vamos lá.

   Respiro fundo e mexo um pouco o pescoço, me preparando pra inicar.

   — Então... Nós ficamos o sábado e o domingo na casa de praia do tio dele. E foi maravilhoso, literalmente. O Noah fez cada detalhe ser único e especial. Eu estava me sentindo num paraíso, isenta de qualquer problema... Mas a realidade bateu na porta quando voltamos pra casa na segunda-feira.

» thɑt summer - noɑrt. Onde histórias criam vida. Descubra agora