thirty eigth.

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[...]


» Alemanha, dias atuais.

Termino de contar a história e coço o nariz de leve, tentando não demonstrar o quanto aquilo ainda me afetava. Solto um sorriso apagado para a Doutora e espero ela reagir de alguma maneira. Kath tira seus óculos de grau e os põe apoiados em suas pernas. Ela analisa suas anotações e finalmente me direciona a palavra.

- Então acabou nesse momento? - Ela quis saber.

- Sim. Terminamos nesse dia. - Respondo.

Kath limpa a garganta.

- Ok, Sina... Posso perguntar o que aconteceu depois do término? - Ela me olha e espera uma resposta.

- Claro. Bom... Depois que terminamos as coisas ficaram mais complicadas... Pra não dizer infernais. - Sorrio fraco.

» Miami, Flórida. 2013.


- Por isso que estou pensando em processar a loja, o que você acha?- Heyoon acabara de passar duas horas reclamando de uma loja que ela alega ter sido tratada mal. E segundo a Yoon ela havia comprado uma bolsa caríssima que rasgou na primeira semana de uso.

Eu já não aguentava mais ter que ouvir os white girl problems da Heyoon, ela que me perdoe, mas minha cabeça estava em uma órbita totalmente diferente. Eu nem entrei em detalhes sobre o Noah, porque sabia que ela me encheria de perguntas que me deixaram mais pra baixo do que já estava. Preferi fingir que tava indo tudo bem e só contar o que de fato aconteceu quando eu desembarcasse na Alemanha.

Eu chequei o relógio: já passava das três e meia da tarde. Começo a pensar se eu não tinha marcado algo para fazer com o Josh.

- Sina? Tá aí? - Ouço a Heyoon chamar.

- Ahn... Oi, estou.

- Então, o que você acha? Peço pra mamãe entrar na justiça ou não?! - Reviro os olhos. Ainda estávamos naquele assunto?

- Eu acho que você deveria comprar outra bolsa e deixar isso pra lá. - Digo por fim. - Tenho que ir agora, o Josh tá precisando de mim... Beijão! - Encerro a ligação antes que ela possa dizer qualquer coisa. A Heyoon tinha o dom de me fazer ficar presa numa chamada por longas horas e eu simplesmente não conseguia escapar, a não ser que desligasse na sua cara.

Deixo o celular em cima da cama e vou até a cozinha. Era uma quarta-feira a tarde e o Josh se encontrava em casa afundado num tédio sem fim.

Fazia alguns dias desde que Noah e eu havíamos terminado, uma semana e alguns dias pra ser mais exata. Confesso que nos primeiros dias eu tinha esperança de receber uma mensagem dele dizendo que tudo não passou de uma brincadeira de mal gosto. Ou na mais absurda hipótese, eu torcia para que aquilo tudo fosse um sonho e eu acordasse na casa de praia de seu tio. Vivendo o melhor fim de semana da minha vida.

Mas não aconteceu. Nós havíamos mesmo terminado e ele tinha mesmo me dito todas aquelas coisas que não saíam da minha cabeça por nada. Por mais que eu tentasse me distrair, a voz dele repetindo que ainda amava a Zoe ficava ecoando em minha mente.

- Eai. - Josh me cumprimenta ao me ver. Ele estava na cozinha com o rosto sujo de farinha.

Ah, é. Tínhamos combinado de cozinhar juntos. Não achei que ele estava falando sério.

- O que você tá fazendo? - Faço careta ao ver a bagunça que ele havia feito naquele lugar. A cozinha estava de cabeça pra baixo.

- Brownie! - Ele diz animado. - Quer dizer... Estou tentando. - Dá de ombros. O jeito que ele fala me faz soltar uma risada fanha.

- Quer ajuda? - Me aproximo para ver de perto.

O Josh já estava com a massa pronta, apesar de ainda estar bem líquida. Já havia colocado uma remessa no forno e enquanto esperava ficar pronto ele preparava o restante. Tomo o fue de sua mão e começo a bater o restante da massa. Josh diz que vai buscar ingredientes para rechear os bolinhos e começa a revirar o armário, até que volta segurando um pote de Nutella que já estava pela metade e um vidro de pasta de amendoim.

- Foi a única coisa que encontrei... - Ele coloca os potes em cima do balcão e vai checar o forno. - Ai papai, já estão no ponto! - Josh dá um grito de empolgação.

Ele pega a luva protetora e tira a forma de dentro do forno. O cheiro dos brownies toma conta da casa inteira.

- Wow, se o gosto estiver tão bom quanto o cheiro... eu tiro meu chapéu pra você, Beauchamp. - Dou uma encarada na forma em sua mão e a aparência também está ótima.

- Lógico que estará bom, fui eu que fiz. - Ele se gaba e faz uma pose engraçada.

Josh põe a forma em cima do balcão e abre o pote de amendoim. Meu cenho franziu assim que aquele cheiro invadiu minhas narinas. Desde quando eu tinha começado a odiar amendoim?

- Credo... - Um nó se forma em minha garganta. - Que cheiro horrível... - Paro de bater a massa e me afasto do balcão, tampando o nariz com a ponta dos dedos.

Josh me olha com estranhamento.

- Quê? Você estava elogiando há dois segundos atrás...

- Não o cheiro do brownie, falo do cheiro do amendoim. - Vou até a geladeira e pego uma garrafa d'água. - Credo...

- Você tá maluca, amendoim é a parada mais cheirosa que existe. - Josh segura o vidro da pasta de amendoim e dá uma longa fungada. O olho com expressão de deboche.

Encho um copo d'água e bebo tudo de uma vez.

- Nunca tinha notado o quanto esse cheiro é repugnante...

- Você que tem frescura com tudo! - Josh revira os olhos e enfia o dedo no vidro, tirando uma boa quantidade de pasta. Ele come tudo de uma vez.

- Desculpa, não posso te ajudar com o resto. Não me sinto bem. - Digo após guardar a garrafa na geladeira.

Josh dá de ombros e continua recheado seus brownies. Eu cambaleio até meu quarto e jogo meu corpo enfraquecido em cima da cama. Acho que alguém iria adoecer.

» thɑt summer - noɑrt. Onde histórias criam vida. Descubra agora