Capítulo 1 - Jarro do "OPA"

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Coloquei a mão na testa, analisando mais alguns processos. Descruzei e cruzei as pernas diversas vezes.

-Samanta... – Jayce entrou de uma vez, o que me fez quase pular de susto. Coloquei a mão no peito e me encostei na cadeira, claramente assustada.

-Vou proibir de deixarem você entrar desse jeito na minha sala. – Respirei fundo.

-Sorte que eu me acostumei com seu belíssimo humor matinal. – Levantei o dedo do meio. Ele fez cara de ofendido e colocou a mão no peito. Nos conhecemos na faculdade e não nos separamos dês de então. – Você nem sequer retornou à ligação para Sophie? Eu vi sua secretária indo fazer o deposito...

-Jay, ela é muito orgulhosa para me ligar e pedir o maldito dinheiro. Ela tem meu celular, pode me ligar a qualquer hora, mas ela liga justo na hora que ela sabe que eu não fico na empresa. – Rolei os olhos. – O que você quer?

-Você tem que ir naquele evento beneficente, você sabe, não é?

-Você vai. – Dei de ombros. – Você que é sociável feito uma borboleta, então... Não vou, eu já dou muito dinheiro para eles.

-Você poderia levar a Alice... – Rolei os olhos.

-Leva você, não vou levar uma pré-adolescente para...

-Ela adora isso. – Ele me interrompeu, me fazendo rolar os olhos.

-Eu sei caralho. – Bufei.

-Jarra do "OPA".

-Se eu colocar dinheiro nessa merda toda vez que eu xingar, 'to' fodida. – Dei de ombros, o fazendo rir. – E Alice vai ter dinheiro para duas faculdades. – Jayce rolou os olhos e deu de ombros. – Você não veio aqui para conversar sobre minha filha ou alguma coisa beneficente, desembucha.

-Temos um problema com celebridade sendo processada...

-Todos os dias temos... O que é essa vez? – Cerrei os olhos. Sua expressão era indecifrável.

-Acusação de estupro...

-Tá na clausula, eu não defendo estuprador. – Me levantei. – Nem violência doméstica, nem...

-Esse caso é diferente... – Ele sentou-se em um dos sofás no meio de minha sala.

-Não 'to' nem aí para estuprador, lembra? – Bufei. – Eu especifiquei nos contratos todos os processos que eu não envolvo o nome da firma, ou do nome que meus pais construíram.

-Ela é uma mulher... – Ele engoliu em seco. – Pelo que eu li do caso se trata de difamação e extorsão. – Suspirei.

-Uma mulher acusada por outra mulher ou por um homem? – Jayce nunca insistiria ou traria algo assim até mim.

-Outra mulher. – Pisquei algumas vezes e suspirei, caminhando até ele. Me sentei na mesinha, que ficava no meio dos dois sofás, e o encarei.

-Há acusação de danos morais, estupro, violência... Além do mais a cliente não tem essa clausula no contrato...

-Todos tem... – Cruzei os braços. Engoli em seco. Uma sensação estava me tomando.

-A cliente é da época do seus pais... E no contrato diz que você tem que representa-la, advogada principal...

-Nem fudendo. – Eu disse entre dentes. – Quando eu assumi a firma e fiz a ponte para Nova York eu perdi uma semana inteira fazendo com que todos os clientes viessem e assinassem o novo contrato...

-Menos...

-Billie... – Eu interrompi. Eu senti que cairia... Ela estava sendo acusada de estupro? Eu não quis chama-la para assinar, por diversos motivos. Depois de transarmos no natal eu nunca mais a vi. Contratos e outras circunstancias judiciais Jayce tomava conta, ele era um dos associados... Respirei fundo e balancei a cabeça negativamente. – Vai você...

-Os O'Connell te exigiram no caso... – Ele parecia que engasgaria. Me levantei de uma vez. Cerrei os olhos e formei punhos.

-Tem mais uma coisa... – Eu presumi. O conhecia muito bem.

-E o caso é em LA, você tem a licença lá também...

-Não é só isso, temos uma firma inteira com meu nome lá... Me fala a verdade, antes que eu arranque de você. – Eu disse, ameaçadora.

-Eles estão aqui, o irmão e a mãe...

-Puta que pariu. – Eu soltei, colocando a mão sobre a boca. Me levantei e comecei a andar na sala, tentando arranjar alguma desculpa.

-Você tem que colocar várias moedas no jarro do "OPA". – Ele acrescentou, me fazendo encara-lo com ódio. – Estão na sala de reuniões, eu disse que você estava indo. – Arregalei os olhos e andei em sua direção, ferozmente. Jayce saiu, literalmente, correndo de dentro da sala. Olhei para meus saltos e pensei se valeria a pena entrega-los para arremessar em Jayce...

Depois de um tempo refletindo sobre tudo aquilo, eu decidi por finalmente ir até lá. Caminhei despreocupadamente, planejando a morte do meu melhor amigo. Adentrei a sala e pude ver as feições preocupadas de Maggie e Finneas. Respirei fundi e abri a porta de vidro. Caminhei até eles. Ambos me abraçaram. Me sentei na cadeira da ponta e coloquei as mãos em cima da mesa.

-Sam... – Maggie estava com os olhos lacrimejados. – Estão a acusando injustamente... – Respirei fundo e forcei um sorriso.

-A menina estava dizendo que ela estava bêbada e forçou a entrar no carro... – Finneas disse apressadamente. – Minha irmã não faria isso, você sabe disso...

-Vou designar um dos melhores advogados para o caso dela... – Tentei passar confiança em meu tom de voz.

-Eu quero você. – Me virei para encarar a porta. Jayce estava acompanhado de Billie. Ela não havia mudado tanto, apesar de estar diferente. Seu cabelo estava com um tom escuro, quase preto, preso em tranças boxeadoras. Ela vestia um cropped preto de mangas compridas, justo, com a calça logo abaixo, sem deixar aparecer sua barriga. Extremamente larga. Ela havia tirado o moletom grosso que vestia e colocou sobre a mesa. Meu coração estava acelerado. Respirei fundo e engoli em seco. Me levantei, a olhando.

-Senta, por favor. – Eu disse apontando para o lugar ao lado de onde eu estava sentada, de frente para os familiares. Ela o fez. Voltei a me sentar, olhando-a. Seu perfume havia tomado toda a sala. – As coisas que vou ter que te perguntar são invasivas...

-Eu continuo querendo você. – Ela estava tensa.

-Vão te atacar insanamente, você é figura publica e minha firma é a melhor e maior do estado de Los Angeles e a segunda de Nova York. A mídia vai colocar o tubarão contra o peixinho dourado... – Fechei os olhos brevemente e me encostei na cadeira. Eu estava relutante em aceitar isso, por mais que eu fosse quase obrigada. – Eu não aceito processos de acusação de estupro.

-Samanta... – Ela se esticou e agarrou minha mão, fazendo com que minha pulseira fizesse barulho. Ela olhou em meus olhos. – Por favor...


N/A: Nem deu tempo de sentir falta do nosso casal favorito <3 

O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora