Capítulo 17 - Luz Branca

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N/a: Gente se tiver alguns erros me perdoem, estou doente para caralho e não to conseguindo ler tudo para revisar. Não queria deixar vocês sem capitulo. 

Era como se eu estivesse assistindo minha própria morte. Era desesperador, mas eu não conseguia fazer absolutamente nada.

As coisas acontecem de maneiras estranhas, inesperadas. Afinal, ninguém espera morrer de uma maneira tão passional. Eu não sentia absolutamente nada dali. Era como assistir um programa de TV, mas ninguém me ouvia ou sentia. Billie se desesperava ao lado do meu corpo desacordado e quase sem vida alguma.

-Ela perdeu muito sangue. – A médica dizia. – Tirem a outra daqui. – Billie foi levada à força para fora.

Sempre achei que minha história se tratava de paixão, amor e muitos momentos turbulentos.

Nesse momento minha vida se passou diante dos meus olhos, de uma maneira que eu não havia parado para pensar, já que momentos ruins podem ser mais memoráveis. De uma maneira bonita. Cheia de momentos bons, que eu nem sequer parei para dar valor ou contar cada um deles, se é que seria possível.

Foquei com todas as forças na morte de Jhon, esquecendo-me de todos os momentos bons que passamos. Ele me ensinou basicamente tudo. Me ensinou a ser independente, o que me ajudou a viver sem sua cautela e proteção.

Foquei em inseguranças em vez de apreciar nosso primeiro beijo. Que olhando por outros olhos foi cauteloso, delicado e inocente.

Foquei em nossa separação e magos sobre ela, em vez de olhar para nosso incrível recomeço.

Fui tirada brutalmente do hospital, meu cérebro projetou-me em seu quarto. Éramos adolescentes.

-Você parece uma maluca. – Eu disse a vendo desenhar no meio da noite em sua parede. Me sentei e passei a observa-la. Billie não piscava, duvidava que poderia me ouvir. Ela sempre fazia a mesma cara quando tinha uma de suas brilhantes ideias, era fofo.

Naquele momento eu fiquei irritada por ter sido acordada, nem sequer parei para observar o quanto ela ficava linda, ou que um de seus maiores sucessos começou ali.

Novamente fui levada para outro lugar, meu aniversário de dezesseis. Jhon havia me tirado cedo da cama, irritando-me como de costume. Ele me carregou até seu belíssimo e amado carro. Eu estava tão irritada por qualquer motivo que não percebi sua felicidade em me ensinar a dirigir, ou sua feição de criança vendo-me liga-lo com facilidade. Eu só conseguia pensar em como ele era irritante.

-Afasta. – A voz de Jhon se tornou longe e agora meu corpo machucado estava muito próximo. Era como se eles estivessem me puxando de volta. – Vamos querida... Você consegue. – A questão era se eu queria conseguir. – Mais uma vez... – A mulher se abaixou e sussurrou em meu ouvido. – Sabe aquela luz branca? Corre dela garota, o mais rápido que conseguir.

-A perdemos... – O outro médico disse com as pinças na mão. Estávamos em uma sala de cirurgia. Tudo parecia tão limpo.

-Só a perdemos se eu declarar. – Ela disse ríspida. – Essa mulher é uma advogada que luta pelos direitos das mulheres, é mãe, filha, irmã. Não a perdemos, não até eu declarar. – Ela olhou para a enfermeira e esfregou as pás. – Afasta. – Senti uma dor absurda no peito e tudo voltou a desaparecer.

Coisas haviam mudado dês do incidente e minha quase morte. Eu senti que precisava mudar. Me mudei para uma mansão em LA. Um condômino fechado, com muita segurança. Pensei que faria bem estar em casa novamente, apesar de ter que fazer várias viagens até o outro extremo do país. Passei muito tempo focando em momentos ruins tornando-os o foco da minha história.

Me mudei para NY para evitar Billie a todo custo, mas ela acabou me achando. Não fazia mais sentido ficar ali planejando cada detalhe, para que no final eu acabasse baleada em uma casa em chamas. Ficar dia após dia remoendo cada coisa ruim que acontecia comigo, que são muitas, não ajudaria em minha recuperação. Não que fossemos uma família de propagando de margarina, mas éramos felizes. Alice adorava LA, as praias e os avós.

As coisas simplesmente acontecem. Em um momento eu estava dormindo em uma casa de praia com a mulher que eu amo, e em um instante fui puxada brutalmente por uma psicótica obcecada. Não adiantou planejar cada centímetro da viagem.



Abracei meu próprio corpo e observei a área da piscina. Estávamos fazendo um churrasco para comemorar a casa nova. Minha família e a de Billie conversavam animadamente. Jayce estava na piscina com Alice. Eu os observava do batente da porta, maravilhada. Um sorriso involuntário brotou em meu rosto. Senti suas mãos envolveram minha cintura e seu queixo repousar em meu ombro.

-É lindo, não é? – Ela beijou minha bochecha e voltou a encarar nossos familiares. Billie soltou-se de mim e caminhou quase correndo até seu irmão, dando-lhe um empurrão. O que começou uma briga de brincadeira.

-Sei que isso é bonito, você torna tudo bonito. – Ouvi sua voz logo atrás de mim. Me virei para encara-lo. – Você torna a morte bonita, mas creio que não é sua hora. – Jhon acariciou minha bochecha. – Sempre nos imagino em uma cena parecida com essa, no final de tarde. – Seus olhos encontraram os meus. – Ninguém nos avisa que essa é a luz, que um momento bom é a luz branca... – Ele colocou as mãos dos ambos os lados do meu rosto e beijou minha testa. – Acredito que você possa tornar tudo isso real Samanta, não é sua hora. Eu amo você. – O abracei com todas minhas forças. Eu podia sentir seu cheiro, seu toque. Era tudo tão real.

Em um segundo tudo desapareceu bem diante dos meus olhos. Minha boca estava seca, com um gosto terrível de sangue. Meus olhos se abriram dolorosamente. Minha perna ardia, assim como meu rosto. Meus lábios estavam formigando. Pisquei algumas vezes, sentindo uma confusão momentânea.

-O que... – Eu gaguejei, doía falar. Era como se cacos de vidro estivessem presos em minha garganta.

-Enfermeira. – Ouvi a voz desesperada de Billie.

-Samanta. – A voz de Tereza soou docemente em meus ouvidos. Pisquei os olhos algumas vezes, recuperando minha visão lentamente. Cerrei os olhos, sentindo uma forte vertigem. Flashes vinham em minha cabeça, dando-me uma dor absurda. Todo aquele momento se resumia a isso, dor. Aquilo era real? A doutora colocou uma luz bem nos meus olhos e me pediu para acompanhar seu dedo.

-Prazer Samanta, sou a doutora Robert. – Ela estendeu a mão, a apertei com certa dificuldade. Meu corpo não estava nos melhores condições. – Você sabe onde está? – Assenti, evitando causar aquela dor na garganta novamente. – Como está se sentindo.

-Dor... – Foi o que consegui soprar, sentindo meu peito arder.

-Vamos aumentar a dose de morfina. – Ela sorriu de lado. – Você inalou muita fumaça, pode doer para falar ou respirar. – Ela sorriu fracamente. A reconheci, sua voz. – Você perdeu muito sangue, pode sentir vertigens, fraqueza, um gosto de sangue na boca... – Ela enfiou as mãos no bolso do jaleco. – Você é muito forte.

-Obrigada. – Consegui dizer mais claramente, a fazendo sorrir. Billie estava parada ao lado da médica, afoita. Seu rosto apresentava vários tiques, ela estava nervosa. – Você está bem? – Disse um pouco mais alto. Billie limpou as lágrimas em seus olhos e se aproximou, agarrando minha mão. – Quanto tempo eu fiquei desacordada? – Minha voz saiu bem fraca e falha.

-Dois dias. – A médica sorriu. – Vou pedir mais alguns exames, por enquanto vou deixa-las a sós.

-Alice? – Me ajeitei na cama, observando Tereza acariciar meu cabelo.

-Foi comer, com Jayce e seu pai. – Mamãe se abaixou e beijou meu rosto, já que a testa estava machucada. – Vou avisa-los. – Tereza soltou minha outra mão e saiu do quarto. Encarei Billie, que me observava com cautela.

-Você fez exames? Está tudo bem?

-Estou bem Sam... – Ela suspirou aliviada. – Eu tive tanto medo de te perder... – Ela voltou a chorar. – Nem pense em fazer isso de novo, me deixar.

-Não vou.

O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora