Capítulo 15 - Amiga

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Nosso ultimo mês foi em função de procurar pistas sobre o caso de Jessica, se realmente estava viva, mas parecia que quem estava por trás daqueles ataques sumiu completamente. O apartamento foi entregado, absolutamente nada acontecia. Estávamos em plena paz. Billie estava em uma longa série de shows. Eu costumava dizer que sua carreira sempre estava no auge. Nunca fora esquecida, pelo contrário. O que dificultava nosso relacionamento, já que não podíamos mais fazer uma caminhada no Central Park sem sermos abordadas. Confesso que seu sigilo sobre sua vida amorosa me incomodava. Haviam especulações, mas nada assumido. Era como estar mais uma vez no armário.

A tal viagem para praia finalmente iria rolar. E eu, como sempre, estava surtando. Havia conferido tudo pela milésima vez. Billie estava sentada sobre sua mala me olhando com a famosa Bitch Face. Eu queria soca-la por estar tão calma. Ela mordia incessantemente a haste de seus óculos, a parte final.

-Pegou o protetor? – Eu disse, mordendo o lábio inferior.

-Anda logo vadia. Você disse que viajaria de carro, vamos chegar lá à noite. – Ela disse ríspida. – Já disse que peguei.

-Garota eu vou te acertar bem na cara. – Levantei o dedo do meio, o que a fez revirar os olhos e arrastar as malas para fora do apartamento.

Coloquei na rádio, observando bem a estrada. Identifiquei a música logo no começo, dando uma alta gargalhada. Billie sorriu e balançou a cabeça negativamente.

-My Lucifer is lonely (Meu Lúcifer está solitário) – Eu gritei desafinadamente junto com sua voz no rádio. Aumentei consideravelmente o volume. – Can't commit to anything but a crime (Não pode se comprometer com nada além do crime) – Cantei, junto com as duas Billies. A do carro e a do rádio. Eu não conseguia parar de rir e cantar. Eu adorava a ironia e indiretas diretas na música.

Cantamos toda a música, até findar e começar uma que eu não gostava tanto.

-Você acha que eu escolheria o diabo para meu time? – Olhei de relance Billie, que soltou uma alta gargalhada e jogou a cabeça para trás.

-As vezes fico confusa, você diz muito "Jesus" quando está comigo. – Arregalei os olhos com o tom de malicia que Billie estava usando. Meu rosto ficou tão vermelho, eu podia ver meu reflexo no espelho.

-Isso é seu? – Mordi o lábio inferior, totalmente maravilhada com a casa. Era feita de madeira com uma fundação de palafitas. Meus olhos brilhavam. – Eu ia sugerir ir até LA, mas esse lugar... – Soltei um suspiro, maravilhada.

-Comprei há um tempo, mas nunca cheguei a vir. – Me virei para encarar Billie. Me aproximei e selei nossos lábios. O lugar tinha uma composição de cores perfeitas, de madeira com branco. Havia espreguiçadeiras na varanda, que dava bem de frente para a praia. Era possível ver o mar livremente dali. – O pôr do sol está próximo... Tem champanhe na geladeira. Pedi para abastecerem.

-Metida. – Eu sorri, vendo-a rolar os olhos e caminhar até a varanda.

-É meio estranho ter uma casa na praia. – Ela suspirou. – Eu costumava tirar as férias em LA mesmo, ia caminhando para a praia...

-Você e seu irmão são as pessoas menos bronzeados de LA. – Eu gritei da cozinha, pegando as taças e a bebida. Ela rolou os olhos e pegou a taça que eu oferecia. Tinha uma espreguiçadeira ao lado da que Billie estava deitada. A empurrei suavemente e me deitei ao seu lado. Ela se virou e escorou a cabeça em meu peito.

-Eu queria poder saber que estaríamos assim anos atrás... – Ela passou o braço por atrás do meu corpo, envolvendo minha cintura.

-Eu também. Me pouparia dor de cabeça, lágrimas, ódio... – Suspirei, beijando o topo de sua cabeça. – Eu amo você... – Ficamos ali, assistindo aquele pôr do sol clichê e romântico. Meu coração estava aquecido, preenchido.

-Vamos no mercado da cidade? Fica quarenta minutos daqui. Quero comprar umas frutas, esqueci de pedir... – Eu assenti, sentindo-a se desvencilhar do meu corpo.

-Vamos tomar um banho antes, pode ser? – Suspirei. – Eu preciso de um banho.

-Realmente. – Ela fez uma cara de nojo, o que me fez empurra-la pelo ombro e rir. – Estou brincando, você está cheirosinha.

-Quer isso bebê? – Eu disse mostrando-a uma cenoura. Ela cerrou os olhos e se aproximou.

-Não... Vamos pegar morangos, por favor... – Ela mordeu o lábio inferior. – Você vai cozinhar?

-Claro. Vou pegar algumas coisas para fazer uma massa... – Mordi o lábio inferior, lembrando-me do gosto. – Vai ficar muito gostoso...

-Mais do que você? – Ela colocou a mão na minha cintura e se aproximou. Sorri provocativa. – Você ficou fazendo doce no banho e me deixou com vontade...

-Para garota, tá no cio? – Comecei a rir, a fazendo rolar os olhos e jogar a cabeça para trás.

-Você vai ver... – Ela foi interrompida. Ao ser chamada Billie se afastou em um pulo de mim, como se eu fosse radioativa.

-Podemos tirar uma foto? – Uma das meninas disse timidamente. Engoli em seco e me virei de costas, escolhendo alguns tomates.

-Claro. – Ela disse simpática. – Venham.... – Ela tirou foto com cada uma, separadamente.

-Vai ter um show na cidade? – As meninas ficaram eufóricas, mas Billie negou.

-Estou passando férias com minha amiga... – Senti uma pontada em meu peito, que quase me fez engasgar. Pigarreei e me afastei, pegando mais alguns ingredientes. Era seu trabalho, sua vida. Eu não poderia pedi-la para estampar em cada esquina nosso relacionamento ou sua sexualidade. Era injusto. Mas ela não poderia me pedir para que eu não ficasse chateada em ser chamada de "amiga".

-Você está muito calada. – Billie envolveu minha cintura. Eu mexia o molho de tomates frescos com cuidado.

-Você pode se queimar... – Eu disse, soltando seus braços da minha cintura. Billie se afastou e sentou-se na bancada da cozinha.

-O cheiro está incrível. – Ela disse alto. – Ainda acho que você deveria abrir o restaurante. Sua comida é tão gourmet e gostosa...

-Não tenho tempo para isso. – Peguei a massa que eu havia feito e a coloquei no molho, tapando-a com uma panela de vidro. – Usei farinha sem glúten.

-Você realmente se importa com minhas restrições alimentares. – Ela fez um beicinho e colocou a mão no peito.

-Eu me importo com as pessoas Billie. – Eu desliguei o fogo e a encarei por alguns segundos. – Está pronto...

Caminhei até a geladeira e peguei um vinho barato que eu havia comprado. Abri sem delicadeza e não me preocupei em pegar uma taça. Montei os pratos e os coloquei na mesa. Billie não disse nada, apenas se sentou e tocou um gole do suco. Tomei um generoso gole da bebida, que descia quente por minha garganta. Não me importei se combinaria ou não com o prato, só queria bebê-lo.

-Está uma delicia. – Ela disse baixo, voltando a comer em silencio.

Depois de um prato limpo e a metade da garrafa de vinho, a janta havia se findado. Me levantei para retirar as coisas da mesa, mas Billie segurou suavemente em meu pulso, me fazendo encara-la.

-Não sei o que eu fiz... – Ela disse baixo, seus olhos haviam duvida e pesar. Desvencilhei meu pulso e caminhei até a pia. Coloquei os pratos e lavei rapidamente a mão. – Sam...

-O que? – Me virei de uma vez. – O que foi?

-O que está acontecendo? – Dei de ombros e balancei a cabeça negativamente. Um riso sem humor saiu da minha garganta. – Sabe que eu não gosto de te ver bêbada.

-Eu não estou bêbada Billie, nem a garrafa inteira me deixaria bêbada. – Caminhei até a sala, tendo-a no meu encalço. – Eu me sinto culpada por estar brava, chateada... – Me virei de uma vez, para encara-la. – Eu sabia disso... Tratei todos aqueles casos de imagens, impedindo que tudo fosse jogado no ventilador. – Soltei o ar pesadamente. – Eu só achei que seria diferente... – Ela abriu e fechou a boca diversas vezes. – Não estou te culpando, nem poderia. É que é complicado estar no armário de novo.

Eu sentia falta de quando nossas brigas era pelo filme que assistiríamos, ou pela pipoca que acabou...

O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora