Capítulo 9 - A moça do parque

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Flashback on.

-Vim trazer sua calcinha. – Katarina estava parada de frente à minha porta.

-Você é casada. – Eu disse ríspida. – Ia me contar quando?

-Eu te contei boneca. – Ela segurou em meu queixo, me fazendo rolas os olhos.

-Eu adoro transar com você. – Eu saí do apartamento, não queria que Alice escutasse. – Mas não estou afim de ficar chupando um pau por tabela. – Cruzei os braços abaixo dos seios, claramente irritada.

-Nossa. – Ela deu um passo para trás, rindo. – Você fica gostosa irritada.

-Não me faz dar na sua cara. – Eu rosnei.

-Sabe que eu gosto. – Ela disse provocativa, caminhando até o elevador. – Vou guardar de lembrança. – Ela mordeu o lábio inferior e balançou minha calcinha no dedo. Levantei o dedo do meio, a fazendo gargalhar. – Sabe onde colocar isso...

-Vai tomar no seu cu. – Entrei para o apartamento. Jay estava com as mãos nas orelhas de Alice, que brincava angelicalmente com seu carrinho azul.

Flashback off.

-Você tem que descansar. – Jay sentou-se ao meu lado. Eu estava com a cabeça cheia. – Katarina não disse mais nada, depois daquilo?

-Não, nem se ela quisesse. – Joguei os arquivos sobre a mesinha e me encostei no sofá, esticando as pernas no tapete. – Eu não sabia... Não tinha como saber... – Suspirei, colocando a mão em meu rosto. – Eu estava lá pensando em outra pessoa, desejando que fosse outra pessoa. Acho que o fato dela ser casada só me deixou ainda mais culpada. – Respirei fundo.

-Você e Billie precisam parar de frescura. – Ele bufou. – Nunca vi pessoas se amarem tanto e insistirem em ficar separadas. – Ele caminhou até a porta. – Chamei ela.

-Você fez o que? – Eu estava com o cabelo todo desarrumado, vestida com uma blusa branca enorme.

Jay abriu a porta, antes mesmo de Billie bater. Ela parecia confusa, tanto quanto eu.

-Emergência, eu já volto. – Ele disse para mim. – Entra querida. – Eles se cumprimentaram. Billie o fez, e Jay fechou a porta logo depois de sair. Me levantei rapidamente.

-Eu sempre me perguntei onde estava. – Ela apontou para minha blusa. Uma vaga lembrança me tomou. Era a blusa de seu show na praia, em que eu a vi beijar Anny e depois se declarar. Assenti e apontei para o sofá, sentando-me desajeitadamente ali. Eu provavelmente estava vermelha feito um tomate. Billie ainda estava parada ao lado da porta, quando batidas a fez se virar bruscamente.

-Jay deve ter esquecido alguma coisa, ele nunca leva a maldita chave. – Eu disse, me encolhendo no sofá. Billie abriu a porta, não vi quem era. Ela se abaixou e pegou uma calcinha do capacho. Engoli em seco, sentindo uma pontada. Havia um bilhete grampeado ali.

- "Ainda sinto seu gosto, resolvi te devolver. Love k." – Ela leu e depois se aproximou. Praticamente jogando a peça na minha cara. – Me chamou aqui para esfregar suas trepadas na minha cara? Não estou interessada. – Ela cruzou os braços. Me levantei.

-Como é que é?

-Sei que você quer mostrar que está bem, mas não precisa me magoar pra isso Becker. – Engoli em seco, ouvindo meu sobrenome ser chamado acidamente.

-Foi você que decidiu tudo isso. – Joguei a calcinha para o lado. – Acha que eu gostei de todos aqueles processos de imagem? Cada foto sua com aquelas mulheres que eu tive que lidar? Sabe por que sua vida pessoal é tão reservada para o público? – Meus olhos se encheram de lágrimas. – Porque chegava em mim primeiro. E eu cuidei de tudo. Em um ano foram mais do que eu posso contar em todos os meus dedos. – Tentei recuperar minha sanidade. – Não te chamei aqui para isso. – Observei bem a calcinha. – Essa merda nem é minha. – E realmente não era. Eu conhecia minhas calcinhas. Billie encarou o chão. – Te chamei aqui para falar de um dos seus casos. Vou te mostrar algumas fotos, pode ser bem forte... Se não quiser ver, eu te entendo. – Ela assentiu. – Tem alguma coisa de errado com a morte da sua amiga...

-Jessica não era minha amiga. – Ela corrigiu. Achei mais adequado do que "amante". Suspirei e resgatei as fotos impressas.

-Sei que você conhecia o corpo dela, o suficiente para perceber algumas diferenças. – Billie engoliu em seco. Me aproximei com as fotos. – Olha, sem tatuagem. – O corpo fora atingido de trás, a fazendo cair para frente. Billie desviou o olhar, soltando um longo suspiro.

-Não acho que seja ela. – Ela cambaleou para trás. – Onde conseguiu isso?

-Não interessa. – Joguei as fotos sobre a mesinha.

-Eu não queria que aquilo fosse até você. – Ela enfiou as mãos dentro do bolso.

-Foi difícil para um caralho deixar que alguém me tocasse. – Eu disse baixo, sentindo uma onda de raiva me consumir. – Eu sentia nojo de mim. Como se eu tivesse culpa... – Fiz uma pausa. – Foi difícil me livrar disso, então se eu quiser dar para a primeira mulher que aparecer. Eu vou dar. – Dei de ombros. – Você me chutou para longe e se certificou de que eu ficasse lá.

-Não vem com essa. – Ela deu um passo incisivo em minha direção, apontando o dedo. – Eu não queria estar com nenhuma delas, mas achei que supriria e preencheria o vazio que eu estava sentindo.

Passei a língua por meu dente, tentando controlar a raiva. Meus punhos estavam cerrados.

-Não fale como se não fosse sua escolha ficar longe. – Funguei. – Deus, como eu te queria perto... Eu liguei uma semana depois do incidente, eu queria colo. Estava vulnerável, precisava de alguém que eu confiasse... – Limpei meu rosto. – Você desligou, nem fez questão de retornar...

-Eu... – Ela gaguejou, se aproximando. Billie segurou em minhas mãos. – Me desculpa.

-Não vem com essa de sentir pena. – Dei um passo para trás, mas ela me acompanhou. Billie colocou uma das mãos em meu rosto, me fazendo encara-la.

-Eu achei que você ficaria melhor longe de mim. – Ela limpou minhas lágrimas com o dedão e beijou minha testa, ficando quase na ponta do pé. – Eu não devia ter feito isso... – Ela beijou minha bochecha.

-Quando coisas ruins vão parar de acontecer comigo? – Funguei. Billie soltou minha mão e me envolveu em um abraço. – Talvez eu mereça... – Enterrei minha cabeça em meio ao seu cabelo. Eu sentia falta daquele cheiro.

-Não fala isso. – Ela disse firme acariciando meu cabelo.

-Mamãe... – O abraço se desfez, virei e me deparei com Alice. Ela estava completamente empolada. Me aproximei, sentindo meu coração acelerar. Seu rosto estava inchado, assim como seus olhos e boca.

-Precisamos ir para o hospital. – Eu gaguejei. – Querida o que você comeu? – Alice estendeu um chocolate, que ela estava segurando atrás das costas. Estava enrolado em seu cobertor preferido. Minha respiração ficou ofegante. – Isso tem amendoim. – A peguei no colo rapidamente e me virei para Billie, que estava com os olhos arregalados. – Ela tem alergia, precisamos...

-Vou levando-a para o carro, pega suas coisas e troca de roupa... – Ela se aproximou de Alice, que não queria me soltar de maneira alguma.

-Pega alguma calça no meu guarda roupa e uma bolsa dentro do closet, ela é azul de nuvens. – Eu disse ao perceber que Alice não sairia do meu colo. – Vou chamando o elevador.

Eu estava tentando respirar e manter a calma, mas o desespero estava começando a tomar conta. Calcei meu chinelo e corri para o lado de fora, pensando em como aquele chocolate poderia ter chegado até ela. Minhas mãos tremiam, pude ouvir a respiração dificultosa de minha filha. Billie logo saiu com as coisas em mão. Alice envolveu meu pescoço enterrando a cabeça ali. Não demoramos para entrar no carro. Fui atrás com minha filha no colo.

-Quem te deu isso Alice? – Tentei soar o mais doce possível.

-Uma moça no parque. – Ela disse com certa dificuldade. – Ela tinha o cabelo aqui. – Ela colocou a mão no pescoço. – Ela disse que era sua amiguinha mamãe. Tinha a franjinha igual a minha, axim. – Ela fungou, tentando colocar a mão na testa. Meu coração disparou. Eu tinha uma ideia de quem era. Billie me olhou pelo retrovisor. 

O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora