Apertei os olhos e reprimi um preguiçoso bocejo. Eu estava farta de ler todos aqueles processos. Batidas na porta me fizeram praticamente saltar. Meus pais estavam na cidade e resolveram levar Alice para passear. Massageei minhas têmporas, buscando um equilíbrio emocional. Larguei os documentos sobre a mesa de centro e caminhei lentamente até a porta, recebendo novas batidas pela demora.
-Já vai. – Obviamente era alguém que frequentava minha casa, ou não teria subido sem ser anunciado. – Que coisa...
Meu queixo caiu no momento em que a porta se abriu. Era Katarina, seus olhos encontraram os meus. Ela suspirou e inclinou a cabeça de lado. Ela estava com uma blusa de alça, havia hematomas em seu ombro e um pequeno corte em sua boca. Senti a saliva descer por minha garganta dolorosamente.
-O que você está fazendo aqui? – Em um lapso lembrei que Billie estava prestes a chegar, jantaríamos. – Você tem que ir embora, mas foi bom aparecer... Me lembrou de pedir ao porteiro para não te liberar. – Seus olhos encheram de lagrimas, o que me fez sentir uma breve culpa.
-Meu marido ficou irritado... – Ela olhou para o chão. – Posso entrar... – Fechei os olhos e suspirei. A sensação de que aquilo em parte era minha culpa me tomou. Era complicado lidar com tantos sentimentos assim. Lhe dei passagem, estava certa de que me arrependeria.
-Ele nunca fez isso antes, eu não sei o que aconteceu... – Ela sentou-se no sofá. – Eu mereci... – Ela tapou o rosto. Suspirei e me aproximei de Katarina, passando a mão por suas costas.
-Não é sua culpa. – Eu praticamente gaguejei. Katarina fazia ruídos de choro.
-Pode pegar uma blusa de frio? – Ela gaguejou, eu assenti mesmo que ela não pudesse ver.
-Você é policial, procura alguém e faz justiça...
-Não... Ele não fez por mal. – Fechei meus olhos brevemente. – Não vai se repetir.
-Katarina, sério... Vamos procurar uma ajuda psicológica. – Eu disse caminhando em direção ao corredor.
Tantas coisas estavam rodeando minha cabeça. Tirei o celular do bolso, adentrando meu closet cegamente. Jayce havia me enviado uma matéria há algumas horas, mas nem sequer cogitei abrir já que eu estava imersa em processos e no caso de Jessica. Suspirei e resolvi abri-la, me parecia um péssimo momento, mas me daria tempo para organizar as ideias para aconselhar e ajudar Katarina. Balancei a cabeça negativamente, afastando maus pensamentos. Era uma matéria sobre Katarina e uma perseguição corpo a corpo com um bandido com o dobro de seu tamanho.
"Ganhei alguns hematomas, mas com certeza ele levou a pior. "
Pisquei algumas vezes ao ler aquela bendita frase. Eu estava incrédula. Puxei uma blusa de frio qualquer e tirei os olhos da tela... Ela não seria capaz de fazer isso... Afastei novamente os pensamentos e voltei para a sala. Katarina me olhou assustada, como se tivesse fazendo algo escondido, ou apenas estava assustada depois da agressão do marido e da perseguição. Me sentei ao seu lado e lhe entreguei a blusa de frio. Ela fungou e agradeceu, vestindo-a.
-Eu não sei o que fazer... – Katarina suspirou, já havia parado de chorar completamente. Ela começou a falar sobre como estava se sentindo, prestei atenção em cada palavra. Acariciei seu cabelo e lhe aconselhei da maneira que pude. Desviei meu olhar para a mesinha, observando que alguns documentos haviam sumido. Voltei a olha-la. Ela observava meu rosto, levantou suavemente a mão e a colocou em minha bochecha se aproximando. Seus lábios encostaram nos meus delicadamente. Não fechei os olhos, observando um papel dobrado atrás dela. Separei nossos lábios e sorri brevemente. Dedilhei seu ombro e mordi o lábio inferior.
-Tira esse moletom... – Minha voz soou rouca e devagar. Ela sorriu de lado e o fez rapidamente. Me aproximei de seu ouvido e mordisquei suavemente o lóbulo da sua orelha.
-Eu estava com saudades... – Ela sussurrou.
Entrelacei os dedos em seu cabelo, os tendo completamente nas mãos. Puxei com força e sem delicadeza, inclinando sua cabeça para trás. Katarina arregalou os olhos, assustada. A levantei a força, segurando em seu cabelo.
-Acha mesmo que sou idiota? – Eu disse entre dentes. – Vadia presunçosa. Você não tem vergonha de fingir uma coisa dessa? – Era visível meu ódio. Katarina me olhava de canto de olho, observando-me.
-Foi fofo... – Ela zombou. Soltei seu cabelo e me afastei. – Senti saudades...
-Não me faz te bater...
-Não combina com você... – Ela cruzou os braços, provocativa. – Você gosta de apanhar, não é? – Ela mordeu o lábio inferior. – Confesso que é gostoso levar alguns tapas de você.
Cerrei meus olhos, completamente irada. Me aproximei rapidamente e tirei os papeis de seu bolso a fazendo arregalar os olhos.
-Sai da minha casa. – Eu berrei.
A porta se abriu, era Billie. Ela entrou incisiva, desconfiada.
-Que porra é essa? – Ela cruzou os braços. Parecia irritada.
-Sai da minha casa. – Eu rosnei mais uma vez, ignorando totalmente Billie.
-Você sabe que eu volto. – Ela disse provocativa, me fazendo avançar em sua direção. A empurrei com toda força em direção a porta. Ela cambaleou para fora, parecia satisfeita. Eu estava prestes a surtar. Bati a porta com toda força e puxei meu cabelo para trás, andando em círculos.
-Que merda foi essa.
-Essa mulher... – Eu mal conseguia falar. Meus batimentos estavam acelerados minhas mãos e peito ardiam. Provavelmente eu estava vermelha feito um tomate.
-Está mais calma? – Billie acariciava meu rosto, eu estava deitada em seu colo.
-Ainda quero matar ela, mas estou calma. – Suspirei, levantando o olhar para encara-la.
-Sam... – Ela empurrou minha cabeça para se levantar. – Rolei os olhos com sua falta de delicadeza. – Você e eu... Nós estamos... – Ela parecia com vergonha. – Vim para jantar e te encontrei feito um chiuaua, puro ódio.
-Um chiuaua? – Me sentei, observando-a.
-Pequena, tremendo, com raiva... – Não consegui evitar uma gargalhada. Passei a mão no rosto e dei de ombros. – Você tem que saber que não sou a mesma adolescente de quando nos conhecemos...
-Eu sei... – Ela sentou-se ao meu lado. – Você se tornou mais forte, obstinada, mais gostosa... – Ela mordeu a língua sorrindo grande. Eu adorava essa cara que ela fazia. Ela parecia a mesma com a mesma pureza em seus olhos azuis... Ela era um tipo ponto de paz. – As vezes você me assusta, mas sinto que você é você...
-Assusto? – Mordi o lábio inferior, curiosa.
-É, as vezes parece que eu não te conheço, mas quero conhecer. Cada novo lado, cada novo detalhe. – Ela selou os lábios nos meus. – Eu te amo, nunca deixei de amar...
-Também te amo, mas tenho medo de você conhecer e não gostar...
-Impossível eu não gostar de algo sobre você. – Ela suspirou. – Eu adoro até quando você morde todas as tampas de canetas, mesmo odiando. Adoro quando você fica passando os dedos no meu dente, mesmo odiando...
-Não pode fugir mais...
-Não vou. – Ela colou os lábios nos meus, aprofundando o beijo e os dedos em meu cabelo.
N/A: Gente eu sumi pq estou viajando e tá complicado escrever. Desculpa e não desistam de mim. Amo vocês <3
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O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie Eilish
RomanceA Segunda parte do romance: O azul dos teus olhos. Quando Samanta estava conformada com a situação de perder definitivamente seu amor um caso criminal trás de volta todos os sentimentos oprimidos e rejeitados pela mesma. Ela se vê sem maneiras de r...