-Tudo bem? – Mamãe sentou-se ao meu lado na escada, passando o baço por trás de minhas costas. Soltei pesadamente o suspiro e forcei um sorriso.
Todos resolveram ir até o quintal, estavam aprontando algo. Eu estava sentada na escada, refletindo sobre o que Billie havia me dito. Nós praticamente morávamos juntas em NY. Alice era completamente apaixonada por Billie. Elas passavam horas brincando. Billie tirava tantas fotos dela que havia lotado seu celular em algumas semanas. Era lindo vê-las juntas. Sempre me mantive longe de relacionamentos, por medo de que Alice se apegasse e no final não desse certo. Não queria faze-la passar por abandonos, mas com Billie eu não me sentia insegura nesse ponto. A família dela havia acolhido minha filha rapidamente. Sempre foi eu, Alice e Jayce. Estava sendo um processo, e eu faria o máximo para conseguir me livrar dos hábitos. Ela também estava sendo injusta, mudanças sempre foram complicadas para mim.
-Nada mãe... – coloquei a mão sobre sua perna.
-Vocês brigaram? Senti um clima... – A encarei, encabulada com a percepção de Tereza.
-Não brigamos, apenas tivemos uma conversa complicada. – Encarei o chão. – Vai dar tudo certo, somos assim... – Me esgueirei para olhar o quintal. – O que estão fazendo no meu quintal?
-Uma fogueira, não sei como surgiu essa ideia incrível. – Mamãe repreendeu com a cabeça. – Ele comprou aquelas que aperta um botão e as madeiras começam, mas ele não está sabendo esperar... Nem sabemos se ele acertou na montagem. Ele e seu irmão estão brigando. – Ela fez uma pausa, que me fez encara-la. – Querida... – Voltei meu olhar para Tereza que sorriu. – Eu e seu pai estávamos jogando algumas coisas fora e achamos alguns DVDs, acho que você vai querer ver...
-Sobre o que? – Sorri de lado, nostálgica.
-Jhon... – Sua voz ficou densa. – São dois ou três vídeos... – Ela soltou pesadamente o ar. – Acho que vai te ajudar... – Ela apontou o dedo indicador para mim e usou seu tom ameaçador falso. – Mas tem que me devolver....
-Anda logo. – Eu dizia empurrando-o. Jhon sentou-se na cadeira de frente à câmera e lançou-me seu olhar reprovando-me. – Vai Jhon...
-Não vou conseguir com você me encarando. – Ele ainda me encarava. Bufei bem alto e saí do meu quarto. Ele voltou a encarar a câmera. – Que tolice. – Meus olhos estavam marejados vendo a tela do computador. Eu aperto havia me tomado. – Samanta Becker, você me faz fazer cada coisa... – Ele suspirou, encarando as próprias mãos. Jhon não costumava ficar envergonhado. Eu entrei bruscamente no quarto.
-Você está no celular Jhon... Por favor... – Insisti o fazendo pegar uma almofada e arremessar em minha direção. Era engraçado me ver tão novinha, praticamente um bebê.
Obrigatório escutar Bon Iver & St. Vincent – Roslyn
Jhon coçou a cabeça desajeitado e encarou a câmera, parecia que ele estava olhando para mim. Suspirei e me ajeitei no chão do closet, ainda enarando o vídeo.
-Sou Jhonatan Becker, irmão mais velho da Samanta Becker. – Ele sorriu de lado. – Samanta as vezes é difícil de se lidar, ela pode ser mandona. – Ele disse mais alto, me fazendo gritar algumas ofensas através da porta. – Ela é minha irmãzinha, por mais que odeie que eu a trate como criança. – Ele sorriu grande. – Sempre tivemos pouco, mas Sam nunca deixou de compartilhar. É uma das várias qualidades dela, essa capacidade de fazer para os outros e esquecer completamente do que está passando no momento. – Quando eu não estou em um dos meus melhores momento, basta olha-la sorrir... – Ele voltou a encarar a tela. Jhon fez uma pausa. – É engraçado dizer todas essas coisas sobre ela, já que normalmente eu a pentelho bastante. – Seu sorriso desapareceu. – Eu deveria dize-la... – Ele assentiu. – Vou passar a dizer mais. – Jhon fez uma pausa para mexer no celular. – Não vou te deixar ver isso. – Ele tomou a decisão. – Confesso que estou com medo de ir para a faculdade, mas não por você. – Seus olhos marejaram. Ele empurrou a cadeira para trás e projetou o corpo para frente, apoiando-se nas pernas. – Tenho medo de não ser bom o suficiente, tenho medo da minha vida sem você por perto. – Ele engoliu em seco. – Não tenho duvidas que você será uma adulta incrível. – Ele voltou a se encostar na cadeira. – Mas não consigo projetar meu futuro... – Ele bufou. – Eu te imagino com uma garota incrível que te ama. – Ele sorriu. – Eu sei sobre isso, e quero que saiba que te apoio e que sempre vou defende-la. Sempre vou lutar para que você não sofra por ter a capacidade de amar. – Ele assentiu. – Eu basicamente estraguei seu trabalho escolar, então... Vou refazer sem essa merda sentimental. – Ele deu uma piscadela. – Amo você. Sei que as menininhas vão ficar babando em mim.
Eu estava sem folego, tocando na tela do computador. Eu sentia tanta sua falta. Passei para o próximo vídeo. Meu peito doeu ao reconhece-lo no vídeo. Foi na noite do acidente.
-Mamãe me expulsou do hospital por algumas horas, ela disse que eu precisava de um banho. – Ele tinha olheiras e machucados pelo rosto. Seus olhos estavam marejados. – Eu nunca senti um medo tão absurdo quanto agora. – Ele fechou os olhos, para que as lagrimas caíssem. – Eu decidi fazer essa merda de vídeo. – Ele bufou, jogando seu corpo contra o encosto da cadeira. – Minha cabeça está doendo para caralho. – Ele soltou pesadamente o ar e voltou a encarar a câmera. – Eu fui na capela, disse para que ele me levasse... – Ele olhou para o chão e colocou a mãos envolta da nuca. – Você não pode morrer Sam... Não pode me deixar sozinho em um mundo sem você... Não vou conseguir... – Era visível seu desespero. Meus olhos estavam inundados. – Você vai se dar bem sem mim... – Ele limpou o rosto. – Mas... Eu simplesmente não vou conseguir. – Ele respirou fundo. – Vou voltar para o hospital, você vai acordar em breve...
-Você está bem? – As mãos de Billie pousaram sobre meu ombro. Ela me olhava, claramente preocupada. – Você está chorando. – Billie ajoelhou-se ao meu lado, limpando meu rosto. Ela encarou a tela do computador e depois voltou a me olhar. – Eu estou aqui por você. – Ela tirou o computador do meu colo e sentou-se ao meu lado. Puxando-me para um abraço. – Eu te amo bebê... – Eu simplesmente não conseguia cessar meu choro.
-Desculpa ser essa namorada de merda. – Funguei. Apertei os olhos com força, sentindo lágrimas escorreram livremente.
-Eu te amo com todas suas falhas... – Ela afastou-se e segurou em meu rosto, fazendo encara-la. – Amar é isso... – Ela limpou as lágrimas suavemente. – Não te amo apesar de suas falhas, eu amo você com elas. – Ela beijou minha testa. – Você é uma pessoa incrível, ele estaria orgulhoso. Na verdade, eu até acho que ele previa essa mulher sensacional que você é. – Ela voltou a me abraçar.
-Eu não te mereço. – Funguei a fazendo revirar os olhos.
-Cala boca. – Ela selou os lábios nos meus.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie Eilish
RomanceA Segunda parte do romance: O azul dos teus olhos. Quando Samanta estava conformada com a situação de perder definitivamente seu amor um caso criminal trás de volta todos os sentimentos oprimidos e rejeitados pela mesma. Ela se vê sem maneiras de r...