Poucas pessoas tinham a audácia de me subestimar, e as que faziam. Se arrependiam.
-Senhor Bolland. – Eu disse para o senhor que era responsável pelas câmeras da delegacia. Entrei para a pequena sala e sorri, tentando parecer amigável.
-Sam. – Ele levantou as mãos, me cumprimentando com um abraço. – Você sumiu...
-É a correria. – Coloquei minha bolsa sobre sua mesa. – Posso te pedir um daqueles favor? É importante... – Segurei em sua mão. Ele piscou algumas vezes, entendendo a gravidade do assunto.
-Vou tomar um café. – Ele me deu uma piscadela e se levantou. – Volto em vinte minutos, acha que você... – Eu assenti, agradecida.
Voltei as gravações para o horário em que parei na delegacia. Me vi passando e aproximei na entrada, vendo uma mulher com altura mediana e bem magra ficar na porta pouco tempo depois em que eu havia adentrado. Ela vestia um casaco preto com capuz, o que não me ajudava a revelar sua identidade, toda vez que um policial entrava ou saía ela desviava o olhar para o celular. Ela estava estrategicamente parada de costas para as câmeras da entrada. Mordi o lábio inferior e vi o marido de Katarina entrar e pouco tempo depois eu sair. Eu estava claramente atordoada. A mulher apontou o celular para minha bunda, dando um zoom. Engoli em seco, voltando a me encostar na cadeira. Foi um chute, por isso a calcinha não era nem parecida com a minha. Fechei os olhos e passei a mão na testa, tentando pensar em algo. Meu telefone tocou, era Billie.
-Posso dar leite para ela? – Alice havia ficado bem e recebido alta na noite seguinte. Billie havia ficado com ela, para que eu pudesse vir até a delegacia. – Ela disse que está com fome...
-Pode. – Me levantei, pegando minha bolsa. – Já estou indo.
-Você é maluca. – Billie disse no meu ouvido. Me virei brevemente, para encara-la feio.
-Shi... – Depois que eu saí da delegacia Bolland me mandou uma mensagem com uma placa. A mulher havia voltado, me seguindo. Rastreamos a placa até aqui, um prédio antigo e pouco frequentado. Tirar foto da lista de moradores não me pareceu o suficiente. Estávamos no prédio ao lado, ele estava abandonado. O carro em questão não estava lá, então teríamos que esperar em um local.
-Vamos para o terraço? – Assenti, subindo na escada de incêndio, ela nos levaria até o topo com facilidade. – Você tem medo de altura, quer que vá primeiro?
-Não, tá tudo bem. – Me virei para sorrir, subindo com certa dificuldade. Billie estava logo atrás. Olhei rapidamente para trás, vendo-a encarar minha bunda. – Billie...
-Você que tá com a bunda na minha cara, vai logo. – Ela me empurrou pela bunda, me fazendo subir mais alguns degraus.
Finalmente chegamos à uma porta que nos daria acesso às escadas para o terraço. A empurrei com certa força, nada aconteceu. Billie terminou de subir e caminhou até a porta, observando minhas tentativas em vão. Quando eu desisti ela simplesmente a puxou, deixando-me com cara de tacho. Rolei os olhos e entrei primeiro, assim que Billie entrou e fechou atrás de si tudo ficou escuro. Senti algo beliscar minha bunda, me virei rapidamente com a lanterna do celular ligado. Ela bateu na minha mão, afastando a luz da sua cara. Era nítido que ela havia feito aquilo, pela cara de criança que aprontou. Comecei as subir as escadas de metal, dando para a porta de acesso ao terraço. A abri com facilidade, dessa vez. Um vento forte passou por nós. Era difícil ar puro naquela cidade tomada por prédios... Caminhei até a beirada, onde tinha uma vista incrível, tanto da rua que precisávamos quanto do restante da cidade acesa à escuridão da noite.
-Acho que estamos invadindo a casa de alguém. – Ela disse apontando para alguns colchões bem no fundo e alguns latões recém queimados. Billie parou ao meu lado. O vento fazia com que seu cabelo voasse sobre seu rosto. A encarei, seus olhos estavam brilhando e seus lábios avermelhados. – Para de me encarar. – Ela me empurrou pelo ombro, o que me fez rolar os olhos e voltar a olhar para a rua.
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O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie Eilish
RomanceA Segunda parte do romance: O azul dos teus olhos. Quando Samanta estava conformada com a situação de perder definitivamente seu amor um caso criminal trás de volta todos os sentimentos oprimidos e rejeitados pela mesma. Ela se vê sem maneiras de r...