Capítulo 7 - A história

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Billie havia dormido em casa, como nos velhos tempos, mas no quarto de visitas. Eu realmente acho que seriamos boas amigas. Nos conhecemos melhor do que qualquer um, apesar do afastamento de anos. Caminhei preguiçosamente pela sala de estar, era bem cedo e eu nem havia dormido. Batidas na porta me fizeram pular. Coloquei a mão no peito e caminhei preguiçosamente até lá, recuperando-me do susto. Abri a porta e meu queixo foi ao chão.

-Sua filha está aí? – A maneira que Sophie falou me cortou o coração. Pisquei algumas vezes e neguei com a cabeça. – Posso entrar? – Lhe dei passagem, sentindo um frio tomar minha barriga. Ela estava com fundas olheiras e mais magra que sempre fora. Os cachos haviam se perdido, apenas ondas fracas haviam ficado. Ela usava roupas de frio, apesar de não estar. Me aproximei e me sentei no sofá, a vendo fazer o mesmo.

-Você está bem? – Ela enfiou as mãos no bolso do casaco e assentiu. – Tentei te ligar tantas vezes... Ouviu minhas mensagens?

-Ouvi Samanta... – Ela não conseguia olhar em meus olhos. Minha garganta havia um nó. – Vim te pedir para parar...

-Sophie... – Coloquei a mão em sua coxa, olhando-a com pesar.

-Não, você não entende... – Ela olhou em meus olhos. Estavam vermelhos e fundos. – Não vou conhece-la e não quero...

-Ela é sua... – Comecei, mas fui interrompida.

-Ela é sua filha, não precisa de alguém como eu na vida... Não tem medo que eu chegue perto da sua filha? – Sua voz estava marejada, mal saía. – Eu não consigo olhar para ela... Cada foto que eu recebo eu penso em como foi doloroso para nós aquele dia... – Ela agarrou minha mão. – Eu não consigo mais dormir, sempre acordo assustada. Eu não sou forte como você...

-Foi terrível para nós duas, mas eu procurei ajuda... – Lágrimas começaram a escorrer por meu rosto.

-Mas eu engravidei e não tive coragem de tirar... – Ela gaguejou. Senti uma pontada forte no peito. – Você assumiu uma responsabilidade que não era nossa, você... – Ela limpou o rosto. – Você montou um império, superou e criou aquela criança que te ama incondicionalmente. Fez justiça com as próprias mãos, por nós, e montou uma fundação... Eu não posso competir com isso.

-Não estamos competindo. – Coloquei a mão no seu rosto. – Você seria uma advogada maravilhosa... Continua, eu te ajudo....

-Não. – Ela desviou o olhar. – Não seja melhor do que você é... Eu tentei... Você sabe o que eu fiz.

-Você não tinha culpa Sophie, depressão pós parte é coisa séria... – Limpei seu rosto. – Você não teve culpa.

-Eu olhava para ela e me lembrava daquela respiração ruidosa em cima de mim. – Fechei os olhos e encostei nossas testas. – Prometa que ela nunca vai saber disso... – Me afastei para olha-la nos olhos. – Você tem que me prometer que Alice não vai saber que foi fruto de um estupro...

-Eu prometo. – Segurei em sua mão. – Mas ela pode te conhecer Sophie...

-Não posso olha-la depois de ter feito aquilo...

-Você não era você... – Segurei com força. – Você tinha sido vítima, estava no puerpério...

-Você foi vitima também e não te vi tentar matar um recém-nascido... – Engoli em seco, sentindo meu peito doer ainda mais. – Pelo contrário, você registrou ela e... – Ela fez uma pausa para respirar. – Alice não merece ter uma tia viciada em antidepressivos que é sustentada pela amiga de infância...

-Me deixa te ajudar. – Acariciei seu rosto. – Por favor...

-Eu não sei mais o que fazer... – Ela olhou para o chão. – Eu queria ter sido forte o suficiente para não ter deixado isso me consumir.

O azul dos teus olhos - pt. 2 - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora