Capítulo 2

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Yeosang tinha a terrível mania de ler deitado na cama, mas sempre falhava. Ele começava a cochilar mais ou menos na 5ª página, e geralmente acordava com uma dor nas costas horrível e com mais um livro amassado.

Nesta madrugada acordou num susto, ouvindo uma porta bater e passos no corredor e, segundos depois, o barulho do chuveiro sendo ligado.

— Porra, já está na hora? — Comentou para si mesmo, esfregando os olhos, se esticando e pegando o celular na cabeceira da cama para checar as horas.

Duas da manhã.

Mingi normalmente ia dormir às 23:00. Costumava dizer que estava em fase de crescimento então tinha que dormir e comer mais do que os outros. Quem ele queria enganar? Estavam na faculdade. Só queria uma desculpa para comer toda a comida da casa. Mas Yeosang sempre achou esse papo furado engraçado, então só dava de ombros e deixava passar.

Se levantou devagar, guardando o livro no criado-mudo e seguindo em direção ao banheiro.

— Mingi? — bateu na porta com o dedo indicador.

— Oi — respondeu baixinho.

— Está tomando banho? — perguntou baixo, franzindo o cenho, não sabia se o amigo estava mal ou não.

— Sim?

— São duas da manhã, cara — balançou os braços ao redor do corpo em confusão

— E tem horário pra tomar banho?

— Claro que sim. Entre as 19:00 e 21:00 da noite. — Levou o dedo indicador a testa, mostrando sabedoria, como se Mingi pudesse ver.

Ouviu a porta do banheiro ser aberta, mostrando seu amigo com uma bermuda preta e balançando a toalha nos cabelos, os secando.

— Você é muito besta — sorriu enquanto se esticava para pendurar a toalha no cabideiro. — Eu não estava conseguindo dormir, então resolvi tomar um banho — deu a volta no balcão da cozinha, se sentando e recostando o rosto às palmas das mãos.

— Por que? Teve um pesadelo? — Se aproximou, sentando na banqueta de frente para o maior.

— Não exatamente — começou a girar a cadeira, inquieto. — Eu sonhei com uma pessoa.

Yeosang travou.

Mingi não sonhava com pessoas. A vida inteira ele foi acostumado a sonhar com objetos abstratos ou inanimados, mas nunca pessoas. Sabe "simplesmente acontece"? Mingi era a ponta da flecha.

— Uma pessoa? — Espalmou as mãos na bancada, se aproximando. A expressão de surpresa estampada em seu rosto, os olhos arregalados e a boca meio aberta em um "O" — Com quem?

— Eu não faço a mínima ideia — se levantou, andando de um lado para o outro da cozinha. — Não consigo ver o rosto, só vejo a pessoa desenhando e observando o céu — se aproximou, agarrando os ombros do amigo com as duas mãos e o chacoalhando. — Yeosang, eu estou ficando doido!

— Que doido, o que — bateu nas mãos do amigo, as retirando de si. — Pode ser algum aviso, vai ver você vai virar artista. Olha que legal — apontou para o amigo, sorrindo.

Yeosang riu vendo o amigo fazer a maior cara de tédio já vista.

— Yeosang, eu não desenho. Por isso eu faço música, porra. Lembra da 5ª série? Quando eu desenhei um foguete? — Riu, se jogando no sofá.

— Nós dois sabemos que aquilo não era um foguete — se levantou, batendo nas pernas do amigo enquanto ria da lembrança.

— Eu fui posto para fora de sala, cara. Puta escola homofóbica — fechou os punhos, fingindo raiva. — E nem era uma rola, eu estava realmente empenhado em desenhar um foguete.

— Admita que era uma rola e você vai conseguir descobrir quem é o garoto misterioso — estendeu as mãos para Mingi, o puxando para fora do sofá.

— Não era uma rola — parou de frente para o amigo, empurrando a testa dele com um dedo e seguindo em direção ao quarto com Yeosang logo atrás. — E eu não quero saber quem é aquele fulano.

— Ele pode ser alguém importante, poxa.

— Ou alguém chato, ele está me atrapalhando a dormir! — comentou alto, se virando para o menor atrás de si.

— Você é muito chato, não sei porque eu sou seu amigo — se recostou ao batente da porta de seu quarto, cruzando os braços em frente ao corpo.

— Eu sei. Você se mudou para a casa em frente à minha e sua mãe apareceu com você na minha porta dizendo exatamente assim — simulou a expressão pidona da mãe de Yeosang. — "Eu e meu filhos nos mudamos hoje, ele precisa de um novo amiguinho" — pegou nas bochechas do menor enquanto ria, as balançando e fazendo voz de neném. — O Yeosang precisa de um amiguinho?

— Que mentira, Mingi! — Bateu nos braços do maior, o empurrando de volta ao seu quarto. — Não foi assim, e vai dormir, amanhã temos aula.

— Volta aqui, amiguinho! — Gritou do meio do seu quarto, ainda rindo. A porta estava fechada, mas sabia que ele escutaria.

— Vai se foder! — Voltou a se deitar ainda sorrindo.

Realmente foi assim, não se orgulhava disso, mas o que poderia fazer? Só tinha 6 anos, e precisava mesmo de um amigo.

Enquanto se aconchegava no quentinho de seu quarto, começou a pensar em tudo que Mingi havia dito. Já havia ouvido essa história antes, foi exatamente o que aconteceu com Wooyoung e San, os dois alunos de dança.

Os dois sempre acreditaram muito em almas gêmeas. Foi até muito fácil para que percebessem que eram uma um do outro, então depois foi só questão de tempo até tudo se encontrar e os dois ficarem juntos. Mas Mingi não acredita, então esperava muito que não fosse o mesmo caso. Por que daí teriam 3 opções:

1. (A possibilidade mais altruísta) O garoto descobriria que Mingi é cético e guardaria para si o fato de serem almas gêmeas. Abrindo mão de sua própria felicidade.

2. (A média) Descobriria e contaria para ele, mas não faria nada para mudar o fato de que Mingi não acredita, apenas seguindo a vida.

3. (A mais egoísta, porém, a mais interessante, com certeza) Ele descobriria e tentaria fazer com que Mingi acreditasse.

— Por favor, garoto, seja egoísta, escolha a 3ª — cruzou os dedos das mãos, fechando os olhos e pedindo aos deuses para que tudo desse certo.

Apesar de Mingi sempre ter sido o maior e mais forte, Yeosang sempre cuidou muito dele. Toda essa pose de fortão era enganação, na verdade ele é muito gentil e emotivo, ao contrário do Kang. Talvez por isso formem uma dupla tão boa.

Então, o menor torcia para que tudo funcionasse, e caso não funcionasse, ele ainda estaria ali para oferecer um ombro amigo.

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