Capítulo 3

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A aula estava um saco, apresentação de trabalho era sempre assim, desse mesmo jeito. A maior parte da turma dormia enquanto uns gatos pingados tentavam prestar atenção em toda aquela baboseira. 

Yunho era um deles, o moreno estava dando tudo de si para permanecer acordado e prestar atenção no que Yuri dizia, mas no final das contas, após bater sua cabeça repetidas vezes na parede atrás de si sem querer, Yunho se deu por vencido. Desistiu e resolveu ir para seu alojamento.

Definitivamente, a melhor parte de ser um adulto e estar na faculdade era poder fazer o que bem entendesse, porque ninguém iria te cobrar nada, nem mesmo o professor que administra a aula.

Estão todos pouco se fodendo.

Olhou para o lado e Hongjoong estava dormindo, pensou em acordá-lo para dizer que estava indo embora, mas o ruivo dormia tão calmo que chegava a ressoar, e Yunho teve pena de fazê-lo. Hongjoong trabalhava demais. Além da faculdade, ele fazia artesanato como forma de ganhar um dinheirinho extra e também ajudava os pais no empreendimento deles.

Então, deixou um bilhete na mesa, bem ao lado do rosto do amigo, dizendo que estava de saída, arrumou suas coisas e saiu de fininho para não atrapalhar ninguém.

Decidiu ir andando para casa, afinal, era perto, e hoje em particular, tinha muito a pensar. 

Na sala mesmo o garoto havia feito diversas orações, tentou fazer um alinhamento simples, que havia aprendido com sua mãe, e também havia olhado em vários sites o que significaria o tal choque ao esbarrar em outro alguém, mas não achara nada que fosse coerente. 

Usuário1995 disse que talvez ele devesse ir ao médico. Ignorou. 

Até chegou a pensar na questão de almas gêmeas, mas balançou a cabeça negativamente na mesma hora, era impossível, ninguém da família dele havia tido um, então, por tabela, ele também não teria.

Né?

O fato de não ter uma alma gêmea não abalava muito Yunho. Já chegou a fazer com que o moreno passasse muitas noites em claro chorando por nunca viver um amor que estivesse escrito nas estrelas, e também pensando em como seria se tivesse. No final das contas ele soube administrar todo o sentimento dentro de si e passar a simplesmente acreditar, sem segundas intenções. Quem sabe assim, se ele quiser muito, um dia realmente encontre. Toda regra tem sua exceção, não é?

— Eu devo estar doido, só pode — riu sozinho enquanto tateava a mochila procurando a chave para abrir a porta. — Deve ser o cansaço — fechou a porta atrás de si e jogou todos os materiais na bancada da cozinha.

O apartamento estava um caos, havia livros, pincéis, tintas, canetinhas e até roupas sujas jogadas pelo chão e sofá, todos espalhados sem nenhuma regra. Mas tudo isso poderia esperar mais um pouco, ainda eram 13:45.

Sentou no sofá e pegou um de seus livros sobre astrologia para ler, em alguma página daquelas tinha que ter uma explicação plausível para aquilo, precisava ter.

Toda essa história de astrologia e astronomia vieram de sua mãe. Ela havia o ensinado tudo que sabia e até o pai de Yunho sabia de algumas coisas, de tanto que os dois falavam sobre. O Sr. Jeong não era lá muito supersticioso, mas dava todo o apoio e incentivo que a esposa precisava, e fazia de tudo para fingir estar interessado quando ela vinha o contar alhum caso legal ou lhe mostrar sobre um novo buraco negro que havia encontrado sobre vasculhando por todos os cantos da internet. 

Yunho ria até hoje lembrando das caras que o pai fazia. Realmente, fingimento não era o forte dele.

 O moreno acabou pegando no sono enquanto lia e tempos depois acordou num susto, respirando pesadamente e passando as mãos pelo rosto, percebendo que estava totalmente molhado de suor, os fios negros colados na testa e a expressão de choque ainda presente no rosto.

— Que... Porra? — Se levantou hesitante, ainda desnorteado pelo pesadelo, pegou as chaves e correu para o alojamento de Hongjoong.

Tomou um susto ao chegar na saída e notar que já estava escuro. 

Mesmo cansado com o ocorrido, estava assustado, então foi o mais rápido que pode encontrar o amigo. Yunho nunca se acostumara a morar sozinho, então Hongjoong sempre era quem o acalmava em momentos assim — que não costumam ser frequentes.

Ao chegar a portaria do prédio de música, ofegante e suado, apoiou as palmas das mãos nos joelhos, suspirando forte, tentando recuperar a respiração e a calma de hoje cedo. Após alguns minutos na mesma posição, ouviu vozes distantes e sentiu mãos em suas costas.

— Yunho? Está tudo bem? — Seonghwa perguntou, se abaixando nos calcanhares para conseguir olhar no rosto do moreno.

— Ei, Yunho — Jongho repetiu. — Porque você está aqui? — se sentou no chão, em frente ao amigo, o segurando pelos braços.

— Vamos subir, preciso falar com o Hongjoong — falou mais calmo, mas ainda ofegante o suficiente para suspirar. Levantou o corpo e saiu puxando os dois pelos pulsos para as escadas, ouvindo as perguntas e reclamações dos meninos logo atrás de si, mas ignorando todas, estava nervoso.

Ao chegar no andar certo, apressou o passo e abriu a porta. Hongjoong tinha a péssima mania de nunca a trancar, mana essa que mesmo reclamando, Yunho também havia pego.

— Joong, você tá em casa? — Gritou, sendo acompanhado pelos dois logo atrás.

— Misericórdia gente, eu to com comida no fogão! — Se dirigiu aos três parados enfileirados na sala, limpando as mãos no avental e os olhando com uma expressão confusa. — O que aconteceu?

— Eu tive um pesadelo, hyung — disse apertando as mãos em volta do corpo, totalmente aflito.

— Yunho — Jongho puxou a respiração, pressionando os dedos na ponte do nariz. — Você carregou a gente até aqui correndo porque teve um pesadelo? — Bateu as mãos nas pernas, bufando. Seonghwa fez o mesmo, visivelmente tentando manter a calma.

— Peraí gente, o Yunho nunca teve um pesadelo, lembram? — Hongjoong apoiou uma mão no braço do maior e o levou até o sofá, se sentando na mesinha de centro, logo à frente — Como foi?

— Eu... Eu não sei — Encarou todos os meninos, começando a respirar mais forte novamente. — Eu só estava lá, abaixado atrás de umas plantas, enquanto um garoto parecia tentar se aproximar de mim, mas eu não conseguia ver o rosto dele, nem ouvir sua voz, só... Sentia o desespero dele e—

— Tudo bem, não precisa contar agora — Seonghwa interviu, se aproximando do maior e passando a mão em seu rosto, limpando algumas lágrimas que caíram. O moreno sempre fora muito sentimental e chorava com a maior facilidade do mundo, o que fez com que os meninos se acostumassem. — Joong, você fez comida, certo?

— Puta merda — Bateu as mãos nas pernas. — Deve estar pronto agora. Vocês me assustaram e eu desliguei tudo — se levantou e foi em direção à cozinha.

— Quer ajuda, hyung? — Jongho gritou, se esticando para ver o menor.

— Claro, me ajuda a por à mesa?

Jongho acenou positivamente, se levantando e seguido de Seonghwa, que pegou Yunho pelas mãos, o levando até a mesa e o dando um copo de água, o maior estava tão sensível que parecia estar em choque.

Yunho nunca havia tido um pesadelo, a vida toda sonhara com coisas boas, ou apenas via cores aleatórias ou sonhos em que estava com pessoas da família, comendo ou vendo filmes. Enfim, momentos felizes. Mas nunca com pessoas desconhecidas ou com momentos ruins como esse.

Por isso o choque.

— Ele parecia estar com medo — disse baixinho, olhando fixamente para o copo de água em sua mão.

— Quem? — Seonghwa questionou.

— O garoto, ele parecia estar com medo de algo, mas eu não conseguia ver o rosto dele, só via ele correndo — disse calmo, passando o polegar pelo copo molhado.

— Bom, depois a gente fala disso — Hongjoong rodeou os meninos, com duas panelas nas mãos, as colocando na mesa. — Vamos comer, comendo ninguém fica triste — se sentou ao lado de Yunho, apoiando uma mão em seu rosto e lhe sorrindo pequeno. — Vai ficar tudo bem, hm?

— Vai sim — sorriu.

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