3- Vida de Pecados

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Zabdiel's

"Invasão domiciliar com duas reféns. Suspeito fugiu levando pertences das vítimas. Viaturas das redondezas estamos a procura de um homem jovem, alto, loiro, com roupas pretas e armado. Repetindo. Suspeito está armado."

Eu tinha meu radio do carro conectado a linha policial. Como sempre era a mesma voz feminina que falava quando se referia a mim e aos trabalhos que ando fazendo aqui em Manhattan, só que mesmo sendo levemente destorcida pela captação ruim do seu rádio, dava-se para perceber o doce de sua voz sendo mascarado pela autoridade que ela impunha. É, as vezes eu me pegava curioso sobre essa mulher que de maneira quase frustrante me perseguia durante meses.

No meu retorno ao galpão eu já não tinha tanta pressa. Pois também as viaturas estão alerta, e uma SUV preta em alta velocidade seria o mesmo que estar escrito com um letreiro com cores em neon "Sou eu, me prendam". Respeitei os limites de velocidade, esperei os sinais. Até que me afasto das movimentadas ruas e avenidas. O caminho de barro que dava até o galpão não chegava a 3 quilômetros, que logo foram percorridos.
Pela segunda vez essa noite estaciono em frente o portão de um azul com tom já enferrujado. Empurrei a porta ao lado deixando apenas espaço para que eu passe e consiga fechar.
O corpo estava lá. A poça de sangue em sua volta se misturava a umas das pequenas poças d'água no piso de concreto. Caminhei até o armário de ferro que tinha apenas duas grandes portas, puxei o ferrolho as abrindo logo em seguida. Pás, Enxadas, Picaretas, sacos e um pequeno vão separado para meus outros instrumentos estavam guardados aqui. Peguei uma pá, enxada e um saco grande de lona. Voltei ficando ao lado do corpo.

- O preço por esse serviço acaba de duplicar.- Falo comigo mesmo em voz alta.

Abro o saco ao lado do corpo, piso na poça de sangue para que consiga arrastar o corpo para dentro do mesmo. Okay, metade está feito. Só que também preciso me livrar dessas roupas encharcadas de sangue. Tiro o casaco, que por sinal era um dos meus favoritos, jogo no saco o vendo parar no abdômen do cadáver, soltei os botões do pulso presentes na minha camisa e assim comecei tirar a mesma que também foi parar dentro do saco. Peguei a enxada e a pá caídas no chão e caminho de volta ao portão. Primeiro fui até o carro acendendo os faróis que apontaram para um pequeno matagal atrás do galpão. Segui alguns passos até sentir a terra um pouco mais "solta" nos meus pés. Vai ser aqui.
Comecei cavar um tipo de cova que com o solo encharcado acabei fazendo isso por quase uma hora. O suor que escorria da minha testa fazia o corte do supercílio arder e se misturar com o sangue que já secava. Terminei e estava ofegante.
Voltei ao galpão arrastando as ferramentas que havia usado, guardei novamente no armário. Tiro as botas também atirando-as dentro do saco e assim fecho. Respirei fundo, abaixei pegando nos pés começando arrastar o corpo fazendo com que um rastro de sangue seguisse o caminho que eu fazia, arrastei até a cova soltando sem me importar de como ficaria. Voltei até o porta malas da SUV, peguei um dos galões de combustível, com o isqueiro de prata já em meu bolso eu sentia o barro prender-se em minha meia. A medida em que balançava o recipiente todo o líquido saia, terminado a última gota joguei também o galão. Acendo o isqueiro e a pontilha de chama que surge se transforma numa enorme fogueira quando o lanço na cova.
É, meu trabalho estava feito.
O saco começou derreter, minhas roupas queimar, até que por último o corpo, fazendo um intenso e forte odor de carne assando se fazer presente por todo lugar. A chama cintilava em meus olhos enquanto eu me mantinha de pé esperando que tudo estivesse virado cincas. Foi só o tempo de queimar todo combustível, o demorou muito. A chama diminui até que só cinzas existiam aqui.
Com o pé mesmo empurrei parte do barro para cobrir. Voltei fechando o portão do galpão, batendo a mala, tomei meu lugar atrás do volante, tirei as meias atirando-as longe no milharal. Dei partida voltando a estrada seguindo rumo minha casa.

I'm Dirty - Zabdiel & Sabina - (CNCO-NU)Onde histórias criam vida. Descubra agora