42- Que o Inferno te Receba

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(1 dia depois)

- 16:00 PM -

Narrador's

Desde as primeiras horas da manhã que o céu tinha um uniforme tom acinzentado imutável.

Presságio. Agouro. Sinais. Destino. São coisas que muitas vezes são questionadas sobre sua existência ou não. Mais, em um dia como hoje, o clima sombrio que se mantinha mesmo depois de dias ensolarados, é de se pensar que algo maior está prestes a acontecer.

- A Senhora Madalene Parker sempre foi uma mulher religiosa. Sempre presente nas missas de domingo e caridosa para com nossa paróquia.- O padre estava diante de algumas dezenas de pessoas enquanto pronunciava as palavras.

Basicamente essas pessoas eram divididas apenas entre jornalistas, pessoas do meio político de interesse estritamente pessoal do Bruce e apenas uma irmã e dois sobrinhos da senhora a ser velada.

Só que, longe de todo campo de visão. Lá estava estacionado estrategicamente o Camaro preto com seus dois ocupantes. Diferentemente do que se imaginava, quem tomava lugar atrás do volante era a Emma enquanto Zabdiel mantinha-se ao seu lado no carona. A detetive tinha seu vidro baixo até a altura de seus olhos de forma que pudesse observar a cena que acontecera alguns metros à frente.

- Agora cedo a palavra ao senhor Bruce Parker.- O padre olha com compaixão Bruce que usava de toda sua artimanha teatral para chorar.

E por trás dos óculos escuros, Emma revira os olhos quando nota seu pai pondo-se de pé.

- É...- Bruce baixa o olhar recebendo a atenção das câmeras em sua frente.- Não... Não...- O homem volta erguer a cabeça.- No dia em que nos casamos, eu prometi fazê-la a mulher mais feliz do mundo.- Bruce força o embargo em sua voz.- Por que ela já me fazia o homem mais realizado só em acordar todos os dias ao meu lado. Só que eu falhei. Minha gana de fazer deste estado um lugar melhor para se viver, acabou distanciando-me das principais pessoas da minha vida. Primeiro minha filha, agora minha esposa.- E mais uma vez ele soluça em choro.

- Lágrimas falsas.- A voz da Emma tinha um tom baixo inundado em ódio.- Filho da puta.

- Vamos.- Zabdiel é único em falar ao seu lado.

- Não. Quero ver até onde o cinismo dele vai.- Ela responde sem desviar os olhos da cena em sua frente.

- Eu não quero acreditar que ela tirou a própria vida. Não, a minha religiosa e doce Madalene não cometeria o pior dos pecados. Eu sei quem fez isso.- Ele balançava a cabeça ao falar.- Foi o De Jesús. Ele tirou tudo de mim. Minha filha, minha esposa.- E mais uma vez ele força o choro.- Eu só queria poder pedir para ele levar minha vida ao invés das delas.- Sem lágrima alguma nos olhos, ele começa soluçar.- Acho... Acho que não consigo continuar.

Bruce é consolado pelo padre e pelo Lorenzo que estava todo momento ao seu lado, como um perfeito cão de guarda.

Emma respirava ofegante enquanto mantinha os dentes trincados. Ela nunca imaginou que seria capaz de ter um sentimento de ódio tão consumidor como esse que está em seu peito, ainda mais pelo seu próprio pai.
O falso sofrimento. As falsas lágrimas. O inexistente arrependimento. Emma sabia de toda a verdade. Ela acompanhou de perto durante anos o inferno que era viver sob o mesmo teto que ele. E ela sabia que o único e verdadeiro responsável pela morte de sua mãe, era ele.

- Vamos.- Emma ergue o vidro e assim acelera rumo a saída do local.

Metade do caminho foi tomado pelo silêncio. Zabdiel e Emma não trocaram uma palavra. O homem sabia que ela precisava digerir tudo que ouviu e viu minutos atrás. Afinal, ele também sabe a intensidade da dor de uma perda. Mesmo que ele já tenha feito o mesmo com varias outras famílias.

I'm Dirty - Zabdiel & Sabina - (CNCO-NU)Onde histórias criam vida. Descubra agora