Capítulo 6

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T h o m á z

O som soava pelas cordas que eu dedilhava e seguia direto para os meus ouvidos, invadindo minhas veias e reverberando pelo meu sangue, se misturando com todas as sensações e vibrações que a bateria fazia, junto com o baixo e mesclando com a voz do vocalista. O suor já fazia parte de mim há muito tempo, eu já estava acostumado. Eu podia ver o suor nos braços brilhar enquanto eu dedilhava os últimos acordes. A guitarra atravessada no meu peito não pesava nada, e ela era parte de mim tanto quanto as batidas da bateria e o suor grudando a minha camisa. Sorri quando a música chegou ao fim. A plateia aplaudiu e o único som era o de palmas e assovios por todo o bar. Pelo roteiro que Cal passou das músicas que cantaríamos essa noite, eu já sabia qual seria a próxima. Nos entreolhamos brevemente para checar se todos poderiam começar e tocar a próxima música. A bateria iniciou antes de todos os instrumentos e voz, com baques fortes no bass drum. Logo comecei a dedilhar a guitarra e em seguida, Jack começou no baixo. A música já estava passando nas minhas veias. E então, a voz de Pet verbalizou as primeiras letras de ‘’Do I Wanna Know?’’, do Arctic Monkeys.


Você está com as bochechas coradas?

Você já teve aquele medo de não poder mudar

O tipo que gruda como algo em seus dentes?

Há algum Ás na sua manga?

Você não faz ideia de que é minha obsessão?

Veio antes mesmo que eu pudesse pausar os meus pensamentos de seguirem por esse caminho. Cabelos castanhos, olhos castanhos e um corpo perfeito que eu não conseguia parar de me perguntar se caberiam nas minhas mãos como eu imaginava e esperava. Lábios cheios e pernas longas também faziam parte do pensamento. Fechei os olhos e deixei que aquele corpo aos poucos ganhasse forma na minha cabeça. Imaginava seu corpo dançando, pra mim, com aquele olhar que me desafiava, enquanto um sorrisinho de lado se fixasse no rosto que não saía da minha cabeça.


Sonhei com você quase todas as noites essa semana

Quantos segredos você consegue guardar?

Porque existe essa música que encontrei

Que me faz pensar em você de alguma forma

E eu coloco para repetir

Até eu pegar no sono

Derramando bebidas no meu sofá


Conforme a música ia se intensificando para tons mais graves, minha energia subia pelo meu corpo como acontecia na arena quando a excitação me tomava por inteiro, nocauteando toda a minha sanidade e se concentrando em apenas uma coisa: o oponente a minha frente. Mas agora, enquanto a música continuava e a guitarra ia ficando cada vez mais leve no meu corpo, a minha concentração era apenas em uma coisa linda que tomava forma cada vez mais nos meus pensamentos, me invadindo como o efeito de uma droga pesada, capaz de me fazer desacordar, e só conseguir abrir os olhos novamente se fosse invadido mais e mais vezes por essa droga.

Meus pensamentos já não faziam mais sentido. Abri os olhos, tentando focar a visão em algum ponto no aglomerado de pessoas na frente do palco, que se levantaram e começaram a dançar, em alguma parte da música. As pessoas que estavam sentadas do lado de fora do bar, na lateral da parte interior, também tinham se levantado. Minha visão passou por rostos animados, corpos se mexendo e conversas entre pessoas que tinham um copo de bebida na mão, acompanhando o ritmo das notas finais da música. E então passei os olhos em um canto específico entre os corpos, conseguindo identificar de relance, a pessoa que dançava conforme as batidas da música.

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