T h o m á z
Entrei no galpão com uma sensação diferente da que costumava entrar. Sentia como se todos os motivos de raiva pelos quais me guiavam para socar a cara de alguém, estivessem enfim, vingados. Caminhei até a parte interna do lugar, vendo alguns caras treinando, e mais no fundo, Dick no seu habitual escritório, conversando com um cara enquanto amarrava um envelope pardo com um elástico. Guardei as mãos no bolso frontal do moletom e me aproximei da sua mesa. No momento que ele notou a minha presença, sorriu, e em um gesto com a mão, dispensou o cara.
- E aí, Serpente? B.C me contou o que você vai fazer, cara. Vai embora de vez? - Perguntou, se levantando.
Suspirei.
- É o que eu pretendo.
- Você é o nosso melhor lutador, você sabe disso, né? O pessoal vai perguntar.
- Sei disso. Mas eu preciso sair daqui. Tudo tem um prazo de validade, certo? Acho que o meu acabou de vencer.
Ele aperta o meu ombro em um gesto de solidariedade, e me entrega o pacote embrulhado.
- Bom, esse é o dinheiro que eu estava te devendo das suas lutas. Se essa é a última vez que eu estou te vendo, então fica bem. Vai fazer falta aqui.
Sorrio, sem humor para ele.
- Obrigado. Vou sentir falta de vocês também. Vocês foram uma família pra mim durante todo esse tempo.
Com um abraço bruto que só Dick sabia dar, ele se afastou no momento que o cara com quem estava conversando quando eu cheguei, chama por ele.
- Valeu, irmão, por tudo - falo, caminhando até a saída.
- Espero te ver em breve, Serpente.
Eu não planejava nunca mais vê-los, mas pretendia passar um bom tempo longe dessa cidade, de uma vez por todas. Coloco o capuz na cabeça, e com o pequeno pacote na mão, caminho pela rua deserta, em direção ao apartamento. Todo o futuro que eu tanto planejei estava muito próximo. Deixaria, enfim, tudo para trás: família, casa, amigos, o escritório, apartamento, e uma vizinha que desestabilizou todo o meu mundo em apenas um mês. Rio por ter ao menos pensado que por ela, eu desistiria de ir para a Califórnia e viver a vida que eu sempre quis ter. Pensei que em fim, tinha encontrado a pessoa da minha vida, como todos sempre dizem. E eu não poderia estar mais enganado. Pelo pouco que eu tinha escutado, a pessoa da sua vida chega e fica. Mas Giennah chegou, e rapidamente foi embora. Eu não ficaria aqui e tentaria algo que já estava fadado a não dar certo. Nós demos um salto de fodas casuais, para sentimentos. Porém, os poucos momentos que tivemos foram muito especiais, pelo menos para mim, e eu acreditava que se ela quisesse tentar pular do penhasco que era todo esse sentimento que eu nunca tinha sentido antes, eu não pensaria duas vezes antes de pular junto.
Viro a esquina, mergulhado em pensamentos, no momento em que colido com alguém correndo. Instintivamente, solto o pacote no chão, e seguro quem quer que estivesse com pressa e que não estava olhando paro o caminho. Me preparo para perguntar se a pessoa estava bem, quando ela vira o rosto para mim. Minha boca se abre minimamente, em surpresa, e solto o ar que estava dentro de mim, vendo, através da fumaça esbranquiçada de frio que sai pela minha boca, o rosto que eu não via tão de perto durante a última e lenta semana. Giennah. É a única palavra que o meu cérebro consegue formar nesse momento. Se afastando rapidamente do meu aperto, ela dá um passo para trás, me encarando, tão surpresa quanto eu. Saindo do transe, olho para o pacote caído no chão, e me abaixo para pegá-lo. Olho novamente para ela, notando sua respiração ofegante, o nariz e as bochechas em um tom lindo de vermelho. Ela olha para trás, o que chama a minha atenção para o motivo de ela estar correndo por uma rua deserta, sendo quase madrugada.
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NEIGHBORS
RomanceThomáz se muda para um apartamento depois que a mãe vai morar com o marido. Queria independência, silêncio. Porém, sua paz é tirada quando uma garota se muda para o apartamento ao lado. Giennah Jones era sinônimo de problema. Quando termina com o n...