Capítulo 32

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T h o m á z

Acordo com gritos do lado de fora da casa. Relutante, abro os olhos ainda meio pesados e olho o relógio na cabeceira. Eu iria matar quem quer que estivesse me acordando em plena sete da manhã. Enquanto eu levantava, ainda sem conseguir distinguir o que estavam gritando, notei mais partes do meu corpo que eu desconhecia se contorcerem a cada movimento brusco. As obras estavam andando, mas estavam me matando aos poucos. Visto uma camiseta e uma calça jeans antes de descer as escadas até a entrada. Conforme me aproximo, consigo notar a voz feminina do outro lado da porta. Quando a abro e revelo a figura pequena e agitada de Hannah, ela se cala. Apenas para suspirar frustrada e voltar a falar:


- Você não atende o celular? Caramba, Thomáz! Eu estou há mais de uma hora tentando falar com você e nada de você atender.

Forçando a visão a se focar nela – por eu estar ainda meio grogue de sono –, abro mais a porta a convidando para entrar.

Assim que a fecho, falo pela primeira vez, ainda rouco.

- Eu estava dormindo feito pedra, Hannah. Ontem foi mais intenso do que eu esperava.

- Estou percebendo. Parece que passou um trator em cima de você.

- Obrigado pela parte que me toca – retruco.

Caminho até a geladeira e pego uma caixa de suco de laranja, despejando o líquido no copo em seguida.

- O que você veio fazer aqui, e por que estava gritando na minha porta em plena sete da manhã?

Vejo ela respirar fundo antes de falar.

- Eu estava indo para o trabalho hoje quando recebi uma ligação do filho do Lony, dizendo que ele desmaiou em casa, e estava no hospital. Como não sou eu quem abre a loja e sim o Lony, ele pediu para eu ir até o hospital, que ele me entregaria a chave. Bem, eu preciso de uma carona.

Abaixo o copo que estava no meio do caminho até a minha boca no momento em que ela disse que Lony estava no hospital. Desde que eu cheguei aqui até os últimos dias, Lony tem sido como um pai para mim, me ajudando no que pôde na reforma do galpão, e eu não poderia ser mais grato por isso.

- E como ele está? Teve mais notícias do estado dele? – pergunto, realmente preocupado.

- Bom, o filho dele não me disse muito, apenas o nome do hospital e que ele desmaiou após se levantar da cama. Provavelmente foi a pressão.

-Merda. Me passa o endereço no caminho.

Ela assente e eu calço o tênis antes de pegar os capacetes e sair de casa.

Dois dias depois do Natal e o clima já havia mudado completamente, com um vento gelado cortando a cidade. Pilotar a moto sem uma jaqueta estava sendo um pouco desconfortável, mas Hannah se segurava em mim, o que fazia a minha temperatura não cair tanto. Quando chegamos ao hospital, fomos informados do estado de Lony, e encaminhados até a sala de espera. Chegando lá, noto um homem que aparenta uns quarenta para cinquenta anos, sentado e mexendo no celular, bem em frente ao quarto de Lony. Ele ergue a cabeça quando nota nossa presença, e foca em Hannah.

- Que bom que você conseguiu vir. – Ele tira do bolso uma chave e entrega à Hannah. – Obrigado por esse favor.

- O senhor Lony está bem? Ele vai se recuperar? – pergunta ela.

O homem se levanta diante de nós e guarda o celular no bolso.

- Sim, ele está bem. Foi só um susto, mas ele vai ficar mais dois dias em observação. Não foi nada grave. Ele estava fraco por ser de manhã e ainda não ter comido nada, e se levantou muito rápido, e pela idade, esses pequenos acidentes podem ser fatais.

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