T h o m á z
Passo pela porta de vidro do bar com a guitarra pesando do lado direito do meu ombro. Dessa vez eu não iria tocar baixo, e sim algo que me tirasse mais ainda do chão. A guitarra fazia isso comigo. Eu estava estressado desde o Natal, tanto comigo mesmo, com a vida, com o universo. Eu não comemorei o dia de Ação de graças, já que isso me remetia à época em que meu pai e eu comemorávamos da nossa maneira. Essa data se tornou algo insignificante depois que ele nos deixou, mas eu já não ligava tanto. O Natal não tinha mais graça sem o meu irmão e a minha mãe, então foi mais um dia comum de trabalho duro na Oficina do Lony, mesmo no feriado. Mas o que mais me irritava era o fato de que não houve um ‘’milagre de Natal’’ esse ano. Eu estaria mentindo se dissesse que não me agarrei ao pensamento de que Giennah apareceria, mas como todo desejo para o Papai Noel, não foi realizado. Eu estava começando a desacreditar, e ser mais realista. Nesse mesmo dia, Hannah fez algo que me puxou para a realidade: ela me beijou. O que mais mexeu comigo não foi o beijo em si, mas o fato de que eu não senti nada com ele. Nem um sentimento, uma chama, nada. Hannah disse que tinha farelo de biscoito de gengibre que ela tinha comprado para nós, no canto da minha boca, e brincou dizendo que eu precisava de um babador, caso não quisesse me sujar novamente. Ela riu, então eu ri também, mesmo concentrado demais no que tinha para fazer, e sem achar graça na piada. Então ela disse que tinha uma maneira melhor de limpar a sujeira. E então me beijou. Eu pensei, por um curto momento, que aquilo não era certo, que eu estava traindo Giennah, mas no minuto seguinte pensei que mesmo não querendo beijar Hannah, talvez essa fosse a oportunidade perfeita para tirar a conclusão de que eu realmente estava pronto para sentir algo o mais parecido que fosse, com o que eu senti com ela, mesmo sabendo a resposta. Lancei a minha língua na dela, tentando tirar disso alguma sensação, nada. Nem um desejo. Nós éramos melhores na cama sem o beijo, do que se ele fizesse parte do sexo. Provavelmente eu não conseguiria focar no que estava fazendo. Então me afastei dela, e disse para nunca mais fazer isso. Vi um vulto na porta, mas poderia ser algum cliente saindo apressado para o trabalho. A loja estava parcialmente vazia, o ar condicionado, ligado. Mas eu sentia uma queimação no peito. Talvez fosse a repentina ação de Hannah que havia me tirado do eixo.
Depois disso, eu tentava evita-la. Na loja, havia tensão entre nós, e fora dela não era diferente. Agora, eu precisava entrar na minha zona de conforto. Fazia tempo que eu não cantava, só algumas merdas quando bebia demais no bar, mas nada que fosse verdadeiramente sério, e lúcido. Assim que sentei no banco em frente à bancada, bati no espaço a minha frente para chamar a atenção de Caleb, e o mesmo se virou para mim.
- Thomáz! Porra, você sumiu!
Sorri para o meu amigo, e resumi enquanto ele fazia as bebidas, tudo o que vinha acontecendo na minha vida. Ele questionava algumas, perguntava sobre o galpão, e eu contava tudo, empolgado. Quando comentei por cima sobre o último episódio, sobre Hannah e eu, ele literalmente parou tudo o que estava fazendo e ficou parado bem na minha frente, com o semblante mais sério.
- Então você seguiu o meu conselho? – perguntou, lentamente.
- Pode-se dizer que sim. Mas a parte do beijo não foi escolha minha. – Bebi um gole da minha bebida.
Vi Caleb respirar fundo antes de prosseguir.
- Tudo bem. Tudo bem. Tuudo bem! Pode-se dizer que eu não seja confiável. Nunca, em hipótese alguma, siga os meus conselhos.
Franzo o cenho.
- Como assim? O que você quer dizer com isso?
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NEIGHBORS
RomanceThomáz se muda para um apartamento depois que a mãe vai morar com o marido. Queria independência, silêncio. Porém, sua paz é tirada quando uma garota se muda para o apartamento ao lado. Giennah Jones era sinônimo de problema. Quando termina com o n...