Capítulo 8

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G i e n n a h

Eu ainda estava surpresa por ter o meu vizinho que me irritava e ao mesmo tempo intrigava, sentado bem ao meu lado, no chão do corredor, apenas de calça de moletom. Eu tinha muitas perguntas sobre tudo dele, e me peguei curiosa demais. Nesse momento, eu só queria bater na minha testa mil vezes por ter sido tão idiota com essa ideia de pizza e poder pular essa parte para as perguntas de uma vez. Analisei a sua expressão calma, com um pouco de cansaço que tentava não demonstrar. Foquei meus olhos nele.

- Você tem certeza que quer ficar aqui respondendo um interrogatório ao invés de ir pra sua casa e sei lá, dormir? – perguntei.

Ele abriu um sorriso de lado e desviou os olhos dos meus, antes de responder:

- Eu gostaria mesmo, nesse momento, de fazer qualquer coisa pra comer essa pizza aí, porque eu tô morto de fome.

Seu tom relaxado me pegou desprevenida e ergui as sobrancelhas em surpresa.

- Como quiser – me ajeitei no chão duro, tentando uma posição em que eu ficasse de frente para ele. Coloquei a caixa de pizza entre a gente – Quantos anos você tem?

Sua reação foi esperada por mim, que queria me dar mais tapas na testa por não ir direto ao ponto de uma vez, mas eu me vi curiosa para saber quem era esse cara. Parte por parte.

- Eu pensei que você fosse perguntar coisas mais difíceis, Jones – Ser chamada pelo meu sobrenome, como se fossemos íntimos, para minha surpresa, não me irritou, e fiquei mais surpresa ainda por ter gostado, até.

Antes mesmo de responder, Thomáz pegou uma fatia gordurosa da pizza de muçarela, fazendo o queijo escorrer um pouco no processo. Ele enfiou a pizza na boca e deu uma grande mordida, com o cenho franzido e os olhos fechados, ele gemeu de satisfação.

- 21 – respondeu a minha pergunta, com a boca cheia – Meu Deus, isso é um pedaço do céu, com certeza! – Ele mastigou mais um pouco e sorriu torto para mim, e então só fui notar que estava tão absorta e entretida vendo ele comer aquela pizza, que era muito provável que estivesse fazendo uma cara de idiota.

- Sua vez – disse antes que ele pudesse soltar alguma piadinha sobre isso.

O meu vizinho terminou de comer a sua fatia e esfregou uma mão na outra antes de perguntar:

- Por que você mora com a sua amiga?

Eu já esperava essa pergunta, mas mesmo assim não sabia como responder. Eu não tinha certeza se estava pronta para falar com um cara que eu mal conhecia sobre o meu triste término, e nem se ele teria paciência para aturar uma vizinha chata que fechou a porta na cara dele na primeira vez que se viram. Como se decifrasse a minha relutância em responder, ele cantarolou baixinho:


Querida, nós dois sabemos

Que as noites foram feitas principalmente

Para dizer coisas que não se pode dizer no dia seguinte


Foi inevitável não sorrir quando ouvi um trecho da música que ele tinha cantado no bar hoje, - ou melhor, ontem, já que claramente era madrugada e éramos os únicos doidos sentados no corredor dos apartamentos com uma caixa de pizza, conhecendo um ao outro porque talvez não tivéssemos nada melhor para fazer em uma madrugada de sexta-feira. Ou era isso que eu tentava acreditar – e notar que ele estava tentando me incentivar. Ele sorriu também, me encorajando a falar.

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