Capítulo 37

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G i e n n a h

Eu não fazia ideia de onde raios eu estava. Para todo lado que eu olhava, havia carros, pessoas andando, mas nada me era parecido com Woodland. Olho para cima e vejo palmeiras grandes, altas demais. Volto a olhar para a frente. Mas sinto peso em minhas mãos. Malas. Era como se eu tivesse acabado de sair de um táxi e saltado do carro, sem rumo, no meio da calçada. Barulhos como música no fundo e o cheiro de água salgada eram palpáveis. Mas minha cabeça ainda era um turbilhão de pensamentos sem coerência. Nada fazia sentido. Apenas o fato de que eu estava parada em um lugar que eu não fazia ideia de como tinha ido parar. Me movo pela primeira vez, começando a caçar alguma placa de identificação como nome de ruas, algo que me dissesse que eu não tinha enlouquecido ainda e tivesse atravessado um portal para o nada. O cheiro de água salgada se intensifica, e noto pela primeira vez uma praia, e então, uma roda gigante, e descendo os olhos, um píer com muitas pessoas andando de um lado para o outro. Mas que porra é essa? Isso não poderia ser possível. Continuo colocando a cabeça para funcionar, tentando achar algo, como eu ter comprado passagens para cá, porque não seria possível eu estar na Califórnia. Sim, eu estava. E literalmente sem rumo.

Movendo os olhos de um lado para o outro, forço minha mente, até visualizar meu computador aberto, na minha frente, em um site de viagens. E o destino Los Angeles, Califórnia, na tela principal. Depois disso, tudo se transformou em um borrão na minha mente. Giro em 360°, com a boca levemente aberta, e mesmo já sabendo onde estou, visualizo uma placa informando o número da rua e uma seta indicando o grande píer com a roda gigante. Começo a caminhar, ainda perdida em pensamentos, sem ouvir mais nada, nem perceber nenhum cheiro, olhando apenas para o chão, sem enxergar algo realmente.

Mas que porr...

Eu estava prestes a xingar novamente quando sinto meu braço se chocar violentamente em alguma coisa na minha frente. O aperto no meu braço me paralisa, porque minha mente volta como uma máquina do tempo no dia em que dedos muito parecidos e com a mesma força, me seguraram quando tinha saído atordoada do pub. Ergo meus olhos, tendo um déjà-vu involuntário. Fito um par de olhos azuis, enquanto sinto o aperto no meu braço se afrouxar. Era ele ali, na minha frente, depois de muito tempo. Era ele, me encarando com a mesma intensidade. E era ele ali, na minha frente, arregalando os olhos para mim. E era o seu sorriso que eu sentia tanta falta de provocar, surgindo no seu rosto. Eram os seus lábios se abrindo em câmera lenta, prestes a dizer alguma coisa. E então uma lágrima descendo pelo meu rosto. Espero pela sua voz, mas não a escuto. Seus lábios se movem, mas não ouço nada. Começo a ficar nervosa, angustiada. Por que eu não consigo ouvir? Ele franze o cenho, enquanto continua falando, mas não ouço nada. Começo a me desesperar, e então meu corpo se projeta para frente, em um rompante. Com os olhos bem abertos, olho para frente, onde Thomáz deveria estar, mas a única coisa que vejo é a minha cômoda com porta-retratos. Olho para os lados.

Estou no meu quarto, com o abajur acesso e o notebook aberto e ligado em cima da minha cama, onde estou sentada nesse momento. Um sonho. Tudo não passou de um sonho. Um sonho ruim. Muito ruim. Levo a mão ao peito e tento desacelerar as batidas do meu coração. Respiro fundo, e fico nesse ritmo por uns dois minutos até me tranquilizar. Não é possível. Olho para o computador na minha frente, e vejo o site de viagens aéreas, e realmente, na tela, estava o destino para a Califórnia. E então me lembro que estava comprando as passagens para Portland, para a casa dos meus pais, para passarmos o ano novo, quando vi no canto da tela as passagens para Califórnia. E então eu caí no sono. E sonhei. Com ele.

Saio da cama na intenção de tomar algum remédio para dor de cabeça. Puxo a gaveta do criado mudo, e em cima de algumas coisas e do remédio, vejo o envelope endereçado a mim, coma frase ‘’Para você ler quando pensar que não me ama mais’’, me saudando. O encaro por um tempo, e sinto o impulso de pegá-la e ler, mesmo que eu não sinta o que a frase instrui. Ignorando o pedaço de papel, mesmo com muita vontade de abrir, puxo o remédio e o levo à boca, bebendo um gole de água do copo em cima do criado mudo. Mais calma, volto minha atenção para o computador e finalmente compro as passagens de avião para Portland.

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