G i e n n a h
A música tocava alta nos fones de ouvido enquanto eu corria pela rua deserta. Era cinco e meia da manhã e eu simplesmente não consegui dormir, então resolvi gastar energia com algo que eu não vá me arrepender depois. Eu adorava correr, esvaziar a cabeça, sentir os pulmões queimando, o coração acelerado, e o corpo agitado, trabalhando. Me mantinha acesa, mais alerta para tudo ao meu redor. Os headphones no topo da minha cabeça estavam bem presos, e fazia eu me isolar de qualquer barulho a minha volta, aguçando ainda mais a minha visão e o olfato. Eu sentia uma falta enorme dessas ruas, e me conectar novamente era o que estava faltando para mim. As casas vizinhas ainda estavam com as cortinas fechadas, e eu estava quase no final da rua, quando o portão da última casa se abriu, e Matt saiu. Ele estava mexendo no celular e não me viu. Pelas suas roupas, ele estava prestes a sair para correr também. Uma regata preta, shorts de corrida e tênis esportivos caracterizavam toda a sua forma atlética. Eu não podia negar que ele era um cara atraente, mas instintivamente, outro corpo atlético preencheu meus pensamentos, e o diabinho em mim riu, quando afirmei que o corpo de qualquer outro cara nunca chegaria aos pés do de Thomáz.
Inferno.
Aumentei a velocidade, chamando a atenção de Matt. Assim que ele me viu, seu rosto se iluminou em um sorriso. Sorri de volta, e diminui os passos, parando na sua frente, ofegante.
- Oi! Não sabia que você era do tipo que corria cedo – eu disse, tirando o fone e o colocando em volta do pescoço.
- Depois do ensino médio, eu precisei ganhar um pouco de músculos, não acha? Eu parecia um graveto, provavelmente uma rajada de vento me derrubaria.
Rimos, porque realmente Matt era o tipo nerd magrelo, e sua aparência não era a das melhores no final do colégio. Nós éramos melhores amigos, o que me fez não me importar com sua aparência, e sim com o seu coração, que era imenso. Ele me ajudava nos estudos, e tinha vezes em que passávamos horas na biblioteca da Sr. Devon, lendo e fazendo exercícios, e até mesmo rindo alto das palhaçadas de Matt, o que nos rendia vários sermões da bibliotecária. Sinto falta do tempo em que nada me importava.
- Eu lembro, parece que foi ontem, e não há quase quatro anos.
Ele sorriu, me olhando de uma maneira nostálgica. Seus dentes estavam enfileirados de forma que seu sorriso era totalmente diferente dos dentes cheio de ferros de antes.
- Está no final da corrida, ou começou agora? – Perguntou, enquanto se alongava.
- Deve ter uns quarenta minutos.
- Que tal corrermos juntos e colocar a conversa em dia? – sugeriu.
Hesitei. O que eu mais precisava, era manter a cabeça afastada dos problemas, e revivê-los com o meu melhor amigo de adolescência, não parecia a melhor opção, porém, talvez compartilhar com outra pessoa sem ser a minha mãe, pode ser bom para mim, e tentar acalmar a corrente de pensamentos na minha cabeça.
- Claro. Como andam as coisas? Faculdade?
Começamos a correr em passos curtos, sem pressa. Eu sentia que naquela posição, poderia facilmente correr, se sentisse que transbordar me fizesse afogar em lembranças que quero fugir.
- Engenharia. Um pouco pesado, mas é o que eu realmente gosto.
- De nós dois, você sempre foi o melhor em matemática, então não estou surpresa.
Ele riu.
- E você? O que escolheu? Lembro que você sempre dizia que um dia seria juíza.
Assenti.
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NEIGHBORS
RomanceThomáz se muda para um apartamento depois que a mãe vai morar com o marido. Queria independência, silêncio. Porém, sua paz é tirada quando uma garota se muda para o apartamento ao lado. Giennah Jones era sinônimo de problema. Quando termina com o n...