Capítulo 28

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Recomendo que leiam com essa música e vejam a tradução

T h o m á z

Prendendo totalmente a respiração, olho para o perfil da mulher. Foco minha visão em cada movimento do seu corpo, e então ela sorri. A mecha de cabelo que ela colocara atrás da orelha, revela a minha maior desgraça. Meu coração desacelera, decepcionado, ansiando que aquela última fagulha de esperança de fato, não fosse em vão. Não era ela. Eu reconheceria o sorriso de Giennah em qualquer lugar, em uma multidão. Em um mar de sósias dela, eu ainda a reconheceria, porque o seu sorriso e até a ruguinha quase imperceptível que se forma em seu nariz quando ela acha graça de algo, são únicas. E também é a única que faz o meu coração acelerar, batendo com força, como se quisesse sair do meu peito e correr para as suas mãos. Aquela figura que agora tinha virado totalmente na minha direção e falava despreocupadamente com a mulher ao lado, não tem nada da minha Giennah. Olho para o capacete de melancia no seu braço, e fecho minhas mãos com força, travando o maxilar. Deveria ter pensado imediatamente que não existia apenas um capacete como esse no mundo, mas foi coincidência demais...

Aquela dor se instala novamente no meu peito, e levo meu punho fechado ao lado do coração, tentando apalpá-la, mas não consigo, claro. Me viro e caminho na direção da saída do piér. Toda essa merda é mais do que eu posso aguentar, e imaginar que ela teria desistido de tudo por mim, que o próximo salto de fé seria dado por ela, são apenas ilusões. Ela não vai voltar, Thomáz, tentava acreditar. Ela tem uma vida lá, e nada muda isso. Mas a minha vida agora era ali, e eu precisava construí-la do zero. Expectativas são piores do que as promessas de fato. Quando você faz uma promessa, automaticamente cria expectativas que podem ter diversas dimensões, e é isso que fode a sua vida. Porque você começa a idealiza-las, e eu imaginava que ela viria me encontrar, e eu não poderia estar mais enganado.

Balanço a cabeça e fecho os olhos com força, caminhando em passos duros até a moto. Eu precisava seguir em frente. Eu precisava deixar Giennah respirar. Deixa-la de lado na minha memória era mais difícil do que qualquer outra coisa, mas eu não podia me afundar em expectativas e no final, ver que foi uma perda de tempo. Eu tenho o galpão para reformar, uma loja para abrir, e ela tem uma carreira para começar. Talvez essa seja a coisa certa. Eu não poderia amar por dois, mas também não poderia deixar de ama-la. Com uma raiva descontrolada, coloco o capacete e decido fazer uma coisa sem nem pensar direito. Acelerando a moto, passo entre os carros na velocidade máxima, ultrapassando sinais vermelhos. Eu nunca fui de ser descuidado pilotando uma moto, mas eu precisava extravasar. Entrando na rua da loja do Lony, desacelero e paro na entrada. Tiro o capacete e ofegante, olho para dentro da loja, vendo Lony fechando o caixa, e logo Hannah se despedindo dele, e caminhando para a saída. Encaixo o capacete no retrovisor e desço da moto, chamando a atenção dela.

- Thomáz?

Um pouco agitado, tento não raciocinar no que estou fazendo.

- Oi, eu... – Engulo em seco e fecho os olhos brevemente, tentando achar as palavras certas. – Você quer beber alguma coisa?

Ela franze o cenho, não entendendo a minha pergunta repentina. Me aproximo dela e seu rosto logo ganha uma expressão de entendimento. Com os olhos semicerrados, ela abre um sorriso de canto.

- Então aceitou a minha proposta?

- Eu não sei. Ainda está de pé?

Ela morde o lábio inferior e me analisa.

- Eu estaria mentindo se dissesse que não estava ansiosa para você aceitar, e... – Ela dá um passo para a frente e coloca os braços ao redor do meu pescoço, aproximando o rosto do meu – eu seria uma completa idiota se dissesse não.

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