Capítulo 16

14.9K 1.4K 466
                                    

G i e n n a h

Bebo um gole de chocolate quente enquanto digito uma inicial. Eu tinha trazido alguns processos importantes do escritório para casa, porque precisava terminá-los para segunda feira e ainda faltavam alguns. Aby praticamente não parava em casa e eu ficava sozinha na maioria das vezes, mas na quinta feira, quando ela percebeu isso, veio se desculpar. O problema era que eu não me importava mais se ela ficaria em casa ou não. O tempo que eu estava passando com Thomáz ocupava todo o meu tempo livre, então eu não ligava se a minha melhor amiga passasse o dela com o namorado. Aproximo a xícara na frente da boca, deixando a fumaça atingir o meu rosto, embaçando levemente as lentes dos menus óculos, enquanto olho a varanda, do sofá. O tempo tinha esfriado consideravelmente, e hoje estava chovendo. Eu queria poder bater na porta do meu vizinho, mas ele não estava. Ele tinha uma luta hoje e tinha me chamado novamente, mas eu tinha que terminar os processos. A chuva tinha aumentado, ficando cada vez mais forte, e o vento balançava a cortina da porta da varanda, me atingindo. Deixei a xícara na mesa e levantei para fechar a janela. O céu estava preto, sem nuvens nublando, mas a chuva era densa, incansável.

Eu não podia deixar de pensar se Thomáz estava bem, já que nesse momento, ele estava no meio de uma luta. Olho no relógio da cozinha e vejo que já são 23h. É, ele realmente está no meio da luta nesse momento. Um trovão ruge no meio da noite, o que me faz sobressaltar e sair de perto da porta da varanda. Aby tinha dito que tinha lasanha congelada na geladeira se eu sentisse fome e ingredientes pra preparar caso eu quisesse fazer alguma coisa, mas como eu sou um desastre na cozinha, prefiro a lasanha mesmo. Deixo ela dentro do forno e volto para o sofá, continuando com o trabalho. A próxima prova da faculdade seria na outra semana, e eu já estava um pouco apreensiva, porém mais confiante que a a prova que eu tinha feito na semana passada.

Me concentro nos processos e começo a sentir o cheiro da lasanha da cozinha. 40 minutos depois ouço o timing do forno, anunciando que já está pronta. Tiro a lasanha e desligo o fogo. A minha barriga ronca só de sentir o cheiro. No mesmo instante, a luz apaga. A casa fica no escuro total. Puta que pariu, acabou a luz. Porra, logo comigo que tenho medo de escuro? Cadê a Aby nessas horas? Deixo a lasanha de lado e vou atrás de algum lugar pra me salvar. Assim que entro na sala, não enxergo a mesinha de centro e bato o dedinho do pé na quina. Eu berro, xingo, e grito. Escuto batidas na porta e eu logo entro em alerta. Penso que pode ser um ladrão e que foi ele que cortou os fios de energia do prédio só pra assaltar os apartamentos. Enquanto vou devagar até a porta, penso também que pode ser o Pennywise com um balão vermelho pronto para me devorar, mas logo jogo essa imagem para o fundo da minha mente. Mais duas batidas na porta e então olho no olho mágico. O corredor está escuro mas consigo ver a pessoa por causa da luz da lanterna que ela está segurando. Ufa.

Abro a porta dando de cara com o síndico do prédio, que aponta a lanterna na minha cara, tapando a minha visão e me cegando por um momento.

– Aqui é a casa da Aby Handson, sim? – ele pergunta assim que sobe a luz, deixando um ponto escuro bem no meio da minha visão.

– Isso mesmo, mas ela não está em casa. Sou a amiga dela.

– Ah, claro, só estou passando em todos os apartamentos para avisar que a luz foi cortada devido à forte chuva, mas que já me comuniquei com a empresa de luz e logo voltará. Qualquer necessidade, meu apartamento é o 202, me chamo Jim – o senhor de cabelos brancos e simpático sorri para mim. Sorrio de volta e assinto, agradecendo.

Ainda com um pouco de medo, volto para o sofá e termino a minha xícara de chocolate quente em um único gole, já frio. Pego meu celular e envio uma mensagem para Aby, avisando sobre a luz, mas acho muito difícil que ela veja agora.

NEIGHBORSOnde histórias criam vida. Descubra agora