Capítulo 25

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T h o m á z

- Mais uma, por favor – digo para o barman. Ele assente e se vira para preparar mais uma dose de algo que eu nem faço mais ideia. A música eletrônica soa como se quisesse me deixar surdo, e as batidas já foram decoradas pelo meu cérebro, refletindo nos meus dedos que não param quietos na minha coxa. Eu estava cansado, essa era a verdade. Eu tinha comprado a casa em frente a praia, mas não me ocorreu que seria a porra de um problema. O fato era que junto com a casa, também vieram algumas coisas enferrujadas na varanda, nas janelas e nas portas. O cara que me vendeu a casa disse que não morava ali já fazia um tempo, e que resolveu vende-la há poucos meses. O problema era que enquanto ele não usava a casa, a maresia fodeu com algumas partes da casa, e sobrou para mim, consertar todos esses ‘’pequenos problemas’’.

Fora isso, eu acabei arrumando outras partes que precisavam de ajustes. E o resultado disso tudo, foram uns calos nas mãos, dor nas costas, e uma sensação de areia nos olhos o tempo todo, por furar paredes e sair poeira. Então, estar nesse bar em plena quinta feira, era mais do que merecido para mim. O garçom volta com um copo com líquido meio âmbar, e eu não perco tempo em virar tudo de uma vez.

- Porra, cara, isso aí é difícil de fazer e você bebe tudo de uma vez? Se eu não precisasse do emprego, mandava você ir embora e não fazia outro – o barman que me serviu a bebida diz, em tom aborrecido. Rio da sua expressão, quanto limpa com um pano, a bancada.

- Foi mal, cara. Eu estava precisando da sensação rápida.

Ele olha para mim e cerra os olhos.

- Um cara bonito, parece ser americano, talvez do Alabama, em um bar, com regata, – ele se esgueira mais para a frente e olha para as minhas pernas – e calça jeans? Só pode ser problemas com alguma garota.

Arregalo os olhos.

- E o que tudo isso que você acabou de dizer pode estar ligado comigo tendo problemas com uma garota?

Ele dá de ombros, e continua limpando o balcão.

- Experiência. Eu já vi vários caras com o mesmo estereótipo que o seu, que depois de umas doses fortes, confessa tudo para mim. Por que você seria diferente?

Levanto os braços, indignado.

- E eu não poderia ter um problema como ter sido assaltado, e estar aqui afogando as minhas mágoas?

Ele revira os olhos.

- Não.

- E por que não?

- Você acha que eu sou idiota ou o que, amigo? Pra entrar nesse bar, tem que pagar o cantor da noite, que vai tocar daqui à pouco, então caso fosse o contrário e você tivesse sido assaltado, você nem estaria aqui enchendo o meu saco.

- Bom, então eu acho que você que está com problemas.

Ele para de limpar e se inclina no balcão, me olhando.

- Todos nós temos problemas, alguns só são mais transparentes que outros e demonstram mais, já outros, podem enterrar tão bem, que engana qualquer um.

Fico calado, absorvendo o fato de que o que ele acabou de dizer realmente é verdade, mas apenas abaixo o olhar para o copo, passando o polegar pela borda.

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