Capítulo 1

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Foi tudo como câmera lenta perante seus olhos. Vincent olhou aterrorizado para Marvin, seu melhor amigo. Descontrolado com um revólver nas mãos, ele e Lewis atiravam em todos dentro do escritório do Governador, incluindo a segurança, o próprio governador e em boa parte de sua gangue. Enquanto três de seus comparsas fugiam com todos os projetos de milhões que estavam roubando, junto com a conta bancária do Governador, os outros dez recebiam tiros no peito dos últimos dois integrantes da gangue.

Vincent nunca vira algo tão obscuro nos olhos de seu melhor amigo. Marvin sempre fora um fora da lei medíocre, apesar de ser o chefe da quadrilha. E agora ele apontava um revólver em sua direção, não havia medo em seus olhos, ou receio, ou arrependimento, ele apenas ria, prestes a atirar em Vincent.

Por mais que tentasse, suas palavras não fariam efeito algum. O sorriso maléfico de Marvin o assustava ainda mais. Sabia que, se não saísse dali morto, iria para a cadeia, pois as sirenes já soavam perto.

Se estivesse armado, Vincent nunca teria levado aquela bala de titânio no peito, mas naquela manhã foram estipulados os cinco que estariam armados. Se eles soubessem que esses cinco planejavam fugir com o lucro, Marvin e Lewis teriam morrido em suas mãos.

Um último tiro soou da pequena arma no punho de Marvin, e então Vincent caiu desacordado na poça de sangue de seus comparsas.

Antes de perder a consciência, as memórias de Vincent vieram à tona.

Marvin tinha motivos para atirar em seu melhor amigo além da ambição? Ele tinha motivos para matá-los?

Todos sempre confiaram em seu líder e eram amigos acima de tudo. Ele já havia protegido a maioria deles, contra outras gangues, contra a polícia... Marvin só se importava com o bem-estar de seus companheiros.

Nada fazia sentido na cabeça de Vincent.

Naquela manhã, eles já estavam todos preparados. Marvin era amigo do Governador Levi. Levi marcara uma reunião para o apresentar um cargo da alta, mas nada com que se contentasse. Sabia dos projetos que estavam para ser revelados e tinha que pegá-los. Assim que soube desses projetos, quis tudo em suas mãos.

— E toda essa fortuna será nossa. - Ele disse para seus comparsas.

Talvez a ideia de compartilhar uma fortuna tão suculenta com mais quatorze pessoas fora o que o fizera trair quem mais lhe confiava.

Marvin ordenou que apenas metade do grupo estivesse mascarado no momento do assalto. Por mais confuso que se fizesse aos outros, ele sabia que se a polícia chegasse a tempo ele não seria um acusado, era amigo do governador, não estava encapuzado e sua arma fora autorizada pela segurança. Seu plano desde o início fora de trair os outros. Quando deu o sinal para atacarem, poucos eram os que não usavam máscara, Vincent era um deles. Marvin não queria parecer suspeito, antes que desconfiassem de Peter, Logan e Harold fugindo com os projetos, o resto de sua gangue já ensopava de sangue o carpete cinza de fios indianos. Restou uma bala no pequeno revólver. Vincent ainda estava de pé, encarando horrorizado aquela cena. Marvin não pensou duas vezes antes de atirar. Correndo pela saída de emergência com Lewis por fim. Se a polícia os pegassem, ele tinha uma desculpa. Tinha uma bela reputação dentro da alta cúpula, diria que atirou em autodefesa e conseguiu fugir pensando na possibilidade de ter mais algum atirador lá dentro.

Comemorando a fortuna em suas mãos, a morte do Governador e o fim da sua vida como vigarista – apesar de continuar sendo um, vigarista e corrupto –, fugiram sem rastros para uma casa alugada.

Vincent abriu os olhos, puxando uma quantidade considerável de ar, como se alcançasse a superfície após um longo tempo debaixo d'água. A enfermeira ao seu lado o acalmou. Estava num quarto de hospital. Seus olhos doíam com a claridade do lugar. Demorou alguns segundos para conseguir enxergar normalmente.

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora