Capítulo 21

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Com o carro novinho em folha, Ian deixou Angelina na casa do avô para o fim de semana, seguindo atrasado para a boate.

— Já é seu terceiro atraso, Ian. Cadê aquele cara que chegava adiantado? - Anne o reprovou com um olhar pesado. Ela não queria uma resposta, só estava alertando o menino.

— Eu sei. Fui levar minha filha na casa do avô e estava trânsito. Desculpe-me, Anne. Não vai se repetir.

— Não é para mim que deve pedir desculpas, é para o cara lá de cima.

— Deus?

— Gerard. Ele quem lhe deu esse emprego.

— Está tudo bem. - Gerard apareceu descendo as escadas. - Que isso realmente não se repita. Por enquanto estamos calmos, mas, se você tivesse chegado na hora do pico, nos traria prejuízo.

Ele assentiu já colocando seu avental de cabeça baixa. Ian era meigo, pelo menos era essa a imagem que ele deixava transparecer na boate. Para que suas cicatrizes e seu tamanho todo não assustasse as pessoas. E sucedia, todos gostavam da companhia do moço.

A noite foi adentrando e o lugar começou a lotar. Uma cerveja aqui, um drinque ali, como todos os dias. Mas, entre todos que tumultuavam a pista de dança, Ian vislumbrou um rosto familiar. Entre os intervalos de pedidos ele o procurava, esperando que aquele rosto lhe voltasse à mente. E não demorou muito até recordar do aniversário da filha, da Doutora chegando com um rapaz. Era o rapaz, Ryan, se não lhe falhava a memória. Então ela deveria estar por lá também para lhe encher o saco mais um pouco. Ele riu em deboche, mas quando o viu beijar uma loira, ficou boquiaberto. "Conquistador barato.". Alana já fizera tanto por Ian, ele não poderia deixar isso de lado, não quando ele estava a traindo na cara dura.

— Isso não vai ficar assim. - Encarou-o emburrado, balbuciando para si mesmo. Só não saiu de trás do balcão e deu um soco bem-merecido no nariz do rapaz porque perderia o emprego. Aproximou-se de Gerard e o cutucou. - Podemos nos recusar servir algum cliente?

— Você precisa de um motivo muito bom para isso. - Sorriu incomodado.

Felizmente, Ryan nem se aproximou de seu balcão. Mesmo assim, ele não seria capaz de recusar servi-lo, o emprego era mais importante do que uma cisma com o futuro ex-namorado da Doutora Azucrinante.

Esperou a boate fechar e, como Ryan claramente já havia ido embora, dirigiu-se para a casa de Alana para dedurá-lo.

Tocou a campainha algumas vezes enquanto fumava um cigarro, entretanto, nem sinal da moça. Bem como da primeira vez. Pegou em seu carro um par de ferramentas e arrombou o portão com cuidado para não estragar a fechadura. O ferrolho da porta foi fácil de abrir. Entrou e fechou a porta. Acendeu a luz no interruptor ao lado da porta.

— Alana? - Chamou num tom quase sussurrado, ainda assim o baixo eco cantou pelos pequenos corredores.

Bateu três vezes com os nós dos dedos na porta aberta, mas, por alguns minutos, não houve som algum. Até que, sem querer, deixou cair do encosto do sofá o que parecia ser um pote de sorvete vazio, que saiu quicando pelo chão até o meio do corredor. "Bem, se isso não a acordou...". Segundos depois passos suaves soaram na direção da escada. Ele esperou que ela aparecesse e suspirou aliviado.

— Ian? Que merda você está fazendo aqui? Você arrombou minha casa de novo? - A Doutora ainda esfregava os olhos de sono e ajeitava o cabelo bagunçado.

— Relaxa. Toquei a campainha e ninguém atendeu, então entrei para ver se estava tudo bem. - Jogou as mãos para trás.

— Eu não atendi porque são seis da manhã. - Ela estava nervosa ou com sono. Ou os dois. Provavelmente os dois. - Como vou relaxar com alguém arrombando minha casa? Depois não diga que não tenho provas de que você seja um assassino. O que aconteceu? Está machucado de novo? Quem errou o tiro dessa vez?

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora