Capítulo 23

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A campainha tocou. No caminho até a porta, Alana escorregou um par de vezes e bateu o mindinho no pé do sofá. Abriu a porta ainda resmungando de dor e fitou Ian carregando duas sacolas que aparentavam estar bem pesadas. Revirou os olhos e ignorou o sorriso do rapaz.

— Cansou de arrombar?

— Eu nem encostei em você.

— A porta, imbecil.

— Ah, achei que estivesse falando do seu coração. - Entrou sem ser convidado e caminhou procurando pela cozinha.

— Entre. Sinta-se em casa. - Ironizou.

Ian observou a casa, o chão estava molhado, com algumas poças aqui, outras ali, algumas gotas na parede... Ele encontrou a geladeira, esvaziou as sacolas e colocou algumas cervejas no refrigerador. Esvaziou a outra sacola e esquentou um prato pronto no micro-ondas. Ouviu a porta batendo e os passos apressados da Doutora vindo em sua direção. Seu cabelo estava bagunçado, mas ainda apresentável, seus olhos vermelhos carregavam olheiras suaves e seu nariz estava corado como se estivesse chorando por horas.

— O que está fazendo?

— Esquentando uma comida gostosa para você.

— Não precisa me tratar como uma criança. Dispenso a atitude.

— Quanto tempo faz desde sua última refeição?

Ela fez as contas mentalmente e, em vez de responder, desviou o olhar, admitindo estar errada. O cheiro estava realmente muito bom, mas sua língua estava rígida com a sensação de ter acabado com uma pratada de espaguete há poucos minutos.

— Você vai comer pelo menos um pouco, ok?

Ela novamente não respondeu, deixou os ombros caírem e pressionou os lábios tentando não chorar. Ian notou seus olhos lacrimejantes e segurou um riso. Resmungou alguma coisa que ela não pôde entender e a abraçou da mesma forma que abraçava Angelina quando a pequena chorava.

— Não fique assim, Laninha. Isso não é a sua mente. É a droga que ainda está no seu corpo. Você vai encontrar todos os motivos do mundo para ficar triste, mas vai ver que isso não é você quando voltar ao normal.

O micro-ondas apitou. Ian retirou o prato e o repousou sobre a mesa. Ficou a encarando com olhinhos de gato, implorando para que ela comesse. Até que ela cedeu e começou a comer. Ele então caçou por um pano na lavanderia e começou a enxugar as poças espalhadas pela casa.

— O que você fez aqui afinal? Por que está tudo molhado?

— Pingou. - Respondeu a Doutora.

— Pingou? De onde?

— Eu tomei banho e esqueci de me enxugar.

O tom de voz de Alana era quase de se sentir pena.

— Você dormiu, pelo menos?

— Eu tentei. Acho que cochilei algumas vezes.

Depois de terminar a comida, com um pouco menos da metade ainda no prato, Alana lavou a pequena quantidade de louça que restava na pia enquanto Ian terminava de enxugar a casa.

— Por que você está aqui? - Ela perguntou quando ambos descansavam no sofá.

— Sinto que é minha obrigação... cuidar de você. Primeiro porque é tudo culpa minha você estar assim, apesar de ser um tanto quanto engraçado. Segundo que lhe devo essa depois de tanto me ajudar e jogar na minha cara que me ajudou.

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora