Capítulo 39

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Ian piscou, não sabia onde estava momentos atrás, ou se sequer estava em algum lugar, se não esteve vagando no infinito por um bom tempo, mas, naquele instante, abriu os olhos e só viu branco. Uma claridade imensa. Não era uma sala, não havia cantos, não havia teto, não era uma rua, não era um lugar, não haviam pessoas, era uma luz infinita, o branco e ele mesmo, que nem sombra emitia. Talvez fosse ele mesmo emitindo a luz, mas não achou que seria capaz de tal coisa, uma alma tão judiada não possui essa luz. Conforme seus olhos foram se acostumando com a claridade, Ian começou a ver aos poucos o lugar, tudo ainda era branco, mas ele via paredes, portas, tetos, lâmpadas. Era um hospital? Porque estava em um hospital? O chão era tão limpo que conseguia ver seu reflexo, e lá estava ele, parado de pé naquele corredor que parecia nunca terminar, com a mão apertada, suando ao segurar algo que não conseguia olhar para ver o que era, tentava virar o rosto, mas não conseguia, só conseguia olhar para o ponto infinito do corredor. Algo se aproximava, estava tão distante, porém notou ser uma pessoa. Queria abrir a mão, queria ver o que segurava, aquilo não o deixava se mover e ele queria explorar o lugar, queria olhar para outros cantos, mas parecia ser tão frágil que achou melhor não soltar por enquanto. A pessoa foi se aproximando. Era uma mulher, de cabelos presos em um coque coberto com um quepe de enfermeira, um jaleco branco por cima das roupas azul-claro e empurrava uma cadeira de rodas que mal parecia uma cadeira de rodas, o assento estofado e as rodas brilhantes deixaram Ian boquiaberto.

— Venha. - Chamou a Enfermeira, quando já tinha se aproximado o suficiente para ele enxergar seu rosto sem forçar a vista, mas ainda distante. - Você vai ser feliz. Sente aqui. - A bondade e a simpatia em sua voz eram contagiantes, mas Ian não sentia essa alegria, Ian sentia uma dor no peito, não queria ir.

— Não posso. Tem gente me esperando. - Ele tentou olhar em volta, mas não conseguiu, o único caminho que enxergava era para frente. - Preciso voltar. - Queria voltar para Angelina e para Alana, queria saber se ela tinha conseguido salvar seu pai e Lewis.

— Eles vão chorar um pouco, mas vão acabar se acostumando. - Insistiu a Enfermeira.

Aquele branco não transmitia a paz que normalmente todos sentiam, aquilo o fazia se sentir mal, como se alguém estivesse lhe sufocando. Sentiu o cheiro de canela vindo da moça, mas não era o cheiro bom de canela com que se acostumara, era a ardência, uma sensação sufocante, que queimava sua garganta e o corroía por dentro.

— Isso vai parar se você vier comigo. Você vai se sentir bem. - Ela esticou-lhe a mão.

Ian deu dois passos em sua direção. Queria que aquela dor no peito parasse, queria poder se mover de acordo com suas vontades. Mas antes de completar o terceiro passo viu alguém correndo em direção a ele no corredor. Paralisou. A pessoa nunca conseguia se aproximar, sempre correndo e sempre distante, como se o corredor se esticasse sozinho. Ele olhou para a pessoa e identificou, congelando até mesmo as partes mais quentes de seu corpo.

— Keira? - Sussurrou perplexo para si mesmo.

— Ian, não venha. - Ela gritou fazendo sinal de não com os braços e a cabeça. - Não venha, está me ouvindo?

Ele queria correr para abraçá-la, queria beijá-la, queria matar a saudade, queria sentir que era real, mas ela não queria que ele desse sequer mais um passo. Suas lágrimas caíram descontroladas. Sua mão quase se abria para correr livre ao encontro da amada.

— Não solte, volte. - Ela disse, depois de muito insistir que ele não fosse com a Enfermeira. Ele voltou os dois passos para trás e a encarou.

— Eu amo você. - Disse, incerto de que ela ouviria.

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora