Ian abriu a porta dois minutos antes de a filha despertar para a escola. Fez questão de levá-la, fazia algum tempo que essa era uma função da babá. Explicou para a menina que ela passaria um tempo com a Doutora, que era sua amiga. Em vez de ficar triste por passar alguns dias longe do pai, como pensou que seria, Angelina ficou alegre e, não comentou, mas pensou que passar um tempo só entre meninas seria incrível, já que o pai não era muito delicado para certas coisas. Após deixar a menina na escola, conversou com Jaque. Disse que ela iria junto com a filha e faria o mesmo trabalho na casa de Alana, mesmo que a Doutora negasse, e receberia o dobro. Jaque arrumou suas poucas coisas e foi.
Ian deitou a cabeça no travesseiro, só foi pegar no sono às 08h30. E eram 17h quando acordou desesperado para tomar banho e se arrumar para o trabalho. Vestiu-se às pressas, enfiou a carteira no bolso e checou a caixa de correio como todos os dias. Contas, contas, contas, propaganda, propaganda, contas e uma carta. Uma carta? O nome estranho escrito a mão com uma bela caligrafia no envelope não lhe era nada familiar, o abriu e retirou um papel fino prateado, desdobrando-o para ler.
"Isabela Chevalier
O Restaurante Fleurdelisé tem a honra de convidá-lo(a) para o Baile-Jantar em comemoração aos 30 anos de sua fundação. Música boa e vinho bom, tudo por conta da casa.
Dia 03/09 (sábado), às 20h. Traje esporte fino."
Antes de concretizar seu pensamento, achando ter sido entregue por engano, sentiu que havia mais alguma coisa dentro do envelope. Retirou um pequeno bilhete e mais um pequeno convite individual que comprava sua passagem para dentro do restaurante.
"Vem comigo, Ian?"
Virou o bilhete e nada, era só isso que dizia. Como essa tal Isabela lhe conhecia? Será que isso era um truque para ser capturado? Não podia negar, era um belo convite, mas tudo soou muito abstrato e aleatório. Riu irônico e o largou em qualquer lugar. De qualquer maneira, sábado, às 20h, trabalharia.
Seguiu para a boate, mas não parou de pensar. Tinha certeza que era algum plano de algum de seus futuros alvos. Precisava pesquisar mais sobre ambos, suas contas bancárias e a tal Isabela.
Mas quem era Ian para negar um encontro, que, de tão alta adrenalina, arriscaria a própria vida? "É para isso que vivemos.". E ele queria ver quem estava por trás disso, queria ver o que a pessoa teria coragem de fazer antes que ele se sobrepusesse. Queria um pouco mais de ação, para tirar seus pensamentos do que estava prestes a sofrer com o pai, tirar seus pensamentos de Alana.
E se tudo fosse uma brincadeira, pelo menos teria um jantar chique de graça.
Sim, ele iria. Pediu a Gerard sábado de folga para "cuidar da saúde da filha" e o dia lhe foi cedido.
❅
— Ela está bem, Ian. Não precisa ligar a todo o momento.
— Não estou ligando a todo o momento. Só estou preocupado. Enfim, vou sair hoje. Se precisar, ligue no meu celular.
— Você já disse isso. Não deveria estar no trabalho?
— Tirei o dia de folga para resolver uns problemas.
— Sei. Não se meta em encrenca.
Ian desligou. Fez a barba, tomou banho, penteou o cabelo e vestiu-se de acordo com a ocasião, uma jeans leve, uma camisa azul e um blazer cinza claro; para finalizar, um mocassim e seu perfume favorito. Selou o coldre em seu tornozelo e encaixou a pistola carregada.
❅
Chegou em seu carro – finalmente consertado - na fachada sofisticada do restaurante, desceu e entregou as chaves ao manobrista. Se aproximou da recepcionista com um sorriso e entregou o convite individual.
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O Fim Do Inverno
RomanceRoubado na maternidade, Ian é treinado para matar o próprio pai em busca de vingança. Mesmo sem saber a realidade, ele acredita em seu destino e precisa completar a missão que lhe foi dada. Mal pode esperar para se livrar das torturas que é submetid...