Capítulo 29

1 1 0
                                    


Alana não conseguiu pregar os olhos. A verdade foi-lhe prometida e ela estava ansiosa para ouvi-la. Assim que chegou do hospital, tomou um banho, jantou, como todos os dias, e ficou andando de um lado para o outro, esperando que Ian tocasse a campainha. Sabia o horário do expediente do rapaz e sabia a hora que ele costumava arrombar sua casa, mas, ainda assim, não parava de olhar pela janela, na esperança de que ele chegasse logo. O que será que ele tem a dizer? Será que se contasse teria que matá-la? Era bom ter um álibi, mas desistiu de deixar o celular filmando tudo, ele não teria coragem de sacar uma arma ali e atirar, mesmo que ninguém estivesse olhando. As palmas de suas mãos estavam suando frio na expectativa. Até que o farol de um carro estacionou e se desligou em frente a sua casa. As luzes estavam apagadas, ela olhou pela janela e viu Ian descer de seu carro, encostar no capô e acender um cigarro. "Sério? Precisa enrolar tanto? Ele só pode estar de brincadeira.". Já Ian não se incomodou em desestressar um pouco antes de compartilhar algo de extrema importância com uma louca. Finalizou seu cigarro tranquilamente no sereno forte que gelava seus lábios e, antes que alcançasse a campainha, Alana abriu a porta, anunciando que tinha o visto e o deixando entrar.

— Me lembre, por que estou fazendo isso mesmo? - Perguntou, se sentando e massageando as têmporas.

— Porque é o certo a se fazer e...

— Não perguntei a você. - Mas ele mesmo não queria responder.

Ouviram uma chuva começar a engrossar do lado de fora. Alana revirou os olhos para a grosseria do rapaz e ficou de pé, de braços cruzados, assistindo o nervosismo dele.

— Você vai me entregar à polícia. - Esfregou o rosto tentando se livrar da aflição.

— Ian, estou confiando em você. Não vai ser por você me contar algo que já sei que vou lhe entregar. Aliás, se veio apenas para confirmar as minhas certezas...

Ele fez um sinal para ela parar de falar, já era ruim o suficiente ter que lidar com as vozes de seu pai em sua mente, agora a voz da Doutora também, era demais.

— Eu descobri que... - Era difícil de falar, mesmo que ela já estivesse ciente. - O seu pai está sim na minha lista...

Alana não deixou transparecer, mas seu coração pulara de nervosismo. Já tinha cem por cento de certeza, mas ouvir da boca dele era o que faltava para o medo se concretizar.

— Mas eu já disse que não vou matá-lo.

E ela acreditava.

— Ian...

— Meu pai vai me matar quando souber que não vou matá-lo, porque não faço tudo isso porque quero, é um tipo de justiça obrigatória que ele impôs para mim, desde que me conheço por gente. E, para a minha alegria, sinto que já estou sendo observado. Não por ele, mas pelos homens dos meus próximos alvos, eles provavelmente descobriram quem sou e tenho medo do que possam fazer. Não comigo, sei me virar, mas, se sabem quem sou, sabem também sobre Angelina. E, Lana, não posso deixar que nada aconteça a ela. - Levantou a cabeça a olhando nos olhos. - Ela é o que me move, o que me mantém vivo.

A dor pesou em seu peito e Alana sentiu esse peso, engoliu seco e se sentou ao lado de Ian. Não sabia o que dizer, não sabia mais como respirar direito, não sabia como sair ou de como tirá-lo de toda essa situação. Seria mais fácil se não conhecesse a menina, mas Angelina a adorava e era recíproco.

— Antes que eles tentem me atingir a machucando... Não tenho coragem de pedir que fale para seu pai tirar seus homens da minha cola. Ele não pode saber que conhece o assassino de seus amigos e não pode saber o motivo. Eu imploro, mantenha os olhos na minha filha. Ela estará segura contigo.

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora